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Henrique Joaquim
“A Solidariedade irá de férias?”

Eis que chegámos a uma das épocas mais desejadas do ano, se não mesmo a mais desejada (acredito que o Natal é uma época também muito desejada embora por outras razões). As FÉRIAS! É que há pessoas que as desejam desde o fim das anteriores!

Trata-se de facto de uma altura do ano em que procuramos algum tempo de descanso também ele fundamental para a nossa recuperação e para a regeneração das nossas forças físicas, mentais e até espirituais.

Passados tantos meses de uma vida quase sempre muito agitada, o cansaço, que já é muito, faz-se sentir ainda mais com a chegada do abençoado calor, o que nos deixa mais dolentes ou mesmo com falta de forças e até de algum ânimo e por isso a importância de um período de recuperação.

Contudo, acontece que, é também esta a época, e neste caso de forma totalmente diferente do Natal, em que parece que a nossa solidariedade entra de férias. Se não vejamos. De meados de junho a agosto é altura do ano em que mais pessoas idosas são abandonadas nos hospitais ou nos lares; mais decrescem as doações às ações solidárias; mais aumenta o abandono de animais.

Como nos diz Edgar Morin, “o que não se regenera degenera” e por isso é fundamental que tenhamos um período de descanso mas será que para cuidarmos de nós mesmos temos de colocar de férias também as relações e práticas solidárias que até vivemos ao longo do ano ou chegar ao ponto de abandonar aqueles de quem cuidamos?

Trata-se de ter que refletir sobre os compromissos que construímos e sobre os laços socais e afetivos que vivemos. As causas a que nos dedicamos não entram de férias. Pelo contrário. Isto porque as necessidades das pessoas concretas, razão de ser destas causas, não só não se resolveram como por vezes se agravaram.

Deste modo, julgo ser de crucial importância, quer para as pessoas a que nos dedicamos, mas acima de tudo também para nós próprios, podermos deixar-nos interpelar sobre o sentido a dar à vivência deste tempo.

Como poderemos alimentar a nossa solidariedade durante o imprescindível tempo de ócio?

Que este tempo de descanso seja tempo de regeneração também na Solidariedade que vivemos e que nos realiza enquanto pessoas.