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Henrique Joaquim
“Amar a única via”

Na data que escrevo é impossível não falar do que nos assolou nesta sexta-feira dia 13 de novembro em Paris!

No último texto terminei referindo que “só Seremos se formos capazes de arriscar e se arriscando formos capazes de nos dar, em suma, só Seremos quando formos capazes de acolher e de amar”.

Mais do que nunca, e face a mais uma atrocidade, estou convicto que a única via é a do amor! Não o amor no abstracto ou o amor conceptual mas o amor no concreto dos pequenos e grandes gestos.

O terror que nos fez estremecer, quer pela brutalidade quer pela proximidade com que mais uma vez aconteceu, gera em nós os piores sentimentos e as piores e consequentes ações. Do medo paralisante que nos leva a fecharmo-nos sobre nós mesmos à vontade de reação pela força ou mesmo pela guerra como também já ouvimos!

Amar é a única via para que possamos combater o medo que nos leva ao pior de nós e que nos faz ser o contrário de nós mesmos enquanto pessoas.

Relembro como se fosse ontem o momento de uma aula de Mestrado, na cadeira de Globalização quando discutíamos sobre os impactos do 11 de setembro e a globalização do medo que se instaurou. Perante a insistente pergunta do Professor Roberto Carneiro sobre qual a melhor forma de combater o medo, a turma ficou em silêncio como que antevendo uma resposta fora do comum! Com receio e de forma insegura balbuciei e arrisquei a reposta “o amor”. Resposta ouvida pela sorte de estar na fila da frente mas que levou o professor a solicitar que a repetisse mais alto – “a melhor forma de combater o medo é o amor”.

Nos últimos dias percorrendo as redes sociais já lemos e vimos de tudo. As cores de França nas fotos pessoais, nos edifícios mais emblemáticos de todo o mundo, em locais que nos são próximos, etc. Já lemos apelos de diferentes naturezas mas detenho-me na legenda de um desenho “se todos dessemos as mãos ninguém conseguia pegar em armas”! Uma verdade simples. Haverá outra opção? Não creio.

Tal como o terror que mais uma vez se colocou ao nosso lado, também a realidade que podemos mudar está ao alcance da nossa vontade, no fim do nosso braço se quisermos começar pelo que nos rodeia.

Mas é igualmente importante que de uma vez por todas percebamos que a paz só se alcançará através do desenvolvimento do “Homem todo e de todos os Homens”. Combater o terror com a guerra tem sido a estratégia seguida nas últimas décadas e os resultados alcançados são cada vez piores.

É tempo de mudar e de acreditar que é promovendo o desenvolvimento de todos, dentro e fora dos países mais ricos, é sendo solidários na distribuição de bens e justos na geração equitativa de oportunidades que deixará de fazer sentido o medo que gera o ódio e a morte.

Uma utopia sem dúvida e que exige de todos nós permanentes atos de coragem. Mas se todos acreditarmos que “a coragem não é a ausência de medo mas a convicção de que há qualquer coisa mais importante que o medo” (Ambrose Redmon) e que isso se chama o amor experimentado e a solidariedade vivida então de certeza encontraremos a forma de vida que todos sonhamos e desejamos.



* presidente da Comunidade Vida e Paz e professor de Serviço Social na UCP