Especiais |
Sínodo dos Bispos, em Roma
Favorecer o diálogo e a missão
<<
1/
>>
Imagem

No Sínodo dos Bispos, os participantes já refletem sobre a primeira versão do documento final. Após mais de duas semanas de trabalhos, foi proposta a criação de um observatório para a juventude, e feito o convite a não se “descurar” a “promoção de uma cultura vocacional”.

 

A primeira versão do documento final do Sínodo dos Bispos, sobre ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, foi apresentada nesta terça feira, 23 de outubro. O documento, ainda reservado, está agora a ser trabalhado por todos os participantes. Depois de feitas observações e alterações ao texto, em dois encontros, os pontos serão votados e apresentados ao Papa Francisco.

O relator geral do Sínodo, cardeal Sérgio da Rocha, explicou que este documento final foi elaborado a partir do Instrumentum Laboris, texto base de referência, e do fruto do discernimento realizado pelos participantes no Sínodo. Na sala onde decorrem os trabalhos, o cardeal brasileiro referiu que estas duas fontes, sendo complementares, dão “uma visão da complexidade das questões levantadas e dos dinamismos em ato no caminho para enfrentá-los: são lidos juntos porque, entre eles, há uma referência contínua e intrínseca”.

Esta primeira versão do documento final conta também com os pronunciamentos, relatórios e emendas sugeridas durante as mais de duas semanas de trabalho e segue a estrutura já existente no Instrumentum Laboris (reconhecer, interpretar, selecionar), mas refletindo a passagem dos discípulos de Emaús: ‘Caminhava com eles’, ‘seus olhos abriram-se’ e ‘partiram sem demora’. O texto, que está dividido em 173 parágrafos, será posteriormente votado e entregue a toda a Igreja. Segundo o cardeal Sérgio da Rocha, o ponto de partida e o ponto de chegada do documento “é o povo de Deus, na variedade de situações socioculturais e eclesiais". “O caminho sinodal, de facto, ainda não terminou, porque prevê uma fase de implementação. Será importante que as Igrejas particulares e as Conferências Episcopais possam assumir de maneira criativa e fiel a dinâmica do documento final, a fim de adaptar ao seu contexto o que surgiu durante os trabalhos", acrescentou o relator geral do Sínodo dos Bispos, acrescentando que este processo sinodal “não termina com receitas pastorais a serem assumidas – seria o oposto do discernimento”. Na mesma ocasião, foi também lembrado que os padres sinodais estão a preparar uma carta dirigida aos jovens de todo o mundo.

 

Observatório para a juventude

O relatório do grupo de trabalho de língua portuguesa sobre a terceira e última parte do Instrumentum Laboris propôs a criação de um observatório para a juventude, na Santa Sé. No documento apresentado no passado dia 20 de outubro, os intervenientes lusófonos sublinharam a “necessidade de integração e comunhão de todas as forças eclesiais que trabalham com a juventude”, e a exigência de estruturas paroquiais, diocesanas e nacionais que “favoreçam o diálogo e a missão”. Por isso, “seria oportuno a criação de um ‘conselho’ ou ‘observatório’ mundial da juventude”, sustentam. Esta necessidade foi também apontada por outros grupos de trabalho, nos círculos menores, de forma a coordenar os “temas relacionados com os jovens”, no Vaticano e a nível mundial.

O círculo lusófono sublinhou ainda a “importância de um maior diálogo e colaboração entre os diferentes organismos da Cúria Romana que, de alguma maneira, têm relação com o mundo juvenil”. O relatório em língua portuguesa, que é utilizada pela primeira vez como idioma oficial no Sínodo, apela a uma Igreja e sociedade “inclusivas”, capazes de promover a “solidariedade com os mais necessitados e o cuidado da casa comum”.

 

Protagonistas da evangelização

Em relação ao mundo digital, os representantes dos episcopados lusófonos desejam que os jovens sejam “protagonistas na evangelização e não somente destinatários”. O documento convida a considerar o acompanhamento juvenil como um “verdadeiro processo de iniciação à fé cristã e à vida eclesial”. “A Igreja é chamada a ajudar os jovens a terem uma visão integral da vocação, que leve em conta as dimensões humana, comunitária, espiritual, pastoral e social”, pode ler-se.

