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Diretor do Sector da Animação Missionária de Lisboa, padre Albino dos Anjos, escreve sobre o mês ‘Outubro Missionário’
Na missão, um só é o Mestre e todos somos discípulos
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O diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa, padre Albino dos Anjos, considera que o ‘Outubro Missionário’ é “um tempo de graça para todos”, mas alerta para o “enorme perigo” de se pensar que “basta um mês e um dia mundial para se falar das missões”. “O sonho de chegar a todos exige um estado permanente de missão”, escreve o sacerdote dos Missionários da Boa Nova, neste artigo no Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Nos caminhos da missão, nenhum de nós é mestre e todos somos discípulos. Somos uns eternos aprendizes que, em cada tempo e lugar, acolhemos a sabedoria temperada pelo fogo do tempo da experiência e encarnada na vida de tantas testemunhas. É certo que todos partimos do mesmo ponto, com mais ou menos consciência da nossa vocação e da nossa pertença, uma verdadeira fonte batismal que nos acompanha como marca indelével. O itinerário, escolhido por cada um, faz-nos crescer na certeza de que é tão importante partir como chegar. No percurso é tão frequente os avanços eufóricos como os recuos apáticos, a alegria da partilha de tesouros como a apetência para defender o que é só meu, a consciência de que caminhamos juntos como a provocação daqueles que vão por si. Mas uma coisa é certa: o caminho é para a frente! A certeza do caminho proposto a cada filho de Deus, abre-nos um mistério infinito de amor, feito de descoberta em descoberta, tornando o caminho feito uma ínfima parte daquilo que, por certo, falta por realizar. Como não recordar aqui as palavras aqui as palavras de São João Paulo II na ‘Redemptoris Missio’, n.º 1: a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está bem longe do seu pleno cumprimento.

O mês de outubro é na Igreja um tempo em que refletimos, rezamos e escutamos vários testemunhos sobre as missões. Também é tempo de celebrações mais coloridas, com cânticos e danças de outras culturas, de importantes iniciativas formativas no campo eclesial e missionário e de justas e solidárias campanhas de angariação de fundos para as missões. Embora seja sempre um tempo de graça para todos, tudo isto acarreta, de forma inconsciente, um enorme perigo e desvio da nossa pastoral: a ideia de que basta um mês e um dia mundial para se falar das missões. O sonho de chegar a todos (EG nº 31) exige um estado permanente de missão (EG nº 25).

Talvez fosse mais frutífero neste tempo, em que as folhas caem e a nova vida vai germinado, discernir pela oração e reflexão as questões cruciais da fé. A Missão, talvez por estranho que pareça, não é lugar de certezas e de respostas, mas um tempo de questionamento e de incertezas! Olho, sempre, com mais atenção para as perguntas que o mundo e a Igreja me fazem, do que para a certeza das respostas que lhes possa dar. Aproveito sempre este tempo para voltar a estas questões tão simples como o que é ser missionário, o que é a Missão, o que é missão ad gentes, o que é anunciar a Boa Nova, como tornar a minha comunidade mais missionária, etc… No fundo, nada deveria haver de mais simples na nossa fé do que anunciar Cristo! A missão simplifica recursos, métodos, objetivos da nossa pastoral!

Impressiona-me a facilidade e a rapidez com que muitas vezes respondemos a estas perguntas que tocam o centro da fé, a sua identidade mais profunda. São respostas seguramente bem construídas, fundamentadas do ponto de vista bíblico e com profundo sentido teológico e eclesiológico. Este é o tempo de nos abeirarmos do verdadeiro Mestre e lançarmos as perguntas de sempre, às quais, verdadeiramente, só Ele nos poderá responder! Não será isso que um discípulo deverá fazer junto do seu mestre? Esta atitude em nada retira força e beleza à afirmação de que todos somos missionários pelo batismo e que somos chamados a testemunhar Cristo no mundo de hoje. São Paulo VI, no n.º 14 da ‘Evangelii Nuntiandi’, expressava a certeza de que evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria, a sua vocação mais profunda da identidade da Igreja. Quando chegará verdadeiramente esta consciência a todos nós?

O trabalho missionário nunca está concluído. É sempre maior e mais urgente o que falta por fazer do que o que foi feito! A necessidade de aprofundarmos a teologia da missão continua a ser um premente mandato de Cristo para os nossos dias. Ir por todo o mundo e anunciar o Evangelho de Cristo exige da Igreja a capacidade de reflexão, de leitura e de estudo sobre os novos caminhos da missão. Há sempre novos campos da missão por descobrir! Não se trata de um trabalho para alguns, peritos e mais devotos à causa. Requer o acolhimento e aceitação de todos, no espírito do que os Bispos de Portugal pediram: ‘todos, tudo e sempre em missão’.

Sente-se e vê-se em muitos sectores da Igreja a nostalgia, a apreensão e o desfalecimento quando percorrem na sua memória o passado grandioso de comunidades e de movimentos apostólicos e como encaram com tristeza o futuro da Igreja, provavelmente constituído por pequenas comunidades, e da Missão, como ideia romântica da fé cristã. Distante do eixo da missão, a Igreja não terá futuro. A fidelidade e o compromisso à Igreja deveriam ser lidos e assumidos na fidelidade e no compromisso à Missão. Não são os números e as metas que justificam o nosso ser e agir. Nem desenhamos um plano B ou C para colmatar o esvaziamento das igrejas. O morrer faz parte da missão! Não aceitar a morte é que não é cristão! Sonhar com uma igreja sinodal, com as mesmas estruturas e os mesmos órgãos, dificilmente trará uma nova primavera à Igreja. Julgo mesmo que o estilo missionário, com a sua proximidade e abertura ao outro, será a chave para caminharmos juntos e fortalecerá a comunhão entre todos! Será cada vez mais nos caminhos que nos encontraremos!

