Entrevistas |
Padre Paulo Malícia, diretor do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso (SDER) de Lisboa
“Os professores de EMRC foram inexcedíveis”
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Apesar dos confinamentos, os professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) não descuraram nas formas de manter a relação com os alunos, utilizando os meios que estavam “mais à mão”. Numa entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, por ocasião da Semana Nacional de EMRC, o diretor do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso (SDER) de Lisboa, padre Paulo Malícia, fala das diferenças entre catequese e esta disciplina e aponta dois desafios para a EMRC.

 

Durante a pandemia, como funcionou a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica?

Os professores foram inexcedíveis em arranjar formas de manter o contacto com os alunos, não só através das plataformas que as escolas punham à sua disposição, mas também de outras maneiras, como as redes sociais. A maior parte dos professores tentou, acima de tudo, manter o contacto com os alunos através das formas que tinha à mão, até porque sabem que é a empatia e a relação que o aluno tem com o professor que motivam a inscrição na disciplina de EMRC.

Claro que também houve casos menos bem-sucedidos, até porque houve pessoas que reagiram de maneira diferente à pandemia. Alguns, fecharam-se, outros, foram à luta, outros, tiveram medo, outros, menos medo… mas, de um modo geral, o mote principal foi para se manter a relação entre aluno e professor.

 

Desse trabalho realizado pelos docentes de EMRC para manter a ligação com os alunos, parece-lhe que há experiências que irão ficar para o futuro?

Acho que há uma dimensão digital que foi muito acentuada neste tempo de pandemia e que vai ficar para o futuro. Ficou alguma coisa, principalmente a nível dos suportes digitais e visuais para a aula, que vieram para ficar. O que ficou também foi a certeza de que a disciplina é relacional e, por isso, a necessidade de relação também ficou muito acentuada neste tempo de pandemia, o que a mim me enche de alegria.

 

O restabelecer e alimentar a relação entre professor e aluno afirma-se como objetivo para os próximos tempos?

Não é por acaso que o nosso tema do ano é ‘#MaisPróximo’. Porque, no ano passado, distanciámo-nos e, este ano, vamos ter que nos aproximar. A relação professor-aluno tem que ser ‘olhos nos olhos’, ‘coração a coração’, e, para isso, não há meio telemático nenhum que o consiga fazer. Este tempo reforçou os meios digitais de suporte, mas também reforçou a necessidade do ensino presencial, que, no caso concreto desta disciplina, fomenta muito a relação entre os alunos, dos alunos com a escola e dos alunos com o professor.

 

Neste ano letivo, houve um decréscimo do número de inscrições na disciplina de EMRC?

Na Diocese de Lisboa houve um decréscimo de 2% de inscritos na disciplina de EMRC nas escolas públicas e mantiveram-se os inscritos no ensino privado. No final de cada ano, há sempre uma sensibilização dos professores para as matrículas e, no ano passado, não foi possível fazer. O próprio processo de matrículas também não foi presencial, como habitualmente, e acredito que o decréscimo de 2% se deve a isso.

 

Existe uma ideia que a catequese e a disciplina de EMRC equivalem-se no percurso formativo das crianças e adolescentes. Quais são as principais diferenças?

Há uma ideia muito comum que a catequese e a disciplina de EMRC equivalem-se e que quem está na catequese já não precisa de se inscrever na disciplina de EMRC. Nós estamos sempre a dizer que não é assim, mas, na verdade, ainda não fomos capazes de provar aos pais que não é assim. Porque, quando os pais perceberem que não é assim, também vão querer a disciplina para os seus filhos. Não me parece que seja uma culpa dos pais, é mais uma culpa nossa. Também existem, muitas vezes, alguns alunos que não querem a disciplina porque os colegas também não a têm ou os horários não são compatíveis. Além disso, a disciplina de EMRC não conta para nota e, assim, acabam por desvalorizá-la.

Sobre as diferenças: enquanto que a catequese é uma iniciação cristã à fé e ao desenvolvimento da fé da pessoa, a EMRC é uma leitura cristã do mundo e da vida. É olhar, ajudá-los a ver o mundo, a fazer uma reflexão sobre ele, com uma leitura cristã. A missão da catequese é iniciá-los na fé cristã. Na disciplina de EMRC, temos alguns alunos que não andam na catequese e nalguns casos, são de outras religiões. Como estão num país de tradição cristã, gostam de ter essa leitura do mundo. Ainda não fomos capazes de passar esta mensagem, reconheço.

