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P. Manuel Barbosa, scj
Sínodo na Vida Consagrada
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Poderia intitular estas notas de dois modos: “Sínodo na Vida Consagrada”, pois esta é essencialmente sinodal, ou “Vida Consagrada no Sínodo”, dada a sua presença intensa em todo o processo sinodal. Ambas se complementam. O Sínodo é o modo de ser Igreja, o modo de ser Vida Consagrada, e não uma questão de moda efémera. Daí o processo sinodal indicar esta essencial permanência e não um evento isolado.

O Relatório de Síntese da primeira sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos insere-se nesta dinâmica. Dos seus 20 capítulos, o n.º 10 refere-se à “vida consagrada e as agregações laicais: um sinodal carismático”. O documento de trabalho desta Assembleia referia apenas de passagem a vida consagrada, mas o Relatório dedica-lhe um capítulo. É certo que a Assembleia terá segunda sessão em outubro de 2024, mas já nos são dadas algumas indicações para continuar a fazer juntos o caminho sinodal. Como todos os capítulos, também este tem uma estrutura em três pontos: convergências, questões a aprofundar, propostas.

Algumas convergências: o Espírito Santo rejuvenesce e renova a Igreja com o dom dos carismas, dos extraordinários aos mais simples; “a dimensão carismática da Igreja tem uma manifestação particular na vida consagrada, com a riqueza e a pluralidade das suas formas”; as famílias religiosas mostram a beleza do seguimento do Senhor e a Igreja precisa da sua profecia; as congregações e os institutos praticam a conversação no Espírito e contribuem para a sabedoria do caminhar juntos. Algumas convergências menos positivas constituem um apelo à conversão: nalguns casos “perdura um estilo autoritário que não dá espaço ao diálogo”; há abusos de vários tipos contra pessoas consagradas, em particular a mulheres, o que “indica um problema no exercício da autoridade e requer intervenções decididas e apropriadas”.

Questões a aprofundar: o significado eclesiológico e as implicações pastorais concretas da relação entre dons hierárquicos e carismáticos na vida e missão da Igreja; o modo de colocar os carismas ao serviço da comunhão e da missão nas Igreja locais, para que seja vida consagrada profética.

Além de indicações específicas, como a revisão do documento que orienta a relação entre bispos e religiosos na Igreja (Mutuae relationes que data de 1978), aponta duas propostas concretas: as conferências episcopais e as conferências de superiores maiores devem “ativar lugares e instrumentos adequados para promover encontros e formas de colaboração em espírito sinodal”; a dimensão carismática deve ser reforçada na formação teológica a todos os níveis, em particular dos ministros ordenados.

Consciente de que o Relatório deve ser lido no seu todo, partilhei aqui estas indicações especificas do capítulo 10, o qual foi objeto da reflexão sinodal em Fátima (20-21 de novembro) em assembleia dos superiores maiores dos institutos religiosos e dos membros das comissões nacionais e secretariados regionais da CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal). D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa e Delegado da Conferência Episcopal Portuguesa para as Relações Bispos/Vida Consagrada, participou na assembleia, convidando os participantes a ter em atenção os areópagos do mundo atual, nomeadamente a pandemia, a guerra e a pobreza, bem como a realidade da vida dos jovens de hoje, no seguimento da JMJ Lisboa 2023, e os desafios do caminho que devemos fazer juntos no processo sinodal em curso.

Os dinamismos da JMJ e do Processo Sinodal convidam-nos a fazer juntos o caminho com paciência e na escuta ativa do Espírito e uns dos outros, mas também com a urgência do entusiasmo da fé em Cristo Vivo que recebemos como dom do Espírito, sendo seus profetas credíveis e autênticos nas situações que habitamos como consagrados. A isso nos convida a força do Espírito derramado nos nossos corações.

 

P. Manuel Barbosa, scj