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P. Manuel Barbosa, scj
D. António Braga, 50 anos de Sacerdócio. Homem de coração novo, alegre, puro e grande
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D. António de Sousa Braga, dehoniano, Bispo emérito de Angra, celebrou 50 anos de Sacerdócio a 17 de maio de 2020 na comunidade do Seminário de Alfragide, onde reside. Na Congregação foi Conselheiro Geral, Superior Provincial, superior, formador e professor. No Patriarcado de Lisboa serviu a Paróquia de Alfragide como Vigário Paroquial e Pároco de 1983 a 1991. Na partilha deste breve testemunho pessoal quero apenas render uma singela homenagem a D. António Braga.

Na ordenação sacerdotal de António Braga na Solenidade de Pentecostes de 1970 em Roma, São Paulo VI terminou a sua homilia em atitude orante, invocando o Espírito Santo para que desse aos novos ordinandos um coração novo, puro e grande: um coração novo sempre jovem e alegre; um coração puro como o de uma criança, capaz de se entusiasmar e trepidar; um coração grande, forte e constante, quando for necessário até ao sacrifício, um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir humilde e fiel e fielmente a vontade divina.

D. António levou a peito este fecundo programa cordial na sua vida sacerdotal, em todas as fases por que passou a sua peregrinação de oblação a Deus e entrega aos irmãos, assumindo o caminho de Cristo como o seu caminho, sendo servidor de todos por ser servo de Deus.

Assim o conheci ao longo dos caminhos próximos que fomos palmilhando, desde os tempos de formação até hoje, em que nos encontramos na mesma comunidade religiosa, passando pelos tempos em que fui chamado a exercer a missão de Superior Provincial e de superior deste Seminário de Alfragide dedicado a Nossa Senhora de Fátima. Aqui o acolhi com gosto, quando quis integrar esta comunidade após 20 anos de intenso ministério episcopal nas ilhas dos Açores.

Não é novidade apontar, na pessoa de D. António, humildade e simplicidade, bondade e bem, proximidade e solidariedade, forte de sentido de oração e oblação, amor à Igreja e à Congregação, vida de comunhão em Cristo e de comunidade de irmãos, vivência do ar novo do Concílio Vaticano II, sintonia com o magistério da Igreja, em particular dos papas São Paulo VI e Francisco, força sinodal nas decisões tomadas, serenidade e paz interior, olhar atento aos mais pobres e descartados, cuidado extremoso pelos confrades, nunca abandonando os que estavam menos bem por qualquer motivo das suas existências... Tudo isso, e muito mais, está emprenhado na prática de vida de D. António, não em belas teorias e princípios que bem conhecia e aprofundava, mas a partir daquilo que é, vive e anuncia, com palavras certamente e sobretudo com o silencioso testemunho de vida.

Nesta proximidade, há sempre muitos momentos de amizade e de dedicação que ficam na memória vivida de cada um e que não cabe aqui transparecer. Um mero exemplo, quando eu estava a exercer a função de capelão militar no Estado Maior da Força Aérea em Alfragide, sendo D. António pároco de Alfragide, que incluía na altura o Bairro do Zambujal. Via-o repetidamente, carregado de grandes panelas e tachos, ir buscar comida à messe de Alfragide para a levar para o centro social do Zambujal e para famílias mais necessitadas. Um exercício simples e anónimo, que motivava sorrisos e comentários dalguns militares bem nutridos, sem perceberam o que significava este gesto tão simples de atenção solidária e efetiva para quem tanto necessitava do simples alimento.

“Tudo bem?” É saudação habitual de Dom António quando passa por cada um de nós nos corredores, desejando que cada um esteja bem, mesmo se, por causa da sua doença, nem sempre esteja bem, mas exprime sempre a sua bondade com um alegre sorriso que só pode brotar do seu coração novo, puro e grande.

Que assim permaneça entre nós, motivando-nos a continuar no mesmo dinamismo de vida de oblação a Deus e de serviço aos irmãos que D. António Braga vive no mais profundo do seu coração, onde habita o Coração de Deus.