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P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Alice vai à escola
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Terminadas as férias de verão, recomeçaram as aulas: bom ano lectivo 2015-16! Neste ano de 2015, cumpre-se o 150º aniversário de ‘Alice no país das maravilhas’, o famoso livro de Lewis Carroll. Um texto que, diga-se de passagem, é tanto para miúdos como para graúdos.

A páginas tantas, o autor transcreve um imaginário diálogo entre a protagonista e a duquesa:

“- Não imaginas como estou contente por voltar a ver-te, minha querida! – disse a Duquesa, dando uma palmadinha afectuosa no braço de Alice.”

Apesar daquela presença, algo embaraçosa, Alice distrai-se “por completo da Duquesa”.  Por isso, “foi com alguma surpresa que a sentiu segredar-lhe ao ouvido:

“- Estás a pensar em qualquer coisa, minha querida. Até te esqueces de falar. Neste momento não posso dizer-te qual é a moral desses pensamentos, mas tentarei encontrá-la.

“- Talvez não exista nenhuma moral – atreveu-se a responder Alice.

“- Cala-te, menina! – disse a Duquesa. – Tudo tem uma moral. Basta que demos com ela”.

Um mito moderno é a ideia de que o Estado democrático e laico não professa nenhuma ideologia, ao contrário das instituições privadas. Assim sendo, supõe-se que a escola estatal é ideologicamente neutra, ao contrário do ensino particular, sobretudo quando este se afirma confessional.

Trata-se de uma ideia falsa, porque todo o ensino é público, embora só algum seja oficial. O táxi que pertence ao próprio motorista também é público, porque presta um serviço social a toda a comunidade, embora a sua propriedade seja privada. O mesmo acontece com as escolas não estatais: não são propriedade do Estado, mas são colégios públicos, a que todos os cidadãos podem aceder.

Compete aos pais católicos proporcionar uma boa formação cristã aos seus filhos. Devem fazê-lo inscrevendo-os na catequese paroquial, mas também providenciando para que frequentem uma escola que seja coerente com a doutrina da fé e os demais ensinamentos do Magistério da Igreja.

Quando Alice alvitra, quase a medo, que talvez as suas histórias não tenham nenhuma moral, a duquesa responde, com manifesto desagrado: “- Cala-te, menina! Tudo tem uma moral. Basta que demos com ela”. E tinha toda a razão porque, até as instituições que presumem não ter nenhuma carga ideológica, têm também uma moral própria, ainda que nem todos dêem com ela. A questão não é saber se um determinado estabelecimento tem, ou não, uma orientação ética, porque todos a têm, mas saber se esse ideário é verdadeiro e, portanto, compatível com a fé.

Infelizmente, não há escolas estatais para todos os gostos e muitas famílias cristãs não têm os meios necessários para garantir um ensino de qualidade. Mas todos os pais, quaisquer que sejam as suas condições, são os primeiros e os principais responsáveis pela educação dos filhos. Pior do que o insucesso escolar ou profissional é o afastamento de Deus e a perda da fé, como consequência de uma infeliz opção educativa.

A duquesa, tão atenta à moral de todas as coisas, distingue dois grandes sistemas de pensamento. O primeiro, materialista, resume-se num só princípio: “quanto mais eu tenho, menos tu tens”. O segundo, pelo contrário, afirma que “é o amor que faz o mundo rodar”. Só este é verdadeiro e cristão. Só se Alice for instruída na razão última do mundo, que é o amor de Deus, poderá compreender todas as coisas e alcançar a pátria da fé, ou seja, o verdadeiro país das maravilhas.