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Exigir o essencial (por Nuno Cardoso Dias)

Que vivemos tempos difíceis é óbvio. É por isso que não podemos perder tempo nem recursos com tolices, com amuos, com dramas, com birras. É tempo para nos concentrarmos no essencial e deixarmos cair o acessório, o que não constrói, o que não é importante. Neste aspecto os cristãos têm especial obrigação.

Não é de hoje, mas de sempre que temos de nos concentrar no essencial. Somos convidados à pobreza dos bem-aventurados, a não levar nada connosco senão o essencial, a desfazermo-nos do que não precisamos, porque não nos pertence. Um cristão deve habituar-se a discernir o que precisa do que quer e concentrar-se apenas no essencial.

É importante, pois, que se lembre que a família desempenha um papel essencial na nossa sociedade e que é ela que dá a primeira e melhor resposta a praticamente todos os problemas sociais que atravessamos. A família cria e educa as nossas crianças, dá protecção no desemprego, na precariedade e na pobreza, resolve problemas de habitação, faz prevenção de dependências, assiste na doença, ocupa e ampara na velhice. Faz isto melhor que qualquer outra instituição – e é por isso que outras respostas são sempre secundárias, muito pior sucedidas e, já agora, muito mais caras para o Estado. A família faz tudo isto mas não se limita a isto: é o contexto interpessoal para que o indivíduo possa desenvolver-se e realizar-se plenamente.

Por todas estas razões o fortalecimento da família e o desenvolvimento de uma política que a apoie é essencial para vivermos melhor em tempos de crise e para dela recuperarmos: a necessidade de uma política de apoio à família não se prende com aquilo que o Estado português pode fazer pela família, mas sim com criar as condições para que as famílias possam fazer por Portugal tudo o que é a sua vocação.

Não se trata de conceder às famílias privilégios, nem se trata certamente de criar medidas despesistas. Trata-se, tão só, de não atrapalhar. Vivemos um tempo em que de duas famílias em situação de pobreza, é a monoparental que é mais apoiada; um tempo em que os casais são prejudicados face aos contribuintes não casados; um tempo em que as crianças valem por metade, no cálculo do rendimento das famílias; um tempo em que os encargos familiares nos nossos impostos não contam nada e onde o terceiro filho conta menos que o primeiro, prejudicando quem tem mais filhos; um tempo em que o abono de família não cobre despesa nenhuma e é só para os mais pobres mas o financiamento do aborto a pedido cobre todas as despesas, é para todos, ricos ou pobres, e ainda dá direito a licença com 100% do vencimento.

Começamos agora a pagar não só o dinheiro que andámos a gastar no acessório, com um despesismo incontrolado, como também a falta de investimento no essencial. É preciso exigir mudança já. Em vez de andarmos distraídos com outras coisas, está na altura de exigirmos políticas que permitam às famílias dar as respostas de futuro que delas esperamos.

Disto mesmo deu nota o Presidente da República no seu discurso de tomada de posse que vale a pena reler:

"No momento que atravessamos, em que à crise económica e social se associa uma profunda crise de valores, há que salientar o papel absolutamente nuclear da família. A família é um espaço essencial de realização da pessoa humana e, em tempos difíceis, constitui o último refúgio e amparo com que muitos cidadãos podem contar.

A família é o elemento agregador fundamental da sociedade portuguesa e, como tal, deve existir uma política activa de família que apoie a natalidade, que proteja as crianças e garanta o seu desenvolvimento, que combata a discriminação dos idosos, que aprofunde os elos entre gerações."