Catequese |
A espiritualidade do catequista
Ser catequista é uma vocação
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Durante este ano pastoral iremos dedicar alguns espaços deste jornal a refletir sobre a espiritualidade do catequista. Fazemo-lo com o intuito de proporcionar aos nossos catequistas e seus formadores momentos de encontro onde possam redescobrir a beleza da missão a que são chamados na Igreja ao serviço do anúncio da fé.

 

A primeira dimensão da identidade-espiritualidade do catequista é a vocação. Esta palavra significa, literalmente, ser chamado, convocado para uma determinada missão. Nem sempre é fácil entender a missão do catequista como uma vocação, tanto no modo de algumas pessoas a compreenderem, como na forma como são chamadas para este serviço. É comum associarmos o exercício da catequese a pessoas que mostram competências para trabalhar com crianças, adolescentes ou jovens ou a pessoas que se mostram disponíveis para tal missão. No entanto, sabemos que toda e qualquer vocação cristã nasce de um encontro com o Deus vivo, revelado em Jesus Cristo, que nos impele a ser suas testemunhas. Por força e ação do Espírito em nós, o Senhor não cessa de chamar colaboradores para trabalhar na sua vinha (cf. Mt 21,28).

Falando aos catequistas, o Papa Francisco estabelece uma relação profunda entre a beleza do anúncio e a vocação a ser catequista: «a catequese constitui uma coluna para a educação da fé, e são precisos bons catequistas! Obrigado por este serviço à Igreja e na Igreja. Embora possa às vezes ser difícil – trabalha-se tanto, empenha-se e não se vêem os resultados desejados –, mas educar na fé é maravilhoso! É talvez a melhor herança que possamos dar a alguém: a fé! Educar na fé, para que essa pessoa cresça. Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos a conhecerem e amarem cada vez mais o Senhor é uma das mais belas aventuras educativas; está-se a construir a Igreja! «Ser» catequista! Não trabalhar como catequista: isso não adianta! Trabalho como catequista, porque gosto de ensinar… Se, porém tu não és catequista, não adianta! Não serás fecundo, não serás fecunda! Catequista é uma vocação. «Ser catequista»: esta é a vocação; não trabalhar como catequista.» (Discurso aos catequistas, 27 de setembro de 2013)

 

A vocação a ser catequista brota de um chamamento de Deus que se serve de mediações muito concretas tais como pessoas, acontecimentos, contextos, etc. Muitas vezes a vocação é descoberta nos meios eclesiais onde a pessoa se pode revelar e dizer a si mesma. Atualmente, muitas das vocações ao anúncio da fé nascem da busca espiritual que as pessoas transportam, encontrando em experiências “fortes” e “marcantes” vividas em contexto eclesial o que procuram. É da observação da pessoa no meio eclesial, do seu estar com os outros e com Deus que resulta o momento do chamamento. O próprio Jesus fazia assim. Observava as pessoas, as suas buscas e os sinais que manifestavam. Foi assim com Natanael escondido debaixo da figueira (cf. Jo 1, 48) ou com Zaqueu no cimo do Sicómoro (cf. Lc 19, 4). A par da observação da pessoa no seu meio requer-se uma ponderação dos sinais de vocação – o dom e o carisma - para os quais são relevantes a paixão por evangelizar e as condições para o fazer concretamente.

O momento do chamamento por parte da Igreja instaura uma novidade radical na vida da pessoa. Os relatos de vocação na Bíblia expressam a irrupção de uma presença arrebatadora de Deus na vida da pessoa, deixando igualmente espaço à sua livre expressão. Expressão esta que manifesta, frequentemente, a sua indignidade ou incapacidade. A primeira reação da pessoa ao chamamento é, frequentemente, preenchida por hesitações, reservas, medos, etc. Por isso, chamar não significa impor, mas fazer caminho com a pessoa, ajudando-a a discernir os sinais que apontam numa determinada direção. Um dos perigos que corremos muitas vezes prende-se com o facto da aceitação do chamamento ser motivado por razões muito pouco vocacionais, seja para “fazer a vontade” alguém que é detentor de autoridade, seja por prestígio ou promoção pessoal. É relevante que no momento da criação dos “doze” apóstolos Jesus os tenha constituído em grupo (cf. Mc 3, 14). Daí que o chamamento pessoal deva sempre resultar de um exercício de discernimento comunitário.

 

A resposta ao chamamento tem sempre “custos” que devem ser ponderados, tanto do ponto de vista pessoal, como familiar e social. Todavia, a resposta afirmativa ao chamamento está radicada na graça e na força do Senhor que sustenta os que envia (cf. 2 Cor 12, 9). Quem diz “sim” ao chamamento a ser catequista é introduzido numa comunidade de caminho, cuja imersão no grupo dos catequistas deve ser feita de modo integrativo e acolhedor. À semelhança do grupo dos doze, o grupo de catequistas que recebe os que chegam de novo é uma imagem da maternidade da Igreja que acolhe e acompanha. Adquire particular relevância o papel dos catequistas mais experimentados e do próprio pároco em proporcionar as condições necessárias para que alguém possa ser introduzido no ministério da catequese. Meios não dispensáveis são a proximidade a um catequista mais experiente e a formação e crescimento espiritual que deve acompanhar o exercício da catequese.

Na origem de cada vocação há um “golpe de amor”, como lhe chamou D. José Policarpo. Também o existe na vocação a ser catequista. Uma vocação que acontece em histórias concretas de chamamento para o serviço da Igreja. Olhemos em volta a nossa comunidade. Questionemo-nos sobre os critérios que pesam na escolha dos catequistas e no modo como estes vivem a sua vocação. Certamente será bom voltar à Galileia onde fomos chamados para daí haurir a frescura de uma vida entregue ao anúncio do Evangelho.

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