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Isilda Pegado
A Vida que falta na Política
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Neste final de Quaresma, o Parlamento Português aprovou nova lei de ajuda ao Suicídio e da Eutanásia.

Fê-lo, dando a conhecer a letra de tal Lei com a antecedência de menos de 48 horas. No secretismo, na negação da participação cívica, do contributo dos cientistas e organismos profissionais, que se têm debruçado sobre estas matérias. Uma Lei escondida.

Alguns pensarão que se trata de uma Lei para antecipar a morte que estará iminente. Porém, essa orientação deixou de estar na Lei.  A chamada doença terminal ou fatal, deixou de ser requisito para se pedir o Suicídio Assistido ou a Eutanásia. Por isso, de cada vez que um jornalista fala da “Lei da antecipação da morte a pedido”, comete um erro. Em qualquer estado de desenvolvimento de uma doença, haja uma esperança de vida de décadas ou de meses, poderia ser pedida a ajuda ao Suicídio e à Eutanásia. Isto é, poderá até ser uma doença que não determina a morte, mas se causar sofrimento, o Estado aceitaria acabar com uma Vida Humana.

Bastará ser invocado que uma certa doença causa à pessoa sofrimento de “grande intensidade”. Conceito que, como tem sido dito, nada especifica e é totalmente vago.

Muitos outros fatores tornam esta Lei ignóbil, injusta, bárbara e contra o Homem.

Porém, hoje a nossa reflexão parte desta circunstância – Como é possível que se aprove uma Lei que aponta como solução para as dificuldades (na doença), pôr termo, acabar com uma vida Humana? Que tipo de mentalidade tem conduzido a esta solução?

Não querendo ser derrotistas e negativos, pensamos no laxismo, na falta de empenho, na fuga às dificuldades e na concepção “nem carne, nem peixe” em que muitos estamos a viver. Ou melhor, que nos é oferecida pelo mundo que nos rodeia. O que, quase é imposto pelo chamado “politicamente correto”.

Quantas vezes perguntamos – para que se vive? Há uma meta para além da banalidade, do consumo, do dia que passa?

Por outro lado, vemos gente que vive num esforço, numa dedicação a causas (por ex. ao desporto), onde se dá tudo por tudo.

Há como que dois mundos sectários. Um, onde viver é o facilitismo e o prazer em tudo o que é possível, atropelando o que for preciso e, num individualismo que não tem limites. O “outro mundo”, que consciente de uma missão, faz, luta, supera, cai e levanta-se e olha para os que lhe estão ao lado.

Quantas vezes somos embalados por aquele mundo do individualismo? E esquecemos o mundo Feliz da realidade, do construir, do vencer, ainda que com dificuldades e dores.

Muitas vezes não percebemos o sofrimento e as dificuldades, mas negá-las é talvez a forma menos inteligente de as perceber. E se, olharmos para a nossa vida, para as vezes que vencemos dificuldades, as vezes que as superamos ou simplesmente as vivemos com entrega e amor, seguramente sentimos cá dentro uma alegria que torna os nossos dias e as nossas horas, maiores.

Para chegar ao ponto de um Parlamento aprovar uma Lei para ajudar ao Suicídio e à Eutanásia de quem está doente, estamos por certo com uma Sociedade pouco edificada e pouco saudável.

A Páscoa é o culminar de um tempo de caminho pessoal e colectivo que nos enche de Esperança, de Alegria e de jubilo pela Vitória da Vida sobre a morte. Vitória, que ditou esta Civilização onde tanto gostamos de viver.

Aquela Lei de ajuda ao Suicídio e Eutanásia ainda não percorreu todos os seus passos. Ainda há a Esperança.

A Política faz-se para os Homens, faz-se para a Vida. E nós, cada um de nós, na sua circunstância faz política.

Por isso, com a Alegria da Páscoa, que vence a morte e proclama a Vida, olhamos para o Futuro.

 

Isilda Pegado
Presidente da Federação Portuguesa pela Vida

foto por jcomp on Freepik