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Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Christus vivit’ (‘Cristo vive’), do Papa Francisco
“Ele vive e quer-te vivo!”
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“CRISTO VIVE: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!”. É desta forma que tem início a Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Christus vivit’, do Papa Francisco, que foi publicada no passado dia 2 de abril e é dirigida “aos jovens e a todo o povo de Deus”.

 

No documento, composto por nove capítulos divididos em 299 parágrafos, o Papa explica que se deixou “inspirar pela riqueza das reflexões e diálogos do Sínodo dos jovens”, que decorreu no Vaticano, em outubro de 2018. Francisco aborda o tema dos primeiros anos de Jesus, referindo que estes aspetos não deveriam ser ignorados na pastoral juvenil, “para não criar projetos que isolem os jovens da família e do mundo”. O Papa explica ser necessário a Igreja apresentar a figura de Jesus “de modo atraente e eficaz”. “Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado debruçada sobre si mesma, mas procure sobretudo refletir Jesus Cristo. Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar”, alertou.

Na Exortação Apostólica, Francisco reconhece que há jovens que sentem a presença da Igreja “como importuna e até mesmo irritante”. Há jovens que “reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas tampouco desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam”.

 

“Não podemos ser uma Igreja que não chora”

Sobre a realidade juvenil, o Papa recorda os jovens que vivem em contextos de guerra, explorados e vítimas de sequestros, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual. “Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto”, escreve.

Acenando a “desejos, feridas e buscas”, Francisco fala da sexualidade: “Num mundo que destaca excessivamente a sexualidade, é difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas”, frisou, lamentando que os jovens vejam na Igreja um espaço de julgamento e condenação.

‘Christus vivit’ detém-se depois no tema do “ambiente digital”, que criou “uma nova maneira de comunicar”, mas é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência. “A reputação das pessoas é comprometida através de processos sumários on-line. O fenómeno diz respeito também à Igreja e aos seus pastores”, observou.

Outro tema focado pelo Papa são os migrantes e como os jovens estão diretamente envolvidos nas migrações. O Papa alerta-os para a difusão de uma mentalidade xenófoba, contrapondo-os entre si.

Francisco fala também dos abusos sobre menores e expressa gratidão “a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido”. O abuso não é o único pecado dos membros da Igreja, recorda o Papa. “Lembremo-nos, porém, que não se abandona a Mãe quando está ferida”, salienta. Com a ajuda preciosa dos jovens, este momento pode ser uma oportunidade “para uma reforma de alcance histórico para se abrir a um novo Pentecostes”, desejou.

 

“Três grandes verdades”

O Papa anuncia três grandes verdades, “que todos nós precisamos de escutar sempre de novo”. A primeira: “Deus que é amor”. A segunda: “Cristo salva-te”. A terceira verdade é que “Ele vive!”. Nestas verdades, aparece o Pai e aparece Jesus. E onde estão o Pai e Jesus, também está o Espírito Santo, escreve Francisco, aconselhando os jovens a invocarem todos os dias o Espírito Santo: “Não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida”, aconselhou.

Francisco recorda ainda que a juventude não pode ser um “tempo suspenso”, porque é “a idade das escolhas”, por isso é importante procurar “um desenvolvimento espiritual”. O Papa propõe “percursos de fraternidade” e a importância de ser jovens comprometidos, que procuram o bem-comum. “O empenho social e o contacto direto com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação”. Em outras palavras, os jovens são chamados a ser “missionários corajosos”.

Não poderia faltar a referência à “relação com os idosos”. Se “os jovens se enraizarem nos sonhos dos idosos, conseguem ver o futuro”. É preciso, portanto, “arriscar juntos”, convidou.

 

Pastoral juvenil

Um capítulo inteiro, o sétimo, é dedicado à ‘Pastoral dos jovens’. A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, explica o Papa, sendo um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida. Francisco deseja “dar espaço” a “uma pastoral juvenil popular”, “mais ampla e flexível que estimula, nos distintos lugares onde se movem concretamente os jovens, as lideranças naturais e os carismas que o Espírito Santo já semeou entre eles”. Outro ponto fundamental é o discernimento, seja para a vida familiar, seja para a consagração a Deus.

