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Henrique Joaquim
Conciliar Família, trabalho e impacto social

Se calhar é cada vez mais um lugar comum dizer que o contexto atual em que vivemos no desafia crescentemente em muitas coisas, nomeadamente na conciliação entre o trabalho, a vida familiar e a nossa responsabilidade social.

Face aos ritmos que vivemos será possível conciliar a nossa vida familiar com o nosso trabalho e gerar transformação social nos ambientes em que agimos? Como tomamos consciência do papel transformador que somos chamados a desempenhar para além da família e do trabalho?

De acordo com os nossos dicionários podemos entender que conciliar pode significar: conjugar pôr de acordo ou chegar a acordo com; Pôr ou ficar em paz; Combinar ou combinarem‑se elementos aparentemente divergentes, contrários ou incompatíveis; Alcançar, atrair, granjear.

Contudo, entendendo-nos enquanto seres amados e para amar, com um bem inalienável que é a dignidade humana, diria que estamos vocacionados para nos tornarmos e virmos a Ser Pessoas com outras pessoas pois “o segredo da existência é a co-existência”. Como? Através da realização de diferentes vocações: a família, a entrega total aos outros, o trabalho/profissão o que quer que isso seja num mundo/contexto em alucinante mudança

Deste modo pergunto-me se em vez de procurarmos conciliar, não temos de procurar aliançar, isto é, passar do conjugar ao viver uma aliança entre todas as dimensões, tendo em conta que todas elas são inter-dependentes. Aliançar passa por reconhecer o extraordinário de cada momento ordinário que temos a graça de viver em cada uma das dimensões.

Aliançar é descobrir e viver plenamente a co-existência em nós da vocação a tornarmo-nos pessoas, a vocação a gerar vida de diferentes formas, através da família, através do que realizamos enquanto trabalho. Nesta aliança co-existem talentos e incapacidades, alegria e cansaço, frustração e realização. Acima de tudo, talvez nos possa ajudar perguntarmo-nos com regularidade: Quem sou eu naquilo que vivo/faço? Quem quero Ser?

Sei que se trata de responder a questões profundas que implicam ir ao encontro do que desejamos profundamente. Não no sentido do que “desejamos consumir mas do que quero consumar”, pessoas única e irrepetíveis.

Como já tive oportunidade de explicitar em reflexões anteriores, estou convicto que nos tornamos e somos pessoas quando nos damos. Por isso julgo que também nos pode ajudar a responder a nós próprios e aos outros a outra questão: qual é a minha causa? Onde e como a posso viver e realizar?

Aliançar, mais que conciliar e conjugar múltiplas coisas e ações, é des-ocultar três dos sentidos podemos atribuir ao que vivemos:

1º - Sentido da VIDA – reconhecer, sentir e agradecer a que temos porque é DOM;

2 º - Vivê-la tornando-me PESSOA;

3º - Realizar os dois anteriores de modo a que outros possam descobrir-se Pessoas e por sua vez fazer o mesmo com outros.