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Da Noruega a Madrid (por A. Pereira Caldas)

Há dias, na Noruega, um homem ainda jovem matou com uma bomba e a tiro, alardeando uma espantosa frieza, mais de noventa pessoas, na sua grande maioria deliberadamente jovens como ele.

Daqui a duas semanas, um mar de jovens vai inundar Madrid em mais uma edição das Jornadas Mundiais da Juventude criadas por João Paulo II e prosseguidas por Bento XVI.

São assim este tempo e este mundo.

Na Noruega, uma acção irracional, cega e surda foi, mais uma vez, a expressão trágica de um terrorismo puro e duro, que não olha a quem mata mas porque mata. Não interessa que seja um acto individual, como parece ser neste caso, ou perpetrado por um grupo ou organização. Só se lhe pode chamar terrorismo. A violência indiscriminada é a sua arma. As suas motivações perdem-se num emaranhado de ideias, conceitos e interpretações que pretendem, pela subversão da realidade a qualquer preço, abrir caminho a novas – ou velhas… – formas de poder que fazem do fanatismo político ou religioso, levado e praticado até às últimas consequências, o único meio para impor a sua “lei”. Não se trata, quase sempre, do poder de um presidente ou de um governo, como normalmente é entendido, mas do poder interior que se alcança no momento em que se provoca a explosão da bomba ou se puxa o gatilho da arma.

O poder discricionário de decidir da vida e da morte seja de quem for e em nome do que for.

Em Madrid, em contrapartida, não vão ser a morte e a violência as protagonistas. Não se vai falar de terrorismo nem de fundamentalismo, a não ser, eventualmente, para lamentar e condenar a tragédia da Noruega. As vedetas das Jornadas Mundiais da Juventude serão – são sempre – a Paz, a Vida e o Amor, como pilares do futuro. João Paulo II foi arauto intransigente desse futuro e, durante o seu longo pontificado, não se cansou de pedir aos jovens que se assumam como os apóstolos de uma nova “Boa Nova” sobre a qual seja possível construir um tempo novo, sem dúvida imperfeito, mas onde as gerações que aí vêm possam reencontrar e recuperar alguns dos valores essenciais que alicerçam e dignificam a vida humana.

Bento XVI não hesitou em tornar seu este legado de João Paulo II. E as Jornadas Mundiais da Juventude continuam a reunir milhares e milhares de jovens onde quer que se realizem, numa impressionante comunhão de fé e de esperança, caminho aberto a um compromisso que a sua consciência cristã lhes exige. Um compromisso que nas Jornadas de Madrid, ante a presença do Papa carregada de simbolismo, não deixará de ser solenemente renovado e fortalecido, face a um mundo ajoujado ao peso da sua própria incapacidade para se tornar mais justo e humano.

Entre a tragédia da Noruega e as Jornadas de Madrid há, pois, a distância abissal que separa aquelas duas “culturas” que João Paulo II tão bem definiu: a “cultura da morte” e a “cultura da vida”. Ambas procuram impor-se numa realidade marcada pela indiferença e pelo conformismo que, dificilmente, se deixa sacudir.

Quer dizer que não há duas opções: é fundamental rejeitar sempre a “cultura da morte” e os seus argumentos, por vezes perigosamente enganadores e, mesmo, aliciantes.

E é fundamental que os jovens reunidos em Madrid, em torno de Bento XVI, aproveitem a oportunidade para deixar claro, fazendo ouvir bem alto a sua voz, que não se pode ganhar o futuro sem “cultivar” a vida.