Fugiram da guerra, mas a violência persegue-os. A violência da fome e da miséria. No Vale dos Cristãos vivem milhares de pessoas. Com o país a colapsar, com os preços dos bens essenciais a subirem para valores proibitivos, algumas famílias estão já na indigência. Uma das famílias perdeu mesmo a vergonha e abriu-nos a porta de sua casa. Por lá vive o casal com três filhos, todos pequenos ainda. Por lá, tudo é sinal de miséria, mas o que impressiona mais é o frigorífico praticamente vazio.

A meio caminho entre Tartus e Homs, fica o Vale dos Cristãos. Foi um dos primeiros refúgios para os que fugiam da guerra. Primeiro, pensavam, seria apenas por uns tempos, mas depois, com o conflito a eternizar-se ao longo de uma década, passou a ser quase o lar definitivo para muitas famílias. Quase todas estas pessoas têm em comum o estigma da pobreza e o facto de serem deslocados internos. Não são estrangeiros, mas quase, pois estão longe de casa. Quase todas estas pessoas dependem também de ajuda para sobreviver no dia-a-dia. Com o empobrecimento acelerado do país nos últimos anos, em virtude do aperto causado pelas sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad, todas estas centenas de famílias foram ficando desesperadamente ainda mais pobres. A Igreja lançou alguns projectos para apoiar os que se encontram em situação mais difícil. Não é fácil. No Vale dos Cristãos há quem desespere, quase na miséria, mas há também quem não desista, verdadeiros heróis, voluntários, que tentam secar as lágrimas aos que não conseguem sequer dar pão aos seus filhos todos os dias.

Uma casa despida

É o caso de Hassan e da sua família. Vamos chamar-lhe Hassan e Maryam à sua mulher, por uma questão de privacidade. Eles moram num prédio inacabado, com as paredes com os tijolos à vista e o chão ainda coberto de cimento. Quando Maryam varre a casa levanta-se sempre uma nuvem de pó, quase como se estivesse na rua. Hassan e Maryam perderam a vergonha e abriram-nos a porta de casa. Têm três filhos, dois rapazes e uma rapariga. Todos ainda muito pequenos. A casa está quase despida de móveis. Há um sofá na sala, uma cadeira encostada à parede, uma cama e um frigorífico que está praticamente vazio. Não estão na rua, mas são quase sem-abrigo. A história desta família é um exemplo da tragédia em que se encontram milhares de sírios. “A nossa situação é desesperante”, diz Hassan. “Tive um ferimento na perna durante a guerra e fui operado. Como tive de ficar internado durante um mês, fui despedido do trabalho. Neste momento não temos comida, apenas pão, e está a ser difícil. A Igreja Católica é a principal cuidadora da nossa família”, acrescenta. Mesmo que não dissesse nada, o vazio da casa, o desamparo do seu olhar triste, bastariam para denunciar a tragédia em que se encontram. Quando Hassan e Maryam falam sobre o apoio da Igreja estão a referir-se a pessoas como Wassim Farkouh, um voluntário que tenta, com pouco, minorar o sofrimento de muitos. 

O Amor de Deus

Também a história dele precisa de ser contada. A família geria um negócio e tudo corria bem quando começou a guerra em 2011. A violência dos combates levou-os a procurar refúgio também no Vale dos Cristãos. “Fugimos à procura de refúgio, como muitos outros cristãos na Síria. Devido à actual crise, todos empobreceram. Já não há rendimentos aqui e as famílias precisam de alimentos, de medicamentos e de um tecto”, explica. Wassim Farkouh decidiu que precisava de fazer alguma coisa. Com a ajuda da Fundação AIS, começou a distribuir alimentos e produtos de higiene num centro que fundou com amigos. Com o passar do tempo, essa ajuda foi-se ampliando para outras áreas, desde o ensino aos cuidados médicos. Mas faltava ainda fazer a diferença. E Wassim Farkouh e os amigos lançaram-se então num desafio quase impossível, mas que tem resultado graças também à solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS. “Com aproximadamente 15 euros por mês, uma família consegue ter um tecto, alimentar os filhos ou ter as suas necessidades asseguradas”, garante. É uma ajuda pequena, mas que ali, no Vale dos Cristãos, faz toda a diferença. Hassan e Maryam são um dos casais para quem este projecto foi pensado. Ele e a sua mulher são pessoas de fé e todos os dias sentem que essa mesma fé é posta à prova. Neste Natal, dar esperança a esta família cristã custa apenas 15 euros. Quinze euros por mês é tudo o que precisam para que o frigorífico deixe de estar vazio. Vamos aceitar este desafio? Vale a pena pensar nisto...

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A campanha de Natal da Fundação AIS também apoia as famílias que estão em situação mais desesperada no Vale dos Cristãos, na Síria.