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Isilda Pegado
O governo das coisas de todos
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1 – Trabalhamos, temos rendimentos, pagamos impostos… porque temos a consciência de que há um “Bem Comum” que a todos cabe pagar (estradas, jardins, luz pública, esgotos, educação, saúde, etc.), mas, também temos a consciência de que há um dever de solidariedade para com aqueles que têm carências e que efectivamente precisam da nossa ajuda. E o nosso coração reconhece este dever.

2 – Não fora esta consciência, após termos conhecimento de tantos actos danosos que delapidam, usurpem e esbanjam o nosso dinheiro, seria mais do que razoável que, quem paga, se revoltasse de forma séria e eficaz. Mas, a realidade mostra que temos a conformação de um Povo à Sociedade que está instituída. Conformação que deriva acima de tudo daquela consciência cívica e que, mesmo em momentos de decisão colectiva, como é o acto eleitoral, acaba por dar a mesma resposta. Embora haja o número de abstencionistas (últimas eleições) cuja interpretação “dá que pensar”.

3 – Acresce que, existindo dois tipos de governação do espaço público – o Governo central e as Autarquias locais (Câmaras e Juntas de Freguesia) a integração e interacção entre o Bem público e a esfera privada, tem afetivamente maior peso a relação de proximidade que se cria com as Autarquias. E ainda bem. O Poder torna-se mais próximo.

E assim, a Sociedade funciona!

4 – Vejamos um exemplo.

No passado Dia de Ascensão (quinta-feira da Espiga) em Mafra (feriado municipal) foi inaugurado o novo Centro de Saúde (edifício de grande dignidade e utilidade pública) e em simultâneo em frente à entrada principal foi também inaugurada e Benzida a estátua de João XXI, o Papa Português, que foi pároco na Igreja de Santo André – Mafra, situada a escassos 30 metros desta belíssima estátua.

5 – João XXI (Pedro Julião ou Pedro Hispano) antes de ser Papa foi um brilhante filósofo, matemático e médico, deixou vários Tratados de Medicina, os quais, durante toda a Idade Média, foram fonte de transmissão de saberes.

6 – Ora,

Que, o Papa médico, seja o escolhido para indicar a porta do Centro de Saúde.

Que, o Papa Português seja relembrado na sua grandeza de cientista, reconhecido no séc. XIII como uma das maiores sumidades do mundo de então e um grande Português de todas as épocas.

Que, haja actos e vidas cuja grandeza e valia o tempo não apaga (como foi a vida de Pedro Hispano).

Que, um Povo tenha orgulho naquele seu antepassado que deu ao mundo saberes e valores ainda hoje reconhecidos (na oftalmologia, por exemplo).

Que, que… que faz de João XXI, um de nós? Faz parte da nossa identidade.

7 – Estes factos não podem ser ignorados na formação da consciência pública de um Povo, e de cada cidadão, que vive com estes pequenos (grandes) gestos de gestão das “Coisas de Todos”.

8 – Os futuros ventos da História ninguém os conhece, e por isso tantas vezes somos levados a pensar que o caminho se faz de um modo e, rasgam-se novos trilhos, novas estradas… é a Esperança.

9 – Há uma dimensão de responsabilidade pessoal, em todas as circunstâncias da vida, que não pode ser tapada ou sufocada e que reconhece uma relação com o Senhor da História, com uma Natureza e uma Condição Humana, para que as coisas, as Vidas e as Políticas confirmem o Bem Comum, e resistam ao voraz passar do Tempo.