O mundo em que vivemos é uma vasta messe e os trabalhadores continuam a ser poucos. À enorme área territorial de cada organização, acrescenta-se outra de âmbito digital, sempre em crescendo, em formas, conteúdos e pessoas. São novos mundos que nos fazem crer na pertença universal. O mundo é o mesmo, mas não pára de crescer! A Igreja é a mesma, e parece que não pára de decrescer! Estar nestes domínios com sabedoria, competência e autenticidade são ferramentas fundamentais para uma fecunda visão e missão da Igreja. A missão também se faz em rede, mas é no coração a coração que ela acontece!

Na mensagem para o Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco interpela-nos com um belo texto, em que nos chama atenção para a força motriz da evangelização, que é o amor de Deus. É este grande amor que faz com que a história da humanidade, pela Encarnação, seja uma história de salvação. A missão é uma bela forma de construirmos essa história de salvação! A presença do Senhor no caminho dos homens confere, a quem acredita em Cristo, a possibilidade de uma vida maior e plena. Viver este amor com fé e alegria, conduz-nos à saída e à partilha com os gentios dos tempos de hoje, últimos para este mundo e primeiros no coração da Igreja!

A nossa Igreja diocesana de Lisboa tem acolhido e incorporado na sua vida pastoral a dimensão missionária. A consciência missionária tem originado belos textos e boas iniciativas. A própria experiência de pandemia, vivida num longo período em confinamento, mostrou-nos a vitalidade de muitas comunidades, que se reinventaram em ternura e em solidariedade, para melhor servirem e estarem ao lado dos seus membros. O processo não podia ser outro: uma Igreja de portas abertas e em saída. São tantas e louváveis iniciativas que a Igreja diocesana tem promovido para que todos se sintam em casa ou para estimular a partilha generosa com quem mais precisa, como é caso da bela iniciativa da ‘Caminhada Missionária’ a favor dos refugiados e deslocados da Diocese de Pemba!

O nosso Patriarca, D. Manuel Clemente, a propósito da JMJ de 2023, convida-nos a que estes 22 meses sejam um tempo de evangelização para todos. O próprio Papa Francisco interpela-nos a tomar parte nesta peregrinação espiritual que nos levará a Lisboa. E a proposta não podia ser mais concreta: levanta-te e testemunha!

Talvez desta forma, ousemos responder, pelo Espírito Santo, sobre o que é ser missionário em 2021! Oxalá!

 

texto pelo padre Albino dos Anjos, diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa

 

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Paróquias desafiadas a uma ‘Caminhada Missionária’

O Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa (SAMPL) desafia as paróquias a associarem-se à ‘Caminhada Missionária’, que está a decorrer até ao final deste mês de outubro. Através de uma carta enviada recentemente ao clero, o sector explica que esta iniciativa, que surgiu em julho, pretende angariar “um valor financeiro para a Diocese de Pemba, tão fustigada quer por calamidades do clima, quer pelo flagelo da guerra e suas dramáticas consequências”. A proposta consiste em correr ou andar 5 km, doar 5¤ à Cáritas Portuguesa para ajuda à Diocese de Pemba, em Moçambique, e desafiar mais cinco amigos. A hashtag #JuntosAtéPemba identifica, nas redes sociais, as fotografias colocadas pelos participantes.

O formulário de inscrição e outras informações estão disponíveis em https://bit.ly/3htQB2V, podendo também acompanhar a iniciativa através das redes sociais do SAMPL, nomeadamente no Facebook (www.facebook.com/lisboamissao) e Instagram (www.instagram.com/missao_lisboa).

 

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Vigília Missionária na Igreja de São João de Deus

Por ocasião do mês ‘Outubro Missionário’, o Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa vai promover a Vigília Missionária, que tem lugar na noite do próximo dia 23 de outubro, sábado, a partir da Igreja de São João de Deus, em Lisboa. Na carta enviada recentemente ao clero, este sector convida as comunidades cristãs da diocese a acompanharem a Vigília Missionária através da transmissão online.

De referir que, ao longo deste mês dedicado à missão, o Sector da Animação Missionária vai ainda publicar, nas suas redes sociais, um conjunto de “breves reflexões” sobre a missão.

Informações: missao@patriarcado-lisboa.pt

 

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Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2021 (24 de outubro)

 

“Neste tempo de pandemia, perante a tentação de mascarar e justificar a indiferença e a apatia em nome dum sadio distanciamento social, é urgente a missão da compaixão, capaz de fazer da distância necessária um lugar de encontro, cuidado e promoção.”

 

“No contexto atual, há urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho (…) Como cristãos, não podemos reservar o Senhor para nós mesmos: a missão evangelizadora da Igreja exprime a sua valência integral e pública na transformação do mundo e na salvaguarda da criação.”

 

“Hoje, Jesus precisa de corações que sejam capazes de viver a vocação como uma verdadeira história de amor, que os faça sair para as periferias do mundo e tornar-se mensageiros e instrumentos de compaixão. E esta chamada, fá-la a todos nós, embora não da mesma forma. Lembremo-nos que existem periferias que estão perto de nós, no centro duma cidade ou na própria família.”

 

“Viver a missão é aventurar-se no cultivo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus e, com Ele, acreditar que a pessoa ao meu lado é também meu irmão, minha irmã. Que o seu amor de compaixão desperte também o nosso e, a todos, nos torne discípulos missionários.”

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