Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
10 anos da Evangelii Gaudium
<<
1/
>>
Imagem

Em novembro passado, decorreram dez anos da exortação apostólica “A Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium) do Papa Francisco, divulgada a 24 de novembro de 2013, no primeiro ano do seu pontificado. Quis o Papa que este texto pastoral fosse programático para toda a Igreja nas décadas seguintes. Passados dez anos, importa ter em conta o sentido que Francisco quis dar a esse texto sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, fundamentado no Concílio Vaticano II e na grande exortação apostólica de São Paulo VI sobre o anúncio do Evangelho, a Evangelii Nuntiandi de 1975.

Ao longo de 2023, de 11 de janeiro a 6 de dezembro, com a intenção de relembrar e concretizar as orientações da Evangelii Gaudium, o Papa Francisco brindou-nos com 29 catequeses sobre “a paixão pela evangelização, o zelo apostólico do crente”: 8 sobre os fundamentos da evangelização em Jesus Cristo e sua relevância no Concílio Vaticano II e em São Paulo VI; 17 sobre testemunhas da evangelização, a começar por São Paulo; 4 sobre os quatro dinamismos desta exortação. Resumo e cito alguns aspetos destes dinamismos: o anúncio da alegria; o anúncio é para todos; o anúncio é para hoje; o anúncio está no Espírito Santo.

1. O anúncio da ALEGRIA, que é o próprio Jesus, uma alegria que tem o seu princípio no nascimento de Jesus. Como anunciar essa alegria? “Ou anunciamos Jesus com alegria, ou não o anunciamos, porque outra maneira de o anunciar não é capaz de comunicar a verdadeira realidade de Jesus. Eis porque o cristão descontente, o cristão triste, o cristão insatisfeito ou, pior ainda, ressentido e rancoroso não é credível. Falará de Jesus, mas ninguém acreditará nele! Uma pessoa disse-me certa vez, falando destes cristãos: ‘Mas são cristãos com cara de bacalhau!’, ou seja, não exprimem nada, são assim, e a alegria é essencial”. Aqui vale a pena retomar o início da exortação apostólica: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, a alegria nasce e renasce sem cessar» (EG 1).

2. O anúncio é para TODOS. O anúncio cristão é alegria para todos, sem excluir ninguém. Mesmo quando alguns são escolhidos de modo especial para o anúncio, não constituem “um grupinho de eleitos de primeira classe”, mas são chamados para o serviço de anunciar o Evangelho a todos. Caso contrário, não seria um anúncio “católico” (universal). Aqui se insere o reiterado apelo do Papa aquando da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, em agosto passado: “Todos, todos, todos”.

3. O anúncio é para HOJE, deve ter em conta a cultura de cada tempo como tempo favorável e da salvação, que olha a nossa época e cultura como dom. “O zelo apostólico nunca é a mera repetição de um estilo adquirido, mas o testemunho de que o Evangelho está vivo para nós hoje”. Não basta evangelizar de longe ou da varanda, é preciso estar nas encruzilhadas do hoje, “sair para as ruas, ir aos lugares onde as pessoas vivem, frequentar os espaços onde as pessoas sofrem, trabalham, estudam e refletem, habitar as encruzilhadas onde os seres humanos partilham o que faz sentido para a sua vida”.

4. O anúncio está no ESPÍRITO SANTO, o protagonista da missão, que faz de nós testemunhas credíveis e autênticas. “O Senhor não nos deixou sebentas de teologia, nem um manual de pastoral a aplicar, mas o Espírito Santo, que suscita a missão”. Duas características unidas pelo Espírito: a criatividade, para anunciar Jesus com alegria, a todos e hoje; a simplicidade que nos leva à fonte, ao primeiro anúncio. Invoquemos sempre o Espírito, pois “Ele é a nossa força, o sopro do nosso anúncio, a nascente do zelo apostólico”.

Em tempo natalício, desejo que estas notas nos ajudem a sintonizar com o nascimento de Jesus por ação do Espírito, que a todos hoje nos enche de alegria! Feliz Natal!


P. Manuel Barbosa, scj