
Quando em janeiro iniciámos este tempo de confinamento, em que ainda nos encontramos, fiz a pergunta: ‘O Natal matou a Páscoa?’. Como é óbvio, é um título provocador, sobretudo tendo em conta que não esperávamos vir a celebrar, com as comunidades reunidas, a maior festa do ano, mas também porque sabemos que a Páscoa, a Ressurreição de Jesus, é a base e o fundamento da nossa fé.
O alargamento das restrições necessárias para o combate à pandemia, no período do Natal, e o mau uso da liberdade dada nesse tempo, terá levado a um despoletar de situações que colocou o país no pódio das infeções. Foi necessário um novo encerramento, apesar das muitas dificuldades que isso traz e da crise económica e social que provoca, mas percebemos, mais uma vez, que é sempre necessário um esforço de todos para lutar contra as tempestades da vida.
Assim como o povo de Israel, que para sair da escravatura do Egipto teve que atravessar o deserto para chegar à Terra Prometida, enfrentando muitas dificuldades e tantas vezes sendo infiel ao Deus que o quis salvar, também nós precisamos de passar pelos desertos e pelas tempestades para perceber o que significa a Páscoa.
Páscoa significa ‘passagem’ e é passagem da morte à vida. Jesus Cristo, morto na cruz, ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte, quebrando as cadeias em que tantas vezes nos encontramos, os grilhões que nos prendem às situações que nos afastam do amor, de Deus e dos outros. E quantas Páscoas acontecem na nossa vida! Quantas mortes já vencemos e vidas que alcançámos ao longo do tempo!
Confesso que não acreditava na possibilidade de celebrarmos juntos a Páscoa deste ano, e estava mesmo consciencializado de que seria um novo sofrimento pela solidão nos templos; mas assim como ainda hoje há quem não acredite na Ressurreição, percebo que esta é mais uma prova de que Ele está vivo. Santa Páscoa!
Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
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