O texto alerta que, apesar de o termo “vocação” ser suscetível de “algumas reservas”, é necessário “não descurar a promoção de uma cultura vocacional, com especial atenção à vocação especificamente religiosa e sacerdotal”. Os participantes desafiam a comunidade católica a fazer “escolhas corajosas” em ordem à renovação da Pastoral Juvenil, investindo nela recursos humanos e materiais, incluindo “pessoas com dedicação exclusiva” a esta pastoral. “O Sínodo é uma oportunidade de manifestar a opção preferencial pelos jovens, traduzida em escolhas concretas e corajosas a nível paroquial, diocesano, nacional e internacional”, assinala o relatório, com 18 pontos.

Outros temas abordados pelos grupos linguísticos foram as migrações; o acolhimento, nas comunidades católicas, das pessoas homossexuais; o papel das mulheres e a liderança na Igreja; ou a crise dos abusos sexuais, com o grupo de trabalho de língua alemã a pedir “mudanças concretas” na prevenção e na resposta às vítimas. “O documento final não pode começar sem uma palavra clara sobre o drama do abuso sexual de crianças e adolescentes”, escreveu o grupo de trabalho germânico.

 

Jovens e idosos

No decorrer do Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco apresentou o livro ‘Partilhando a Sabedoria do Tempo’ (Loyola Press). Na iniciativa que decorreu na tarde do passado dia 22 de outubro, no Instituto Patrístico Augustinianum, em Roma, Francisco respondeu a perguntas de um grupo de jovens e idosos, oriundos da Colômbia, Itália, Malta e Estados Unidos da América, incluindo o realizador Martin Scorsese, que falou do “sofrimento real” que experimentou nas ruas de Nova Iorque (EUA), aparentemente “distante” da mensagem que lhe era transmitida pela Igreja Católica. “A não-violência, a mansidão, a ternura, estas virtudes humanas que parecem pequenas, são capazes de superar os conflitos mais duros”, observou o Papa, em resposta.

O novo projeto editorial, com 250 entrevistas e reflexões do Papa, quer dar vida ao seu sonho de uma “aliança entre jovens e idosos” e conta com o prefácio do próprio romano pontífice.

Na apresentação da publicação, o Papa valorizou o papel dos avós na transmissão da fé em contextos de perseguição, como aconteceu no século XX, e defendeu que a fé se transmite “em dialeto”, em casa, “sem perder a paz” e sem “tentar convencer”. “A fé cresce por atração, pelo testemunho”, precisou, defendendo que o silêncio e a ternura que acompanha as pessoas destroem “quaisquer resistências”. Em resposta a outra pergunta, que lhe foi dirigida como a um “avô”, Francisco desafiou os jovens a “sonhar, sem vergonha”, e a assumir os sonhos dos mais velhos, para os “levar por diante”. “O sonho que recebemos de um idoso é um peso, uma responsabilidade”, advertiu.

 

A reportagem do Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade

 

________________


Igreja deve “sublinhar o protagonismo dos jovens”

O presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios afirmou, no Vaticano, que a Igreja deve “sublinhar o protagonismo dos jovens”. “Os jovens são Igreja, fazem parte dela, são uma parte importante”, assinalou D. António Augusto de Azevedo, em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, após a apresentação do relatório do grupo de língua portuguesa sobre a terceira e última parte sobre o documento de trabalho do Sínodo dos Bispos 2018.

O Bispo Auxiliar do Porto, que representa a Conferência Episcopal Portuguesa no Sínodo dos Bispos, sublinhou que o debate ajudou a “perceber que escolhas estão hoje diante da Igreja e dos jovens” e realçou a necessidade de promover um debate sobre o tema da vocação, “num sentido alargado”, onde a Igreja ajuda cada um a fazer o seu caminho de fé e descoberta de si mesmo.

