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O lava-pés (por Nuno Cardoso Dias)
Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática.

Jo, 15, 12 - 17

 

Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.»

Mt 20, 25-28

Esta quinta-feira santa fizemos 10 anos de casados. É uma coincidência muito agradável que assinalemos o dia com a celebração de uma das passagens que tem sido essencial no nosso casamento.

A minha mulher aprendeu – ao serviço – a estratégia do terceiro lugar. Através dela aprendemos a colocar-nos não em primeiro lugar, nem em segundo mas em terceiro lugar: antes de nós, em primeiro lugar está Deus e em segundo lugar está o outro, o nosso próximo, o nosso irmão.

Esta perspectiva muda completamente a forma como actuamos. A presença de Deus em primeiro lugar é medida e modelo do nosso serviço.  

Por isso é tão importante este exemplo de Cristo: o lavar dos pés não é um acto isolado, mas antes um exemplo simbólico de Quem não veio para ser servido mas para servir e dar a Sua vida pelo resgate da multidão.

Também no casamento não nos casamos para ser servidos mas para estar ao serviço. No matrimónio, esse serviço não se esgota no outro, nem começa nele: começa em Deus e assume-se por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Esta ética de serviço pode e deve atravessar toda a família: marca cada um dos esposos na sua relação matrimonial, marca os filhos e marca a família enquanto todo.

Os esposos estão mutuamente ao serviço, tanto um do outro como dos filhos. Entre eles ganha pleno sentido o conselho de Jesus: “quem quiser ser o maior não exerça poder sobre o outro, mas seja o primeiro a servir”. Quem procura mais realizar-se do que servir no casamento, corre sério risco de dividir em vez de unir. Ser o primeiro a servir exige atenção ao outro, exerce a nossa gratidão por tudo o que temos e em especial pela nossa família e aumenta o nosso sentido de pertença.

Também os filhos aprendem dos pais o sentido de serviço e desde bem cedo se podem sentir úteis, assumindo responsabilidade por tarefas específicas e pelo bem estar de todos os elementos da família.

Por outro lado, a família pode comprometer-se ao serviço dos outros, de preferência em actividades onde possam trabalhar em equipa. Isto permitirá ganhar unidade, crescer juntos, conhecer-se melhor.

Com Cristo, colocar-se ao serviço na família ganha um sentido pleno, de encontro, de unidade e de felicidade. É essa a Sua promessa: “Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática.”