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Manuel Barbosa, scj
Consagrados para despertar o mundo
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No próximo dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação do Senhor, celebra-se em toda a Igreja o 18.º Dia Mundial da Vida Consagrada. Em Portugal e desde há seis anos, os nossos Bispos decidiram instituir a Semana do Consagrado, ampliando assim esta intenção ao longo de vários dias.

Não é minha intenção fazer aqui uma reflexão sobre a vida consagrada como forma de existência cristã que, como dizia João Paulo II em 1996, «está colocada no coração da Igreja como elemento decisivo para a sua missão, por exprimir a íntima natureza da vocação cristã e a tensão da Igreja-Esposa para a união com o único Esposo que é Cristo» (cf. exortação apostólica Vida Consagrada, 3).

Claro que ser consagrado pertence à condição batismal de todos os fiéis. Mas sem se distanciar desta essência, o magistério da Igreja habituou-nos a incluir na designação «vida consagrada» todos os que fazem votos dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, os membros das ordens e congregações, dos institutos religiosos, das sociedades de vida apostólica e dos institutos seculares. Que isso seja entendido como forma especial de viver a comum vocação cristã, nunca como exclusiva expressão de isolamento perfecionista.

A propósito do sentido do Dia ou da Semana da Vida Consagrada que hoje se inicia, vale a pena recordar os três objetivos que o ainda Beato João Paulo II nos deixou em 1997, primeiro ano da sua celebração.

Em primeiro lugar, «responder à íntima necessidade de louvar o Senhor e agradecer-Lhe o grande dom da vida consagrada, que enriquece e alegra a Comunidade cristã com a multiplicidade dos seus carismas e com os frutos de edificação de tantas existências, totalmente doadas à causa do Reino». Trata-se de um singular dom do Espirito que continua a animar e sustentar a Igreja na sua exigente caminhada no mundo, que só pode ser de presença efetiva entre os homens e as mulheres do nosso tempo.

Em segundo lugar, «promover o conhecimento e a estima pela vida consagrada, por parte de todo o povo de Deus». Esta forma de vida está ao serviço da consagração batismal de todos os fiéis e deve ser mais conhecida por todos os membros do povo de Deus.

Finalmente, convida de modo mais explícito as pessoas consagradas a «celebrar em conjunto e solenemente as maravilhas que o Senhor realizou nelas, para descobrir, com um olhar de fé mais lúcido, os raios da divina beleza difundidos pelo Espírito no seu género de vida, e tomar consciência mais viva da sua insubstituível missão na Igreja e no mundo».

Percebemos a insistência na contemporaneidade da vida consagrada, para que seja significativa nos mundos que habita ou que deve procurar habitar. Num recente e longo encontro com os superiores gerais das congregações religiosas, o Papa Francisco salientou, entre outros elementos fundamentas, que as pessoas consagradas, aliás como todos os que seguem Cristo em Igreja, são chamadas por vocação a estarem e marcarem presença em variadas situações para despertar o mundo. Retomo apenas esta citação:

«A Igreja deve ser atrativa. Despertar o mundo! Sede testemunho de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver de um modo diferente neste mundo. Estamos a falar de uma visão escatológica, dos valores do Reino encarnados aqui, nesta terra. Os religiosos seguem o Senhor de maneira especial, de modo profético. Espero de vós este testemunho. Os religiosos devem ser homens e mulheres capazes de despertar o mundo e iluminar o futuro. A vida consagrada é profecia. Deus pede-nos para sairmos do ninho que nos protege e sermos enviados às fronteiras do mundo, evitando a tentação de as domesticar”.

Que esta Semana do Consagrado seja vivida como dom do Espírito à Igreja, segundo as indicações que João Paulo II nos legou e o dinamismo apontado pelo Papa Francisco: consagrados, transformados na alegria do Evangelho, para despertar o mundo.