 

Quais os principais desafios desta disciplina?

Temos dois desafios: um para dentro e outro para fora da Igreja. No primeiro, temos que ser capazes de responder a uma pergunta: “como é que uma disciplina confessional pode ter, hoje, espaço numa escola pública?”. Acho que o futuro da disciplina passa por sabermos articular a resposta a esta pergunta. Na minha opinião, o futuro da disciplina passa pelo debate entre o lugar do religioso na esfera pública, porque cada vez temos mais entraves. A lei diz que podemos lá estar, mas, na prática, é cada vez mais difícil.

Depois, temos um desafio interior, eclesial, que é o de todos nós – bispos, padres, pais, famílias: acreditarmos que a disciplina vale a pena. Eu duvido muito que todos acreditem que a disciplina vale a pena. Em primeiro lugar, temos que acreditar naquilo que temos e, depois, temos que lutar por aquilo que temos. Mas só lutamos, se acreditarmos. Estes são os grandes desafios da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.

 

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Concerto de Fernando Daniel apelou à inscrição em EMRC

A Semana Nacional da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) decorreu entre 17 e 21 de maio e terminou com o ‘Concerto falado’ do músico Fernando Daniel, ex-aluno da disciplina. A iniciativa “inédita”, e que teve como tema ‘Esperança-Te’, pretendeu “motivar os alunos, dar visibilidade à EMRC e sensibilizar para a inscrição”, explica, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Fátima Nunes, do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso (SDER) de Lisboa. “Como no ano passado, devido à pandemia, não se realizaram os habituais interescolas, que envolvem milhares de alunos, quando percebemos que este ano também não iriam ocorrer, começámos logo a tentar colmatar essa falta para não ficar um vazio gerado pela falta dessa atividade”, acrescenta a responsável.

Durante esta iniciativa, que foi organizada pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) e que envolveu as dioceses portuguesas, foram apresentados, nas aulas, alguns trabalhos realizados pelos alunos e professores de todo o país, em que procuraram mostrar, através da “arte, da fotografia, do vídeo, da música”, as “razões da sua Esperança”, divulgou a organização.

 

“Espaço de cidadania, para todos”

No final do ‘Concerto falado’ com o cantor e compositor Fernando Daniel, o SNEC apresentou ainda mensagens de responsáveis católicos portugueses que apelaram à inscrição na disciplina de EMRC, para o próximo ano letivo. D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, afirmou que este é “um espaço de cidadania, para todos”. “Trata-se de discutir o nosso presente e o nosso futuro à luz daquilo que entendemos, como cristãos”, indicou.

Já o presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, D. António Moiteiro, referiu aos estudantes que “é muito importante fazer opções para o futuro, opções de liberdade, de responsabilidade, de discípulos de Jesus”. O Bispo de Aveiro dirigiu-se ainda aos professores, com uma “palavra de esperança”. “Que saibais semear, no coração dos vossos alunos e no coração de cada um de vós, esta esperança de um mundo novo”, desejou.

‘Concerto falado’ do cantor Fernando Daniel: 

 

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Papa enviou mensagem para a Semana de EMRC

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos alunos e docentes de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), encerrando a semana dedicada a esta disciplina em Portugal, com desafios ao desenvolvimento do potencial dos estudantes. “Ser educador não é meter ideias na cabeça e nada mais, não é disciplinar os alunos e nada mais. Não: ser educador é ser como um maestro da orquestra, que sabe harmonizar todas as potencialidades dos alunos, que se envolve em tudo isto”, refere Francisco, na mensagem que foi apresentada no encerramento da transmissão online do canal do portal ‘Educris’, do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC).

A intervenção sublinhou a necessidade de “educar as três linguagens da pessoa”, falando na “linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem das mãos”. Um professor, insistiu o Papa, “harmoniza tudo, ensina a pensar, ensina a sentir, ensina a agir, a ser”. “Tudo, numa tal harmonia que os alunos cheguem a pensar o que sentem e o que fazem; sintam o que pensam e o que fazem; façam o que sintam e o que pensam”, apontou.

O Papa incentivou ainda os professores a seguirem “em frente!”. “Não teorizem sobre a Educação, a Educação é acompanhar, fazer um caminho, de tal maneira que os rapazes e as raparigas cresçam cada vez mais. Que Deus vos abençoe e em frente! Rezem por mim, por favor”, pediu.


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