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Isabel Figueiredo
“A Verdade a que todos somos chamados implica a honestidade dos gestos e das palavras”
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Defendo que a atualidade nos implica. E tenho muita dificuldade em permanecer calada e quieta, quando essa mesma atualidade me incomoda. Nos últimos dias, fiquei incomodada e comigo muitos mais, pela forma como foi tratada na comunicação social, a ‘Nota para a receção do capítulo VIII da exortação apostólica Amoris Laetitia’ publicada no site do Patriarcado de Lisboa e assinada pelo Senhor Cardeal-Patriarca. Já todos sabemos que esta Nota ficará marcada pela forma superficial e pouco séria, como foi lida e comentada. Já todos percebemos que, mais difícil do que conseguir que alguns jornalistas tenham tempo e cuidado, para ler a totalidade dos documentos, que são objecto dos seus comentários, é conseguir que se retratem, no sentido de tornarem pública, a forma precipitada como por vezes, opinam.  Apesar de saber que não se recolhe leite derramado, acho que vale a pena refletir. Todos sabemos que a liberdade permite a manipulação da verdade. Também sabemos que a parte de um todo, consegue viver por si. É assim possível que, por exemplo, perante um documento, que na sua totalidade encontra o seu sentido pleno, se possa retirar uma parte, que ganha vida por si própria. É também possível que em total liberdade se avalie, se comente, se julgue, a parte do todo. E quando este caminho é percorrido por muitos, o que se perde, na maior parte dos casos, é a verdade. Senão vejamos: o Papa Francisco publica um documento sobre o Amor na Família e o que ganha relevo é a questão dos recasados. Tudo o que está escrito sobre a importância da Família, do ponto de vista civilizacional é de menor importância; o que está escrito sobre o namoro, o noivado, o impacto da preparação do casamento, a educação dos filhos, é relegado para segundo ou terceiro plano; o que se afirma sobre o Amor, não passa de um discurso normal e expectável, incapaz de causar sentimentos de surpresa, indignação ou admiração. Os Bispos de Buenos Aires escrevem sobre o texto do Papa Francisco e não há memória de alarmes, nem de agitações, nem de elogios ou críticas. O Cardeal-Vigário de Roma dá indicações aos sacerdotes desta Diocese e nada se ouve. O Patriarca de Lisboa escreve uma Nota, para os padres da sua diocese, citando estes exatos documentos, que fazem norma na vida da Igreja, e somos confrontados com uma avalanche de críticas, muitas delas a roçarem a falta de educação. Críticas estas que surgem na esfera dos comentadores profissionais, mas também de sacerdotes. Voltamos à verdade. Todos podemos opinar, criticar, “achar que” mas não deixa de surpreender, que também alguns padres, participem nesta tarefa de confundir a verdade. E quando intuímos que a Verdade a que a Igreja nos chama está fora da normalidade dos dias que correm, em que hoje é primeira página dos jornais, a nota de um texto, amanhã se noticia o escândalo da corrupção e no dia seguinte se esquece o drama dos incêndios, não podemos ficar calados. A Verdade a que todos somos chamados convive diariamente com o mistério da presença de Jesus na Eucaristia, com a certeza de que, pela ação do Espírito Santo, na pessoa do Papa Francisco, assenta a autoridade de Pedro, escolhido pelo próprio Jesus, para conduzir a Sua Igreja.  A Verdade a que todos somos chamados implica a honestidade dos gestos e das palavras, a humildade no reconhecimento das nossas fragilidades, a certeza de que os critérios do mundo não são coincidentes com os critérios de Deus. Condições exigentes, despropositadas para este tempo… talvez. Mas fazem parte do todo da Fé que professamos. Outra coisa bem diferente é a leitura correta de um documento, que implica unicamente capacidade de análise e seriedade.