
No passado Domingo vivemos mais um momento de prática da democracia no nosso país, pelas eleições autárquicas. Fomos todos chamados a pronunciar-nos sobre quem queremos à frente da governação do poder local, nas Câmaras Municipais, Assembleias Municipais e Juntas de Freguesia. E é nesse contexto que somos surpreendidos pela grande vencedora que não precisa de fazer campanha: a abstenção.
Segundo números do portal da Secretaria Geral da Administração Interna, onde estão registados todos os resultados, de todas as freguesias do país, percebemos que votaram neste último escrutínio 53,65% dos eleitores inscritos. Isto é, dos cerca de nove milhões e trezentos mil eleitores inscritos, por 82 votantes não chegou aos cinco milhões o número daqueles que exerceu o seu direito e dever cívico nas urnas.
Creio que é preciso olhar com maior seriedade para este facto, não apenas em período eleitoral, mas em todo o tempo em que se governa, porque aparentemente estes números, que estão em constante aumento, podem denotar uma falta de confiança dos eleitores naqueles que governam, um descontentamento com as governações em execução, ou então um desinteresse e indiferença.
A falta de confiança e o descontentamento podem ser consequência da forma como se governa. Governa-se para servir, ou serve-se da governação? Infelizmente, são muitas as situações em que percebemos um servir-se dos lugares para alcançar objetivos pessoais ou ideológicos, mais do que colocar-se ao serviço dos outros. E isso não traz confiança. Quanto ao desinteresse ou indiferença, aí o caso pode ser mais grave, porque não estamos a saber fazer uso de uma capacidade que nos é dada de poder tomar decisões próprias, deixando que outros decidam por nós.
Saberemos nós decidir? A pergunta pode parecer estranha, mas sinto que a cultura que estamos a viver está a educar-nos, cada vez mais, para uma atitude de dependência de fatores exteriores para as nossas tomadas de decisão. São decisões condicionadas por contextos culturais ou ideologias, deixando de lado valores, como o da vida ou da família. A decisão implica compromisso e cada vez mais é difícil comprometer-se, porque isso traz risco e a necessidade de desacomodar-se. A decisão implica também o esclarecimento e o discernimento, mas hoje tudo vem ao nosso encontro já ‘mastigado’ e preparado para nos levar a um determinado caminho, sem precisarmos de pensar, refletir ou até rezar as coisas e a própria vida. Está do nosso lado decidir o que queremos.
Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt
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