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António Bagão Félix
S. João Bosco: o exemplo, o legado e a efeméride
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Janeiro é o mês consagrado a S. João Bosco. Este ano de 2015 é o ano das celebrações bicentenárias do seu nascimento (1815-2015). Uma efeméride que deveremos ter presente na memória, na devoção, no coração.

Duzentos anos depois, o pensamento, a obra e o testemunho do santo italiano, canonizado em 1934 por Pio XI, não podem ser mais actuais e desafiantes. S. João Bosco foi um inovador encorajado pela Fé e pelo amor ao próximo. O seu legado foi e continua a ser um indestrutível código de moral e de educação para os jovens.

Uma educação exigente, mas também atractiva. Uma educação com a autoridade de guia e a partilha de ser companheira. Profunda, sem perder o sentido prático. Personalista e solidária. Formativa e profissional. Inclusiva e preventiva. Pedagógica e libertadora. Optimista e realista. Iluminada pela Fé e fortalecida pela cidadania. Com a mansidão do bom espírito e a rectidão do bom carácter. Promovendo direitos e elogiando a força dos deveres.

Um modo de educar que, aprofundando o sentimento de pertença solidária, torna mais conforme à natureza do homem a prática do bem, da justeza e da equidade, tanto nas virtudes intelectuais (como a sabedoria, a prudência, a temperança, o sentido de justiça) como nas morais (tais como a honestidade, a gratidão, a lealdade, a humildade, a paciência). Virtudes que não sendo necessariamente inatas, são adquiridas e fortalecidas pela educação, aprendizagem e relacionamento.

Cento e cinquenta anos depois, a sua obra, prosseguida com profundo respeito pelo espírito fundacional, continua a ser o farol de uma Escola do futuro como um espaço de ética intensiva e que bem se poderá sintetizar em algumas palavras-chave: educação, carácter, trabalho, princípios, humanidade, consciência, discernimento, afecto, bondade. Com o imperativo da memória e o incitamento do futuro. Com o futuro contido no passado e o passado contido no futuro. E com o permanente exemplo do mestre Santo e a busca constante do bem comum radicado na Esperança.

Escrevo estas breves linhas e recordo-me de uma tão expressiva quanto eloquente imagem que, há pouco tempo, o Papa Francisco nos transmitiu: "Gosto de imaginar a humanidade como um poliedro, no qual as multíplices formas, exprimindo-se, constituem os elementos que compõem, na pluralidade, a única família humana”. E acrescentou que esta é a imagem da “verdadeira globalização”, ou seja, a que faz da unidade nas diferenças a sua estrutura de base.

Se, no seu tempo de vida e, agora, no seu tempo de eternidade há quem congregue sem ensinar e quem ensine sem congregar, S. João Bosco ensinou e congregou na universalidade do seu exemplo, na perfeição das suas virtudes e na riqueza (poliédrica, para repetir o Santo Padre) das diferenças.

A santidade de S. João Bosco exprime, de uma maneira sublime, a purificação da heroicidade do simples e torna-nos mais conscientes da importância e da necessidade da expressão vitoriosa do homem de e para todos os tempos sobre o homem do instante.

Porque, afinal, João Bosco foi e é santo vivendo na ausência de qualquer forma de poder que é sempre onde se revela toda a força da presença de Deus.

Ensinou e ensina-nos que é preciso olhar para dentro e, depois, partir para os outros. Com esperança, alegria e jovialidade espiritual. Em suma e adaptando uma expressiva ideia de Santa Teresa de Ávila: “Procura-te em mim e a mim procura-me em ti”.