No que diz respeito ao trabalho, o Papa recorda que “é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal”.

A Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Christus vivit’ (‘Cristo vive’) conclui com “um desejo” do Papa Francisco: “Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi «atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós»”.

 

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‘Christus vivit’ é “um ótimo contributo pastoral” para a JMJ Lisboa 2022

O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família considera que a Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Christus vivit’ (‘Cristo vive’), do Papa Francisco, vai orientar o caminho para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2022, em Lisboa. “Esta exortação é um ótimo contributo pastoral para o caminho que temos de fazer, que é um caminho de evangelização”, referiu D. Joaquim Mendes, à Agência Ecclesia.

O Bispo Auxiliar de Lisboa, que acompanha Pastoral Juvenil em Portugal, foi um dos representantes do episcopado português na assembleia do Sínodo dos Bispos de 2018, que debateu a relação entre Igreja Católica e novas gerações. Segundo D. Joaquim Mendes, o próprio Papa deu indicações para que a JMJ 2022 tenha um “dinamismo evangelizador, de saída”, pelo que é necessário perceber, “com criatividade, como é que jovens católicos podem convocar outros para esta experiência do encontro com Jesus, do serviço aos últimos, por aí fora”. “O que já temos claro é que esta Jornada tem de ser um momento forte de evangelização. Tem de ter esta dimensão missionária”, assinala.

O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família refere ainda que o novo documento assinado por Francisco, dirigido à juventude, está em continuidade com o Sínodo de 2018, recolhendo os apelos de bispos e jovens. “Esta reflexão com os jovens e sobre os jovens convoca e estimula todo o Povo de Deus, não deixando de fazer também uma exortação às comunidades, para um exame de consciência e para rever os seus critérios pastorais”, aponta.

Para o Bispo Auxiliar de Lisboa, o texto mostra o estilo do Papa, “de proximidade, de ternura, de descer ao coração dos jovens”, numa linguagem acessível que fala à realidade em que os jovens se encontram. Na exortação, Francisco defende uma “pastoral popular juvenil”, mais “ampla e flexível”, contrariando uma proposta católica “separada das culturas juvenis e apta apenas para uma elite juvenil cristã”. D. Joaquim Mendes sublinha, a este respeito, que o Papa convoca os jovens para serem missionários dos outros jovens. “Convoca os jovens para falarem de Jesus Cristo, para o darem a conhecer, convocar os outros para a experiência com Ele. Em relação à evangelização dos jovens, o Papa convoca e desafia, dá indicações concertas sobre como podem fazer para levar os outros a encontrar Jesus Cristo. Os jovens missionários dos jovens”, frisa.

O prelado fala também na “bela surpresa” de uma exortação que recolhe os “núcleos temáticos” do Sínodo 2018, com mais de 50 citações do documento final da assembleia, em particular nas áreas do mundo digital, dos migrantes e dos abusos sexuais. O convite de Francisco, assinala D. Joaquim Mendes, é a “trabalhar em conjunto, caminhar juntos”. “É uma pastoral juvenil que não fique somente na doutrinação e na formação”, observa. “São as relações pessoais que evangelizam. Essas relações têm de estar também presentes nas estruturas. Há desafios muito concretos, passos que se podem dar, mudanças que se podem dar já”, acrescenta.

Para o bispo responsável pela Pastoral Juvenil em Portugal, é agora necessário “falar deste documento” aos jovens, para que saibam da sua existência, e depois “torná-lo acessível”.

 

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‘Cristo vive’, em português

A mais recente Exortação Apostólica do Papa Francisco, ‘Christus vivit’ (‘Cristo vive’), está já disponível em português, na livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa (Mosteiro de São Vicente de Fora). Os livros foram publicados pela Paulus Editora e também pela Paulinas Editora.

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