
Terminou o Sínodo dos Bispos para a Amazónia e, como seria de esperar, começaram as especulações e deturpações sobre o que ficou escrito no documento final daquela assembleia que deverá servir, agora, para a exortação apostólica pós-sinodal que o Papa Francisco irá escrever.
A reflexão realizada durante o mês de outubro, pelos padres sinodais em Roma, é muito vasta e deixou algumas anotações e propostas com vista a uma atenção diferente, por parte da Igreja, para com estes povos indígenas. Por exemplo, a questão da migração a que estes povos estão sujeitos, tantas vezes numa deslocação forçada, ou até a migração internacional e os refugiados. O documento final do Sínodo convida, assim, a colocar a atenção nesta deslocação forçada de famílias indígenas para os centros urbanos, apelando a uma “pastoral de conjunto nas periferias”, com vista a uma maior coordenação com as paróquias, oferecendo liturgias inculturadas e favorecendo a integração dessas comunidades nas cidades. Também, deste documento, sai, entre outros temas, a importância do diálogo ecuménico e inter-religioso; a tomada de posição da Igreja como aliada das populações indígenas, sobretudo na denuncia dos ataques contra as suas vidas; o respeito pelo direito à autodeterminação e à delimitação dos territórios; a promoção de uma ecologia integral e de uma conversão ecológica; a defesa dos direitos humanos; a defesa da vida; o lugar da mulher, com a proposta da ordenação de mulheres como diáconos permanentes; e a proposta de levar os sacramentos aos povos mais distantes, através da ordenação presbiteral de diáconos permanentes.
Não se trata de ordenar padres homens casados, mas sim de conferir o segundo grau do sacramento da Ordem (presbítero) àqueles que já são diáconos permanentes, e já receberam o sacramento do Matrimónio. Refere o documento, no artigo nº111 – o que teve maior número de votos contra – que “muitas comunidades eclesiais do território amazónico têm enormes dificuldades para aceder à Eucaristia”, chegando a passar “não apenas meses, mas vários anos sem que um sacerdote possa regressar para celebrar a Eucaristia ou até a reconciliação, ou ungir os enfermos”. Neste sentido, os padres sinodais propõem, para esta realidade da Amazónia – embora alguns se tenham manifestado para uma abordagem mais universal, refere o próprio documento –, ordenar sacerdotes “a homens idóneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconado permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado, podendo ter família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã mediante a pregação da Palavra e a celebração dos sacramentos nas zonas mais remotas da região amazónica”. Trata-se, assim, de conferir o segundo grau da Ordem a quem já recebeu o primeiro e é reconhecido como idóneo pela comunidade. Contudo, são apenas propostas e as decisões tomadas no Sínodo não são vinculativas, servem para ajudar o Papa Francisco num trabalho de caminho conjunto da Igreja, em que todos se podem manifestar. E isso é sinodal! Agora, cabe ao Sucessor de Pedro decidir como levar Jesus à Amazónia.
Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt
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