Entrevistas |
Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa
“Os cristãos têm a obrigação de exercer a sua escolha com responsabilidade”
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A poucos dias das eleições legislativas, a 30 de janeiro, a reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Isabel Capeloa Gil, analisa o contexto político atual e defende a participação dos cristãos nas eleições. Votar é “exercer com responsabilidade um direito que também é um dever”, frisa. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, a reitora da UCP defende para a educação, em Portugal, um entendimento “mais vocacionado para o desenvolvimento da autonomia do aluno”. “Os jovens não podem ser o campo de batalha de opções ideológicas”, sublinha.

 

Estamos a poucos dias das eleições legislativas, num contexto muito particular da história mundial e com desafios que nos são apresentados diariamente. A partir da sua perceção, como é que os portugueses estão a encarar estas eleições?

Há um interesse evidente nestas eleições, justamente porque há alguma possibilidade de qualquer um dos partidos mais votados vir a ser Governo. Ao mesmo tempo, a emergência de novos partidos trouxe novos temas ao debate e contribui para diluir a forma como os blocos tradicionais (direita e esquerda) se posicionam face a eles. Por exemplo, a questão ambiental ou a defesa dos animais, deixam de ser matéria determinada pelos blocos ideológicos tradicionais.

 

Escrevia, em junho de 2021, num artigo de opinião acerca da participação dos católicos na vida pública, que “não há projeto político mais radical do que o Evangelho”. Se estivessem esses valores mais presentes, teríamos, da parte da opinião pública, uma perceção mais saudável acerca da missão dos políticos?

A política é na verdade um exercício de serviço à sociedade, com propostas específicas de gestão da coisa pública orientadas para o bem comum. Perante este ideal, o Evangelho apresenta uma proposta absolutamente radical de comunalidade, inclusão, respeito pela dignidade humana, respeito pela natureza, valores que consideramos universais e estruturando um modelo de sociedade coesa, eticamente íntegra e próspera. O problema é que a política é feita por homens e mulheres com defeitos e em determinados ciclos, esses defeitos pervertem aquilo que deve orientar a ação do político. Não devemos, apesar de tudo, tomar estas partes corruptas pelo todo. Os políticos não são todos iguais e é nossa responsabilidade como cidadãos saber discernir e fazer a escolha certa.

 

Na sua opinião, porque é que um católico deve ir votar?

A catolicidade manifesta-se também na forma de se exercer a cidadania. Os cristãos são interpelados a intervir na vivência histórica, social, política e cultural e têm a obrigação de exercer a sua escolha com responsabilidade. Votar é o exercício base da democracia e constitui não só uma responsabilidade cívica, mas também de consciência, exercer com responsabilidade um direito que também é um dever.

 

Na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco voltou a pedir “um novo paradigma cultural”, que passe por “um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras”. O que ainda falta na educação em Portugal para atingirmos este objetivo?

É urgente um entendimento menos tecnocrático da educação e mais vocacionado para o desenvolvimento da autonomia do aluno. Com menos fórmulas e mais profundidade, proporcionando verdadeiras opções, que impliquem a comunidade, a escola e as famílias. Os jovens não podem ser o campo de batalha de opções ideológicas. Em Portugal, sobretudo nos ciclos que precedem a entrada na universidade ou a formação técnica após final da escolaridade obrigatória, é necessário transformar a estruturação do currículo e torná-lo mais transversal. Acabar com a silagem disciplinar que obriga a decisões de carreira aos 15 anos, com opções pelas humanidades ou ciências. Temos de emancipar o ensino em Portugal do discurso das ‘duas culturas’, que já é obsoleto desde os anos 60.

 

Que marca a UCP tem procurado incluir na formação dos seus alunos, que poderão ser os governantes de amanhã?

