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Anúncio de uma bênção

O Anjo aproximou-se e disse: Eu te saúdo, M….

Com um gesto ela fez-lhe sinal que se calasse – “Silêncio deixe-me só terminar estas contas…” Teve um momento de silêncio, anotou os resultados e disse “Bom dia. Desculpe mas estas contas estão a dar comigo em doida. As compras para o Natal foram todas a crédito… o que vale é que só começamos a pagar em Janeiro… e a semana em Ibiza já fica paga em Março, menos mal. Posso saber ao que vem?"

“Não tenhas medo, foste abençoada por Deus. Ficarás grávida e darás à luz um filho…”

Ficou perturbada com aquelas palavras. “Um filho… as despesas: o carrinho, a cadeirinha, o parque, o berço, a banheira, o vestidor, as roupas!”

Disse-lhe o Anjo: “Não andes preocupada com o que hão-de comer ou beber, nem com a roupa de que precisam para vestir. Não será que a vida vale mais do que a comida, e o corpo, mais do que a roupa?”

Isso é bonito de dizer, mas há que ser responsável. Uma criança não é só um cabo de trabalhos, é uma despesa constante: é o médico, durante a gravidez, o pediatra depois, o infantário, os biberões e o leite em pó… sim porque não me vais dizer que as mulheres foram feitas para amamentar. Afinal em que é que confiamos mais? Num leite gratuito, que ninguém sabe de onde vem ou o que é que tem ou num leite em pó, industrial, que preparado de propósito para imitar o leite materno? E depois é o ginásio para manter a figura e as actividades, claro: Inglês, música e um desporto, claro. Já viste os gastos? Por isso agradeço a proposta, mas não podia ser antes um prémio de lotaria?”

“Riquezas, que a traça e a ferrugem destroem e que os ladrões assaltam e roubam? O que Deus te propõe é um projecto de vida, de futuro.”

“Futuro? Deficit, endividamento, crise, desemprego, insegurança e tu falas-me de futuro? E depois há o futuro do bebé. Antes de pensar em ter crianças há que pensar como é que vamos pagar a sua Universidade…”

Agora era o Anjo que parecia perturbado com estas palavras.

Para além disso não há tempo: entre trabalho e telenovelas onde é que vamos arranjar tempo para a criança? E depois é uma prisão. A minha irmã, Maria, que já tem dois filhos, sabes há quanto tempo não vai ao cinema? Nem percebo como é que ela aguenta tudo com aquele sorriso… e ainda ficou grávida outra vez… é preciso ter coragem… ou então foi acidente, de certeza. É o que dá só ter uma televisão na casa, e mesmo assim ligá-la poucas vezes… Eu bem lhe digo para pôr uma televisão no quarto dos pequenos, com uma consola. Responde-me que não, que quer que os filhos tenham tempo para eles, que não os teve para os prostrar em frente a um ecrã…

Quedo, o Anjo, dirigiu-se para a porta. Com um último olhar, disse ainda, à laia de despedida: “Marta, Marta… andas inquieta e perturbada com tantas coisas…”

 

Para melhor entender este texto cfr. Lc 1,26-38, Mt 6, 25-34, Mt 6,19, Lc 10, 38-42