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Uma efectiva juventude (pelo Pe. Alexandre Palma)
É bastante comum achar-se que o futuro pertence aos jovens. Penso que com isso não se pretenderá propriamente constatar a inevitabilidade, mas antes manifestar confiança nas novas gerações. Com a autoridade de quem ainda se acha jovem (sabe o leitor até quando poderei conservar a ilusão?) declaro as minhas reservas. É que a realidade nem sempre confirma este optimismo!

Devo, contudo, reconhecer que, por vezes, as novas gerações se encontram em condições mais vantajosas para ultrapassar alguns dos impasses em que o tempo presente se mostra pródigo. Parece ter sido isso que percebeu e assumiu um grupo de «jovens teólogos» norte-americanos, recentemente reunido à sombra da Fordham University, em Nova Iorque. Estando eu empenhado em iniciativa semelhante do lado de cá do Atlântico, a formação deste grupo não pôde deixar de captar a minha atenção. É seu propósito fundamental contribuir para ultrapassar a «polarização» que se verificará no seio da Igreja Católica nos Estados Unidos, isto é, um radicalizar de posições e sensibilidades que tende a traçar fronteiras no seio da própria comunidade eclesial. Um óbvio contra-senso.

Não creio que cause grande polémica situar as raízes deste fenómeno, sobretudo, no período que se seguiu ao Concílio Vaticano II (1962-65). Urgia então «digerir» esse momento charneira da história recente da Igreja. Não poderia ser de outro modo. Ora, o que este grupo de teólogos vem, e bem, lembrar é que os jovens e jovens-adultos dos nossos dias – membros da chamada «geração X» – já nasceram depois do Concílio. Não experimentaram, portanto, na primeira pessoa, o que significaram as mudanças então empreendidas, o antes e o depois do Vaticano II. Isso é para eles «história», quando muito objecto de estudo. Nem sequer participaram activamente nos debates, convulsões e polémicas do período pós-conciliar.

Geradas num contexto eclesial diferente, as novas gerações estarão, de facto, como se admitia ao princípio, em situação privilegiada para superar alguns dos impasses deste passado recente. Dever-se-á, contudo, reconhecer que o que à partida é uma vantagem acarreta também a responsabilidade de estar à altura dos desafios do presente. Pessoalmente, penso que a perpetuação de esquemas de antagonização no seio da Igreja, em que, por exemplo, com desconcertante facilidade se rotula o outro como isto ou aquilo (conservador ou progressista; herético ou ortodoxo, etc), nada mais faz que reproduzir e prolongar um velho e extenuado paradigma, mais devedor aos anos 60 e 70 que ao presente. A emergência desta nova geração oferece a oportunidade de se progredir para outras formas, mais criativas e menos redutoras, de lidar com as diferenças que existem e sempre existirão no interior da Igreja. Haverá hoje reforçadas condições para que a comunhão eclesial não esteja tão condicionada ao consenso das opiniões e sensibilidades e para que a diferença de opinião não mais seja um obstáculo para amar o irmão e construir comunidade. Aí sim se decidirá uma efectiva juventude, na capacidade de emprestar à edificação da Igreja um estilo novo, muito mais determinado pelas exigências do presente e do futuro, e muito menos pela bagagem herdada dos debates teológico-eclesiais dos últimos 50 anos.


pe.alexandre.palma@gmail.com