Por uma Igreja sinodal |
Sínodo
“Uma comunhão que irradia”
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Depois da fase diocesana e da fase continental, estamos agora a viver a fase universal do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade. No próximo mês de outubro, mais propriamente dos dias 4 a 29, a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos estará reunida em Roma para a primeira sessão. Para esta Assembleia concorre todo o caminho percorrido até aqui, sintetizado no Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho), que temos vindo a conhecer nos últimos artigos desta secção do jornal.

 

Neste artigo vamos entrar no subtema do Sínodo: “comunhão, missão e participação”. Embora estas três prioridades sejam inseparáveis, a fim de simplificar, vamos deter-nos em cada um destes pilares do mesmo edifício. Nesta primeira parte olharemos para o pilar da comunhão: “uma comunhão que irradia” e a questão que a orienta: “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento união com Deus e da unidade do gênero humano?”

Começamos por verificar que há uma alteração no tema do sínodo. Inicialmente a ordem das palavras era “comunhão, participação e missão”. Depois deste caminho e no decorrer das assembleias continentais, chegou-se à conclusão de que a ordem deveria ser “comunhão, missão e participação”. O documento explica que a comunhão e a missão estão profundamente ligadas entre si, de facto, a “comunhão é a condição para a credibilidade da proclamação” (IL44) e, por sua vez, a missão conduz à comunhão. Ao mesmo tempo, afirma o mesmo número do documento: a “orientação para a missão é o único critério evangelicamente fundado para a organização interna da comunidade cristã”. Assim, “é numa relação dupla com a comunhão e a missão que a participação pode ser entendida e, por essa razão, ela só pode ser abordada depois das outras duas” (IL44).

Nos números seguintes (46 a 50) o documento centra-se no pilar da comunhão. Começa por dizer que esta comunhão não se trata de uma realidade meramente sociológica, mas um dom trinitário: somos criados à imagem e semelhança de Deus que é comunhão de amor. Assim, esta “comunhão que irradia” começa por ser um dom, mas também, em simultâneo, uma tarefa.

 

A comunhão é uma realidade que tem uma dimensão vertical: a comunhão com Deus; mas implica uma dimensão horizontal: a unidade de toda a humanidade. Gostava de sublinhar que não se trata apenas uma comunhão entre membros da mesma realidade eclesial, entre batizados, mas com todos. A Igreja é fermento no meio da massa, é chamada a ser sacramento de comunhão entre os homens, e por isso é chamada a aproximar-se de cada homem, e alargar o espaço da sua tenda, para que cada um possa encontrar Jesus, o Filho de Deus que nos insere na filiação Divina, fazendo de nós irmãos. Não podemos deixar de recordar a mensagem tão clara do Papa Francisco na celebração de abertura da Jornada Mundial da Juventude em que disse: “na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. (...) Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos (...). Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «entra e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. (...) Que belo é isto! Deus ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele”.

 

Na liturgia a Igreja celebra e exprime a comunhão, é o lugar onde a nutre e edifica. Afirma o documento: “é através da realidade quotidiana da ação litúrgica partilhada e, em particular, da celebração eucarística, que a Igreja experimenta a unidade radical” (IL47). Neste sentido, a Assembleia Sinodal tem de ser entendida também como uma celebração e não como uma assembleia representativa e legislativa. O Sínodo é uma celebração, não é um organismo parlamentar. Por isso, afirma do documento: “numa assembleia sinodal, Cristo torna-se presente e age, transforma a história e os eventos diários e dá o Espírito para guiar a Igreja a encontrar um consenso sobre como caminhar juntos em direção ao Reino e ajudar toda a humanidade a seguir em direção a uma unidade maior. (...) Na assembleia sinodal, aqueles que se reúnem em nome de Cristo escutam a sua Palavra, escutam-se uns aos outros, discernem em docilidade ao Espírito, proclamam o que ouviram e o reconhecem como luz para o caminho da Igreja” (IL48).

Olhar para a comunhão como uma tarefa é saber que teremos de aprender a caminhar em conjunto, saber viver a unidade na diversidade; onde a tensão não tem de ser vista como algo negativo, mas como algo que nos desinstala e nos faz estar permanentemente a caminho. O documento deixa algumas questões interpelantes: “em nome do Evangelho, quais os laços que precisam de ser fortalecidos para superar trincheiras e muros, quais abrigos e proteções precisam de ser construídos, e para proteger a quem? Quais divisões são estéreis?” (IL50). São algumas das questões que nos interpelam a ultrapassarmos os nossos limites de acolhimento, diálogo, perdão, tendo a em conta a missão universal que o Senhor confia aos seus apóstolos.

 

Por fim, ainda em relação ao tema da comunhão, o Documento de Trabalho apresenta cinco fichas que vão orientar os vários trabalhos de grupo durante a Assembleia. A primeira ficha vai aprofundar os temas da caridade, da justiça e do cuidado da casa comum; a segunda ficha aborda a questão do acolhimento e da síntese necessária entre a caridade e a verdade; a terceira e a quarta convidam a refletir e partilhar sobre a relação entre igrejas locais, com as igrejas católicas orientais e o caminho a percorrer para um renovado empenho ecuménico. Por fim, a quinta ficha convida a refletir sobre como desenvolver o diálogo entre o evangelho e a riqueza das culturas.

A experiência de preparação, organização e realização da Jornada Mundial da Juventude foi uma bela concretização desta comunhão que irradia e se torna missionária; onde tantos, mesmo os mais improváveis, se sentiram chamados e envolvidos a participar nesta missão. Que o Pentecostes que aqui se viveu nos envie a ser uma Igreja mais sinodal, a acertar o passo com Jesus e a caminhar com todos o caminho da nova evangelização.

Cón. Rui Pedro Carvalho, coordenador diocesano do Sínodo dos Bispos
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