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Motivos de esperança
A viagem do Papa Bento XVI à Terra Santa constituiu um momento de grande significado e vivo simbolismo. Pela segunda vez nos últimos dez anos, um Chefe da Igreja Católica toma a iniciativa de contribuir, sem reservas, para a aproximação no diálogo inter religioso e ecuménico. Ao mesmo tempo e de uma forma também incondicional, reafirma a abertura de espírito e o imperativo do perdão por parte da Igreja Católica que não está isenta de falhas e de pecado (ou recordando as palavras de João Paulo II, da purificação da memória sem a qual “não há paz sem justiça e não há Justiça sem perdão”).

Na confluência das três religiões monoteístas e no actual contexto de conflito e de muros de toda a espécie que se levantaram no Médio Oriente, as palavras do Papa ecoaram também como uma forma de peregrinação pela paz e pelos direitos humanos, um acto de esperança corajosa, incitando todos os responsáveis a despertar, na expressão de São Paulo, “os motivos da esperança que há em cada pessoa”.

Bento XVI visitou lugares sagrados ou de profundo alcance histórico para os muçulmanos e judeus, desde a mesquita dourada ou a Cúpula do Rochedo, muitas vezes referida como o terceiro local santo do islão, até ao Muro das Lamentações, o local sagrado para os judeus. Ao visitar o memorial Yad Vashem, evocou a Shoa onde disse que “nunca mais semelhante horror possa desonrar a humanidade”. Fê-lo sempre com respeito, humildade, serenidade, sentido de harmonia, liberdade e tolerância.

Tudo isto se torna particularmente impressivo numa terra banhada pelo sangue ao longo dos tempos, onde se mata invocando o nome de Deus. Como um dia escreveu Regis Débray, “Um só Deus para tantos ódios, mas tantos ódios por haver um só Deus”.

É um facto que desde João Paulo II a Igreja de Roma tem feito um notável esforço para uma sã reconciliação com gestos de aproximação, ao contrário de outras religiões sempre disponíveis para criticar qualquer palavra ou omissão de Roma mas nunca para tomar iniciativas perduráveis de diálogo inter religioso.

Não posso igualmente deixar de referir a presença iluminadora do Cardeal hondurenho Óscar Maradiaga (e Presidente da Caritas Internacional) em Fátima. Tive oportunidade de ler as entrevistas e outras intervenções que fez e que espelham bem a necessidade de uma Igreja de espiritualidade e de caridade. Afirmou, entre outros pontos, que perante a actual crise, que parece ser apenas tratada à superfície, o homem precisa cada vez mais de um “GPS espiritual”. Disse também que um muro na Terra Santa é a absurda negação da Porta que Cristo abriu ao Mundo e a que todos convoca. E no fundo deixou bem explícita a ideia de que só através da transformação dentro de cada um e de todos se pode esperar e robustecer a transformação do Mundo.

Oxalá todos estes gestos e palavras ecoem para a construção de uma verdadeira paz com justiça entre os homens!