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A luta de um sacerdote para resgatar as raparigas cristãs raptadas
Não baixar os braços
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O rapto de jovens raparigas e mulheres cristãs no Paquistão é um drama que parece não ter fim. A Fundação AIS tem uma exposição sobre este tema em Évora e o Pe. Emmanuel Yousaf, director da Comissão Católica Justiça e Paz, garante que este é um problema que se tem vindo a agravar de dia para dia, mas a Igreja promete não baixar os braços…

 

No Paquistão, as minorias religiosas estão seriamente desprotegidas e isso comprova-se com o problema, muito sério e delicado, dos raptos de jovens raparigas cristãs e hindus, duas das principais minorias religiosas do país. A Fundação AIS tem uma exposição sobre este tema em Évora, na Igreja de Santa Clara, que foi inaugurada na semana passada pelo Arcebispo de Lahore. Na ocasião, D. Sebastian Shaw disse, a propósito desta realidade, “deste grande problema”, que “é muito perigoso ser cristão no Paquistão” nos dias de hoje. São muitas as vozes da Igreja que alertam para esta situação. O Pe. Emmanuel Yousaf, responsável pela Comissão Católica Justiça e Paz do Paquistão, tem sido uma dessas vozes e, em declarações à Fundação AIS, garante que a pressão sobre os Cristãos se faz sentir essencialmente por parte de elementos mais radicais da comunidade muçulmana nas províncias de Sindh e do Punjab. O problema tem uma gravidade acrescida pelo facto de existirem leis que não são respeitadas e que deveriam proteger dos casamentos forçados as jovens menores de idade.  “A pressão vem da sociedade paquistanesa e do lado muçulmano. Eles exercem pressão sobre as famílias e as raparigas”, explica o sacerdote que se tem notabilizado na denúncia destas situações. Sempre que uma mulher ou rapariga cai nas malhas destes radicais islâmicos e é raptada, só consegue verdadeiramente libertar-se após uma decisão na justiça. Mas isso é outro problema, pois exige tempo e, acima de tudo, dinheiro. “Até os advogados têm medo de lidar com esses casos, e o mesmo acontece com os juízes”, explica ainda o Pe. Yousaf.

 

Silêncio dos inocentes

Os muçulmanos radicais são, na verdade, uma pequena minoria no Paquistão, mas têm muita influência. “Tenho muitos amigos muçulmanos, mas eles são a maioria silenciosa, esse é o problema”, diz o sacerdote à Fundação AIS, sublinhando que o problema não se restringe aos raptos das raparigas e jovens mulheres das minorias religiosas, mas também incide nas acusações de blasfémia. Qualquer difamação do Islão ou do Profeta Maomé é visto como uma ofensa punível até com a pena de morte e muitas vezes têm sucedidos falsas acusações como ajuste de contas ou conflitos de terras. Sempre que o alvo da acusação é um cristão, diz o Pe. Yousaf, é comum os muçulmanos que vivem na região atacarem a sua comunidade. “Eles vêm e saqueiam as casas e põem fogo à igreja”, diz. O problema, acrescenta o sacerdote, não está na lei em si, mas “no abuso” que se tem vindo a fazer desta legislação. É difícil saber-se o número exacto dos raptos de raparigas e de conversões forçadas no Paquistão. Muitos destes casos nunca são conhecidos, e o medo e o estigma que envolvem estas situações ajudam a compreender o silêncio das famílias. No entanto, segundo um relatório apresentado no Verão do ano passado ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, houve pelo menos 78 casos documentados de rapto, conversão forçada ao Islão e casamento forçado de jovens mulheres no Paquistão no ano de 2021.

 

Pequenos milagres

Tanto a questão do rapto de raparigas e mulheres cristãs como a utilização abusiva da lei da blasfémia são duas situações que ajudam a explicar a enorme pressão que se faz sentir sobre a pequena comunidade cristã no Paquistão, que não ultrapassa os 2% da população. Questões aparentemente simples, como a emissão de um visto para viajar, acabam por ser sinónimo também de preconceito. O Pe. Emmanuel Yousaf fala igualmente disso. “Muitos aqui pensam que podemos obter um visto para viajar para o estrangeiro em pouco tempo, mas isso não é verdade.” Tudo isto faz parte do retrato do Paquistão como país onde ainda há muito a fazer no que diz respeito à liberdade religiosa e ajuda a perceber também a importância da ajuda à Igreja de instituições como a Fundação AIS. O trabalho estreito entre a fundação pontifícia e a Comissão Justiça e Paz do Paquistão tem permitido, por exemplo, custear as despesas judiciais das famílias cujas raparigas foram raptadas ou lançar projectos educativos sobre a temática dos direitos humanos. “Estou grato à Fundação AIS. Tem sido um grande apoio para nós, pois quando temos de ir a tribunal é tudo muito dispendioso. Mas vamos continuar a lutar por estas pobres raparigas”, disse o Pe. Yousaf, acrescentando que, apesar das limitações dos meios, das dificuldades na defesa dos Cristãos, “pequenos milagres” continuam a acontecer… Algumas das histórias destas mulheres e jovens estão agora presentes em Évora, na Igreja de Santa Clara. Todas elas pedem justiça. Pedem, pelo menos, para que os seus apelos não sejam ignorados. Isso, pelo menos isso, está nas nossas mãos…

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