 

________________


Jovens exigem “mudança de mentalidade”

O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família considera que as comunidades católicas devem promover uma “mudança de mentalidade” na sua relação com as novas gerações. “Penso que o desafio maior é uma mudança de mentalidade, em relação à realidade juvenil. Naturalmente, isso leva a uma mudança também de coração, a uma mudança de atitude e depois também a adquirir o diálogo com esta realidade, com o mundo juvenil, a assumir o diálogo como método, como processo, de modo a buscarmos juntos os caminhos”, referiu D. Joaquim Mendes, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

O delegado da Conferência Episcopal Portuguesa na assembleia sinodal realça que o Sínodo “não traz propriamente receitas”, mas quer levar todos a questionar-se sobre os espaços que são oferecidos aos jovens, na Igreja Católica, e o que estes têm a oferecer, por sua vez, para evangelizar, renovar as comunidades e “mudar as estruturas”.

 

________________


Entrevista ao cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Cáritas Internacional

“Todos somos migrantes neste mundo”

 

Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da confederação internacional da Cáritas, garantiu que a questão dos jovens migrantes está no centro do Sínodo dos Bispos, que decorre no Vaticano, e desafia a Igreja a encontrar novas soluções.

 

O mundo está mais preocupado em levantar muros e fechar fronteiras, e enfrenta também o crescimento do populismo. Qual a importância de ter gestos simbólicos e efetivos de mostrar ao mundo que é possível caminhar juntos?

Esta atmosfera de separação, divisão, de incutir medo no outro – e depois ter esta ideia de construir muros ou destruir pontes que foram construídas –, acontece devagar. E nós podemos travá-la, ou pelo menos abrandá-la, com pequenas ações no dia a dia, com paciência. O apelo do Santo Padre é o de desenvolver uma cultura de encontro pessoal. Às vezes, temos medo quando falamos destas noções de migração, de refugiados... mas se chamarmos todas estas noções ao nível da realidade, vemos que todas elas são sobre seres humanos. Portanto, vamos encontrar-nos como seres humanos. Quando ouvirmos as histórias dos migrantes, os seus sonhos, veremos que eles não são diferentes de nós. Aí, poderemos todos dar as mãos e caminhar juntos.

 

Como nós, portugueses, há filipinos espalhados por todo o mundo. Como é que se passa a mensagem de que todos somos viajantes do mundo?

Antes de mais, gostaria de recordar a todos, no mundo, que todos temos antepassados que já foram migrantes, e muitos de nós até agora temos um irmão, uma irmã, tio ou sobrinho que é migrante noutra parte do mundo. Por isso, apelo a todos os que estão a alimentar este medo dos migrantes: não se esqueçam disto, porque é a falta de memória que nos torna vazios perante as outras pessoas.

A vida é uma viagem, e todos somos migrantes neste mundo. Ninguém pode afirmar: “Sou um residente permanente e tenho o direito de ficar aqui”. Não, isto é um dom. Apenas Deus tem posse sobre esta terra, nós estamos apenas a caminho.

Finalmente, se olharmos para todos os nossos países e para as suas economias, verificamos que boa parte do crescimento dessas economias é devido ao contributo dos migrantes. Retirem os migrantes e as economias irão entrar em colapso.

 

Uma das questões que tem vindo a ser colocada neste Sínodo tem sido o problema das migrações nas novas gerações. Quão importante é ter este assunto de forma permanente na agenda do Sínodo?

Acho que é uma das bênçãos deste Sínodo. Os Bispos e especialmente os jovens de países onde há muitas migrações forçadas, dizem que as pessoas não querem deixar as suas casas, mas são obrigadas devido à pobreza, falta de emprego, guerras, ódios. Isto tornou-se uma característica permanente na vida destes jovens. O desafio para a Igreja é o de saber se incluímos esta realidade na nossa pastoral juvenil. Muitas vezes, quando pensamos em pastoral juvenil, pensamos em catequese, e está correto; pensamos em liturgia, e está certo; pensamos em liderança, e está certo. Mas quando passamos a contar com jovens que estão em fuga, que são vulneráveis porque são obrigados a emigrar, há toda uma nova área de pastoral. Difícil, mas que irá renovar a pastoral juvenil em muitas partes do mundo.

 

A reportagem do Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade

texto por Filipe Teixeira; fotos por Ricardo Perna/Família Cristã
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES