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P. Duarte da Cunha
Objetivo ser santo
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O tempo passa e sentimos a diferença que há entre viver a pensar e a realizar o que devemos fazer, e viver sem pensar ou sem nos esforçarmos por alcançar os objetivos. Os gregos antigos, assim como muitas outras culturas ou filosofias, tinham a ideia de que o tempo voltava atrás e circulava sem andar para a frente. Muitos, com a pandemia, podem ter sido seduzidos por essa ideia durante alguns momentos, limitando-se a esperar que tudo voltasse ao que estava antes.

Aos cristãos isso nem lhes passa pela cabeça. Fomos criados por Deus e temos uma vida por diante que avança e que não podemos perder. Mesmo que pelo caminho possamos cair, acreditamos que o tempo não volta atrás. Sabemos por experiência que muitas vezes nos enganamos, mas damo-nos conta de que o bem e o mal que nos acontece ou que praticamos acumulam experiência e fazem-nos ser aquilo que somos. Não muda a meta, mesmo que depois de andar perdidos por um tempo seja preciso voltar à estrada justa, não voltamos ao lugar de partida! Nem mesmo um erro repetido pode ser visto como um simples voltar atrás.

Aos seres humanos foi dada a capacidade não só de conseguirem sobreviver, mas também de pensarem e de terem em vista os objetivos da vida. Uma casa começa por ser planeada; temos uma ideia do que queremos alcançar antes de pormos mãos à obra. Nos vários trabalhos humanos há objetivos que se procuram alcançar, metas a que se quer chegar. Nos estudos, há coisas que queremos ficar a saber e até se fazem exames nas escolas para verificar se os objetivos foram alcançados.

Quer isto dizer que é próprio do ser humano neste mundo ser capaz de identificar objetivos, mas também é capaz de procurar o modo de os alcançar e de verificar se o caminho que está a fazer é justo ou se, pelo contrário, desvia do fim que queria alcançar. Mais ainda, conseguimos não só perceber o fim e o caminho para lá chegar, como somos capazes de, verificando que é possível fazer esse percurso, empenharmo-nos para lá chegar, ainda que não tenhamos tudo claro sobre todos os passos a dar até ao fim e sintamos que não vamos poder fazer tudo sozinhos. Muito do caminho, se bem orientado, vai sendo descoberto à medida que se caminha e as forças vão sendo ganhas com o crescimento.

Tudo isto quer dizer que a nossa tarefa neste mundo é exigente, mas verdadeiramente apaixonante. Não só há uma meta, que acabamos por perceber ser maior do que nós, como devemos estar empenhados para a alcançar, ainda que precisemos do apoio dos outros, e, sobretudo, de Deus.

Só Deus, estou mesmo certo, nos pode satisfazer! Ele é a meta; é em Deus que podemos finalmente descansar e experimentar a felicidade plena. Mas, também por isso mesmo, precisamos de Deus para conhecermos o caminho que nos permita alcançar Deus. Não é por acaso que Jesus diz que é o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Todos podemos ver que quem tem claros os apelos de Deus: ser santo, ser fiel, amar, anunciar a Verdade, etc. consegue ver o objetivo e avançar na justa direção. Quem se recusa ou não encontrou ainda, não faz a mesma experiência. Não quer isto dizer que seja má pessoa, ou que tenha más intenções, mas quer dizer que procura e para isso precisa da nossa ajuda, mesmo sem o saber.

Ter como objetivo uma vida plena e aceitar os apelos de Deus é viver a sério a vida, e, no dia a dia, sentiremos a exigência dos desafios como ocasião para nos aproximarmos da meta. O necessário discernimento para termos claros a meta e o caminho, a consciência da necessidade de ajuda dos outros, a vontade de aproveitaras grandes e pequenas coisas, a disponibilidade para seguir um caminho diferente do que parece ser mais fácil são tudo exigências que mostram que a vida não é brincadeira. Contudo, viver assim traz mais alegria à vida do que a banalidade, o consumismo, o hedonismo.

Será que os homens de hoje não têm paciência para esta conversa? Terá a Igreja de renunciar a propor a santidade ou contentar-se com pequenos objetivos temporários? Deveremos propor apenas instantes intensos? Não creio! O coração do homem de hoje, mesmo com toda a cultura líquida que nos envolve, não é diferente do de ontem! É sempre exigência de plenitude, é sempre marcado pelo desejo de chegar a um fim onde a vida esteja unificada e realizada. Acredito que Deus não ama menos os homens de hoje do que os de outras épocas, nem quer para nós uma felicidade menor. Por isso, creio que a Igreja não pode deixar de fazer um convite a todos os homens para serem santos.