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‘A Economia de Francisco’
“Não pensemos pelos pobres, pensemos com os pobres”
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O Papa quer que o mundo encontre soluções económicas com os pobres e não apenas para os pobres. Numa mensagem vídeo dirigida ao encontro ‘A Economia de Francisco’, o Santo Padre apelou à solidariedade em moldes diferentes do que o mero assistencialismo, que por mais bem-intencionado que seja, corre o risco de perpetuar sistemas de injustiça. 

“Existem os pobres, os excluídos... É hora de eles se tornarem protagonistas da sua vida e de todo o tecido social. Não pensemos por eles, pensemos com eles. Lembrem-se da herança do iluminismo, das elites iluminadas. Tudo para o povo, nada com o povo. Isto não está certo. Não pensemos por eles, pensemos com eles. E com eles aprendamos a desenvolver modelos económicos que irão beneficiar a todos, porque a abordagem estrutural e decisória será determinada pelo desenvolvimento humano integral, tão bem elaborado pela doutrina social da Igreja”, observou o Papa, recordando que este encontro não marca o fim de um processo, mas o início de uma caminhada, e que os pobres e excluídos têm de passar a ter lugar à mesa das decisões. “É preciso aceitar estruturalmente que os pobres têm a dignidade suficiente para se sentarem nos nossos encontros, participarem nas nossas discussões e levarem pão para suas casas. E isso é muito mais do que assistencialismo: estamos a falar de uma conversão e transformação das nossas prioridades e do lugar do outro nas nossas políticas e na ordem social”, alertou.

 

Consciência responsável

Aos cerca de 115 participantes no encontro online, de diversos países, incluindo Portugal, Francisco pediu que tenham noção da importância do seu papel. “A gravidade da situação atual, que a pandemia de Covid tornou ainda mais visível, exige uma tomada de consciência responsável de todos os atores sociais, de todos nós, dos quais vocês tem um papel primordial. As consequências das nossas ações e decisões vão afetar-vos na primeira pessoa, portanto não podeis ficar fora dos lugares onde é gerado, não digo o vosso futuro, mas o vosso presente. Não podeis ficar fora de onde se gera o presente e o futuro. Ou vocês se envolvem, ou a história vos passará por cima”, indicou o Papa.

Para que esta caminhada de busca de novos modelos económicos tenha algum sucesso, é necessário que se abandone a “cultura do descarte”, e se abrace um novo paradigma, sublinhando que “não estamos condenados a modelos económicos cujo interesse imediato se limita ao lucro e à promoção de políticas públicas favoráveis, sem se preocuparem com os custos humanos, sociais e ambientais”. “Vocês experienciaram a cultura do encontro de que tanto precisamos, que é o oposto da cultura do descarte que está na moda. Esta cultura do encontro torna possível que sejam escutadas muitas vozes em torno da mesma mesa, para que se dialogue, considere, discute e formule, numa perspetiva poliédrica, diferentes aspetos e possíveis respostas para problemas globais envolvendo os nossos povos e as nossas democracias”, afirmou o Papa, acrescentando que “não é fácil caminhar rumo a reais soluções quando aqueles que não pensam como nós são desacreditados, caluniados e mal citados! Desacreditar, caluniar e citar mal são formas cobardes de recusar tomar decisões necessárias para resolver muitos problemas”.

 

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“Não se constrói um mundo melhor sem uma economia melhor”

Os participantes do encontro ‘A Economia de Francisco’ estão “convencidos” de que “não se constrói um mundo melhor sem uma economia melhor” e que “a economia é importante demais para a vida dos povos e dos pobres para que todos nós não nos ocupemos disso”.

Na declaração final do encontro, assinada pelos “jovens economistas, empresários, change makers do mundo”, que assim quiseram “enviar uma mensagem aos economistas, empresários, decisores políticos, trabalhadores e trabalhadoras, cidadãs e cidadãos do mundo”, os participantes fazem 12 pedidos. Desde logo, que (1) “as grandes potências mundiais e as grandes instituições económico-financeiras desacelerem a sua corrida para deixar a Terra respirar”, mas também (2) “seja ativada uma comunhão mundial das tecnologias mais avançadas para que, também nos países de baixa renda, as produções sejam sustentáveis” e (3) “a questão da custódia dos bens comuns seja colocada no centro das agendas dos governos e do ensino nas escolas, universidades, business schools do mundo inteiro”. É ainda feito o apelo a que (4) “nunca mais sejam usadas as ideologias económicas para ofender e descartar os pobres, os doentes, as minorias e os desfavorecidos de todos os tipos”, que (5) “o direito ao trabalho digno para todos, os direitos da família e todos os direitos humanos sejam respeitados na vida de cada empresa, para cada trabalhadora e cada trabalhador”, sejam (6) “imediatamente abolidos os paraísos fiscais no mundo inteiro”, mas também (7) “sejam fundadas novas instituições financeiras mundiais e sejam reformadas as existentes (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional)” e que (8) “as empresas e os bancos, especialmente os grandes e globalizados, introduzam um comité ético independente” e as (9) “instituições nacionais e internacionais prevejam prémios em apoio aos empresários inovadores no âmbito da sustentabilidade ambiental, social, espiritual e, não menos importante, gerencial”. É ainda pedido que (10) “os Estados, as grandes empresas e as instituições internacionais cuidem de uma educação de qualidade para cada menina e menino do mundo”, as (11) “organizações económicas e as instituições civis” não descansem “enquanto as trabalhadoras não tiverem as mesmas oportunidades dos trabalhadores”. Esta declaração termina com um apelo à paz (12): “Nós, jovens, não toleramos mais que sejam subtraídos recursos da escola, da saúde, do nosso presente e futuro para construir armas e alimentar as guerras necessárias para vendê-las. Gostaríamos de dizer aos nossos filhos que o mundo em guerra acabou para sempre”.

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