A universidade é um espaço de construção do conhecimento, de desenvolvimento pessoal e de aquisição de competências profissionais, mas igualmente um espaço de inspiração. Acreditamos não só que a marca da Católica se expressa na qualidade do ensino e da investigação, mas também na vivência diária do campus e da comunidade. Há três dimensões que atravessam de forma orgânica a nossa ação: o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico; o sentido de responsabilidade ética e a co-responsabilidade para com a sociedade e a nossa casa comum. Esta implicação, ativista, se quisermos, é muito marca da UCP, onde mais de 75% os estudantes que por aqui passam se dedicam – durante o tempo que passam na UCP ou mais tarde na sua vida profissional – a atividades de filantropia e voluntariado, da mais diversa ordem. O sentido de serviço à comunidade não é alternativa ao sucesso pessoal, pelo contrário as duas coisas estão profundamente articuladas.

 

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CEP apela à “participação democrática”

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), através do seu Conselho Permanente, apelou à “participação democrática dos cidadãos” no próximo ato eleitoral, marcado para dia 30 de janeiro. Os Bispos de Portugal apelaram ainda aos partidos políticos que “apresentem com clareza as suas propostas quanto aos grandes problemas da sociedade, sobretudo no que diz respeito à vida humana e sua salvaguarda integral, às situações de pobreza e coesão económica, às questões da justiça, à desertificação do interior do país, à situação dos imigrantes e aos problemas ambientais”.

 

Juristas Católicos pedem “clareza” nas propostas

A Associação dos Juristas Católicos veio pedir “clareza” nas propostas apresentadas pelos partidos políticos que se candidatam às próximas eleições legislativas, particularmente, naquelas que dizem respeito a “princípios éticos fundamentais” e “na linha da Doutrina Social da Igreja”, começando pela “defesa da vida humana”, a “promoção da família”, a “liberdade de ensino” e o “combate à pobreza”. Os Juristas Católicos denunciam ainda o facto de estas questões não serem abordadas na campanha eleitoral e, “por vezes, nem sequer nos programas eleitorais”.

 

CNJP pede “diálogo sério” na política

Através de comunicado, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) apelou, no primeiro dia do ano, ao debate e “diálogo sério” na política portuguesa, apontando às eleições legislativas. “O exercício do diálogo podia ser um passo importante para, nas diferenças que são próprias da democracia, se poder falar de ideias, projetos e propostas sem se pôr em causa as pessoas”, deseja o organismo laical católico. Na nota, a CNJP destaca que a política deve evitar a dependência de “interesses menos nobres”, pedindo que seja “um verdadeiro e generoso serviço capaz de garantir os elementares direitos de todos”.

 

AMCP pede “posição definida” sobre eutanásia

A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) referiu que a eutanásia é um assunto “demasiado grave” para que os partidos políticos candidatos às eleições legislativas de 30 de janeiro “não tenham uma posição definida”, pedindo clareza neste tema. “Diminuir a abstenção também passa por explicar aos portugueses que o seu voto poderá apoiar a vida, ou legitimar a morte induzida. Os portugueses não quererão passar um cheque em branco aos deputados, sem saber a sua opinião sobre assuntos de vida e de morte”, referiu a AMCP, através de um comunicado.

 

FPV pede “respeito pela vida e dignidade humanas”

A Federação Portuguesa pela Vida (FPV) apelou a que as próximas eleições legislativas sejam a “afirmação de uma cultura política de respeito pela vida e dignidade humanas”. Em comunicado, a FPV reafirma que a vida humana “é inviolável” e deve ser “reconhecida desde o momento da conceção até à morte natural”, pelo que a sua proteção “implica sempre” o “reconhecimento da dignidade humana”. A federação destaca também que a comunidade familiar é “elemento fundamental e estruturante da sociedade”, sustentando que, nos últimos anos, “têm sido postas em causa as liberdades de educação”.

 

Movimento Acção Ética pede “esclarecimento dos eleitores”

O Movimento Acção Ética (MAE) veio pedir “o mais completo esclarecimento dos eleitores sobre as questões essenciais”, particularmente os de “assinalável componente ética”. “Será indispensável que, nestas eleições, possam ser conhecidos e discutidos, sem ambiguidades, porque só o voto esclarecido é verdadeiramente livre”, defende o MAE, em comunicado, enumerando alguns assuntos “mais relevantes”, tais como os cuidados paliativos, medidas para estimular a natalidade e proteger a família e medidas para prevenir e combater a corrupção.

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