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Como é que a luz entra?
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Entrados no Advento caminhamos para o Natal. Talvez não haja, na roda do ano, outra quadra que consiga como esta fazer sonhar crianças e amaciar adultos.
É a expectativa dessa noite única que nos transforma, noite onde no breu brilha a luz e no silêncio se escuta aquilo que nos desperta. Não por acaso, na riquíssima imagética natalícia encontramos velas e sinos, símbolos desta esperança com que decoramos as nossas ruas e casas para que dela se encham e nela permaneçam.
Mas o que fazer para que estes símbolos se transformem em realidade, ou melhor, transformem a realidade? Como fazê-los soar e brilhar nas noites da vida e nas opacidades do mundo? É que num mundo por vezes tão sombrio, parece que nos deveríamos resignar a que a esperança estivesse remetida somente para esta data marcada no calendário. Além disso, bem sabemos e experimentamos como pode ser fugaz em nós e entre nós este espírito do Natal. Que pode haver de futuro neste presente que a cada ano se repete? Como é que, no fundo, esta luz singular efectivamente entra?
Sem qualquer pretensão da minha parte em esgotar estas questões, vem-me à memória o refrão de uma música do canadiano Leonard Cohen – Anthem de seu nome, sintomaticamente de um álbum chamado The Future – que fala precisamente de sinos e da forma como, se pensarmos bem, a luz sempre entra. Traduzindo, é qualquer coisa como isto: «Toquem os sinos que ainda podem tocar/[…]/ Em tudo há uma fenda/ é assim que a luz entra».
Simples, mas espantosamente verdadeiro! Tal como no mundo dos objectos, também o universo das realidades e construções humanas conhece fendas, falhas, limites, inconsistências, erros, falências, becos sem saída. Tal como no mundo dos objectos, também no universo das coisas humanas a luz é fluida, move-se, esgueira-se, espreita e tem a espantosa capacidade de tudo penetrar e iluminar a partir de dentro. É claro que o mundo dos objectos e o dos homens são um só e o mesmo. Então, e uma vez mais, tal como no mundo dos objectos, se de verdade quisermos iluminar o que de humano existe, temos que saber para onde apontar a luz, ou seja, que identificar, conhecer e saber onde estão as fendas do nosso tempo e deste mundo, do nosso viver e da nossa cultura! Sem isto será difícil que a luz recriadora do Natal possa realmente entrar, transformar e, assim, perdurar em nós e entre nós muito para lá dos ditames do calendário. É época de fazer ouvir os sinos que a anunciam, os tais «que ainda podem tocar». Estão só à espera que haja quem os faça soar! Santo Natal!
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