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Dia da memória

No passado dia 27 de Janeiro, um pouco por todo o mundo, celebrou-se o dia da memória. Nesse mesmo dia, em 1945, os russos chegaram ao campo de concentração de Aushwitz.

Com esta recordação não se quer apenas lembrar a libertação dos que sobreviveram, mas sobretudo pensar no horror que foram os campos de concertação. Depois de todos estes anos ainda temos de recordar e olhar com perplexidade para o passado. É bom que nunca consigamos perceber como foi possível gente normal perder todas as referências morais e tratar outras pessoas como coisas sem valor, destruindo-as e matando-as como se fossem lixo. É algo tão contrário ao ser humano que não pode ter nenhuma explicação lógica.

Contudo, recordar os milhões de mortos, lembrar o ódio ao povo judaico, aos ciganos e a tantos homens e mulheres de boa vontade que se recusavam a aceitar este ódio, também nos deve fazer olhar com preocupação para o presente e para o futuro. Sabemos que o ódio, que nos é tão assustador quando pensamos nos campos de concentração Nazis ou nos Gulags Soviéticos, infelizmente não desapareceu totalmente. Recordar ajuda a acordar.

Todos estão de acordo em dizer que não querem que seja possível outra vez as mortes em série e sem piedade. Mas para ter a certeza de que isso não volta, temos de estar atentos ao que acontece, ao que se diz e a tudo o que é proposto aos mais novos como projecto de vida. Na verdade também hoje, nas muitas guerras sem sentido que continuam, nos ataques terroristas, no desprezo pelos pobres mas também, infelizmente, em clínicas e lugares "limpos", continuam os ataques à dignidade da vida humana. Temos de nos lembrar que no nosso mundo ainda há milhões de pessoas, algumas ainda não nascidas, que são mortas, e quantas vezes com a conivência ou indiferença duma sociedade adormecida.

Lembramos o Holocausto porque não queremos que seja possível de novo acontecer algo tão terrível. Mas não podemos ficar só na lembrança, é preciso fazer algo. Uma coisa é certa, o ódio e a distracção que tolera o mal não podem ter como resposta a vingança e mais ódio, mas devem ser vencidos com o amor e a reconciliação. Como recordava o Santo Padre, quando em 2006 visitou o Campo de Concentração de Auschwitz, "este é o motivo por que estou aqui: para implorar a graça da reconciliação." Os homens por si mesmos não conseguem perdoar do fundo do coração, por isso temos de implorar a graça da reconciliação. Só quando Deus, que é Ele mesmo Amor, entra nas nossas vidas, é possível acabar com a raiz do mal que inventa todos os ataques à vida. É preciso dar a Deus o Seu lugar de Senhor da vida para estarmos certos de que a vida humana será sempre respeitada e amada.

Imploramos a Deus para que na Europa haja sempre uma grande consciência do terror que o ódio e a indiferença podem gerar, mas também, e sobretudo, para que haja uma grande consciência da dignidade da vida, desde a concepção até à morte natural, e do valor do amor que é capaz de vencer barreiras. Só assim Auschwitz não voltará a acontecer.