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P. Manuel Barbosa, scj
Provocações ecológicas
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Sei que a atual agenda eclesial está marcada, e bem, pela exortação apostólica «A Alegria do Amor» sobre o amor na família; um documento a merecer dedicada atenção por longos tempos. Do mesmo modo deveria continuar a ser a «Alegria do Evangelho». E tudo em Ano Santo da Misericórdia.

Um outro documento pleno de atualidade, a Laudato si' sobre a ecologia integral, praticamente ainda não recebido na Igreja, precisa de ser refletido. No final de um intenso dia em Fátima, em que os religiosos o retomaram em ligação com a sua significância para a vida consagrada, partilho oito provocações da encíclica que, sendo para todos, é também para os religiosos, discípulos missionários de Cristo que vivem a sua vocação num Instituto religioso, situação em que também me encontro como Sacerdote do Coração de Jesus. Apoio-me numa bela reflexão de Gabriele Ferrari na revista Testimoni.

1. Num ambiente geral de exclusão de Deus e da sua Palavra, os religiosos são chamados a reafirmar com a sua vida o primado de Deus e a fraternidade universal dos povos em Cristo, a crescer no olhar contemplativo perante a maravilha da criação, a fomentar sentimentos da misericórdia e da compaixão evangélica pelo mundo, a proclamar o evangelho da incarnação de Deus que em Jesus Cristo é o coração do mundo.

2. Face às dicotomias e contraposições entre vida espiritual e realidade secular, os religiosos só podem contribuir para a superações dessas dicotomias, empenhando-se ao mesmo tempo por uma ecologia integral.

3. Perante o consumismo obsessivo, que torna as pessoas dependentes das coisas, os religiosos não podem ser escravos desse consumismo, estando atentos para não serem contagiados pelo humanismo antropocêntrico que exclui Deus e pela mundanidade espiritual que permanece vítima do espírito do mundo, justificando tudo com o princípio do prazer.

4. Olhando a situação de aburguesamento e opulência de grande parte da sociedade, os religiosos devem assumir com responsabilidade a urgência de apontar novos estilos de vidas marcados pela sobriedade, simplicidade, humildade e gratuidade; isso exige que se passe do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à capacidade de partilha, no dizer do atual Patriarca de Constantinopla.

5. No contexto de deterioração da qualidade da vida e de degradação social, os religiosos, peritos em humanidade e na vida comum, em proximidade e nas relações interpessoais, são convidados a fazer das comunidades ambientes ecologicamente significativos, mostrando que se pode viver bem e alegremente apenas com o essencial e sem todas as comodidades que o mundo oferece.

6. Vendo a dramática situação ecológica do mundo, os religiosos devem contribuir para a conversão ecológica, para a epifania da humanidade redimida, de uma sociedade marcada pela fraternidade, acolhimento, escuta, diálogo, respeito recíproco, comunhão intercultural e solidariedade; os professados votos de obediência, pobreza e castidade são caminhos ecológicos, indicando novos modos de integração na sociedade.

7. Face a tantas situações de sofrimento das pessoas e de atentados à natureza no seu todo, os religiosos transportam a missão de defesa da criação e daqueles que sofrem as consequências do desastre ecológico, sobretudo pela encarnação, solidariedade, proximidade e presença, segundo o estilo proposto por Jesus.

8. Enfrentando aqueles que progressivamente destroem a nossa casa comum e provocam enorme sofrimento nos mais pobres, os religiosos devem ser vozes críticas e incómodas, autorizadas e credíveis, despertando as consciências de quem não se dá conta de que o seu bem-estar é pago pelos pobres mais pobres e que precisa de ser restituído aos mais pobres; sempre na liberdade e em sintonia com as propostas de conversão ecológica do Papa Francisco.

São provocações que valem para os religiosos e consagrados, e igualmente para todos sem exceção, aliás como o todo da encíclica Laudato si'.