Doutrina social |
A realeza de Cristo e a celebração do Dia do Pobre
Uma realeza diferente
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No final do ano litúrgico, os textos bíblicos encaminham-nos para o fim, não como uma situação em que temos o nada, mas pelo contrário, uma situação em que se encontra o sentido profundo da caminhada. Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo nos conduz ao sentido da plenitude, que vai afastando o medo, a insegurança, o fatalismo e o acaso.

 

Ele é Rei

O título de Rei atribuído a Jesus contraria a natural apetência pelo poder e motiva para uma nova forma de encarar a presença e a inserção no mundo. Apoiados no que Ele ensinou e fez impõe-se uma atitude de conversão interior e exterior da pessoa e da comunidade. Não por serem diferentes; todos levam consigo a dita apetência pelo poder e protagonismo, como aconteceu com a mãe dos filhos de Zebedeu ao pedir que eles no seu reino ocupassem os primeiros lugares. Não sabia o que estava a pedir. Já aí o Senhor baralhou tudo ao afirmar que entre os grandes do mundo as coisas entendem-se dessa maneira, “mas entre vós não será assim: quem quiser ser importante, torne-se o servidor (Mc 10,42)”. Ele o ensinou e o confirmou noutras ocasiões, nomeadamente quando, despido de qualquer sinal de poder, respondeu a Pilatos: “Eu sou Rei” e poucas horas depois, já prestes a expirar, em resposta ao companheiro de suplício pedindo que se lembrasse dele, garantiu: “Tu hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,35).

Não há seguimento autêntico do Mestre sem esta conversão, sem esta visão. Como nos lembrava S. Paulo na carta aos Filipenses o esvaziamento e a humilhação de Jesus não O conduziram ao nada, à negação da vida, mas pelo contrário à plenitude da sua missão. Por isso Deus o exaltou acima de tudo; Ele é Deus e Senhor (Fil 2,5-11). A sua realeza manifesta-se na fragilidade e coloca-nos perante o desafio da conversão do olhar e do agir perante as realidades do mundo.

 

Realeza e pobreza

Nessa linha, pode-se ligar a celebração da realeza de Cristo com a celebração do Dia do Pobre, uma semana antes. Propondo-a, o Papa quis indicar que “a pobreza está no âmago do Evangelho” e quis lembrar na carta que o instituiu que “não haverá justiça nem paz social enquanto o Lázaro (o da parábola de Lc. 16,19) jazer à porta da nossa casa.”

Assim, o crescimento do Reino de Deus deverá ser aferido não pela grandeza dos templos, das obras e instituições da Igreja, mas antes pela atitude prática de acolhimento e de serviço.
Falando na pobreza não nos limitamos aos 820 milhões de pessoas com fome no mundo, segundo o relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, afirma que os esforços para acabar com a fome mundial até 2030 estão a fracassar.

O escândalo da fome, a falta de meios para ter acesso à educação formal, acompanhada da ausência de cuidados de saúde constituem o cenário chocante do dia a dia de grande parte da Humanidade.

A solidão que afeta ricos e pobres também é filha de um mundo que dá prioridade ao ter e a uma “economia que mata”.

As guerras que destroem pessoas e bens e produzem multidões de refugiados são crimes de lesa-humanidade e praticados numa total impunidade.

O exercício do poder em função dos interesses grupais e não do bem comum é o vírus que deixa a classe política e os cidadãos que os escolheram num estado morboso que trava o desenvolvimento equilibrado da sociedade.

 

Celebração e compromisso

Virando-nos para a nossa realidade, temos em conta os dados estatísticos apresentados pela Pordata segundo os quais, no ano de 2017, se registou uma redução para 17% do número de pessoas consideradas pobres, tendo em conta os 19% atingidos no tempo da crise. Há, no entanto, que estar prevenidos de que “as estatísticas escondem casos reais e situações crónicas”, como foi dito pela Cáritas Portuguesa e pela Comunidade Vida e Paz. Por sua vez Henrique Pinto, fundador da Impossible-Passionate Happenings, no Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza afirmou que esses números “são montados à mesa de trabalho e têm pouca correspondência com a realidade dos portugueses e faz falta ouvi-los”. Mas também refere que “não é possível erradicar a pobreza sem que se mude de estilo de vida, porque mesmo endividados continuarmos a consumir, sejam férias, carros ou vidas de ‘show off’.
O reino de Deus cresce quando as pessoas se deixarem transformar por uma visão nova da realidade e por um agir em conformidade.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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