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Sínodo dos Bispos conhece primeiras conclusões
“Promover e relançar a participação ativa dos jovens na vida eclesial”
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Após sete dias de trabalhos, os padres sinodais apresentaram as primeiras conclusões das reuniões dos ‘círculos menores’ do Sínodo dos Bispos, onde, pela primeira vez, o português é uma das línguas oficiais. Na abertura do Sínodo dos Bispos sobre ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, o Papa Francisco pediu aos padres sinodais uma “escuta sincera, orante” e “livre de preconceitos e condições”.

 

No final de uma semana de reunião sinodal, foram conhecidas as primeiras propostas dos vários grupos de trabalho, entre os quais, o grupo de língua portuguesa que, pela primeira vez, é incluída como uma das línguas oficiais do Sínodo. Este grupo, que tem como relator o Bispo Auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, D. Joaquim Mendes, apresentou várias propostas que incidem em várias áreas, tais como a família, a sexualidade ou a utilização da tecnologia. “Outro espaço fundamental a considerar é o ambiente digital, parte intrínseca da cultura juvenil, na qual o mundo digital e o presencial convivem simultaneamente. A Igreja precisa de estar presente neste ambiente por meio dos próprios jovens”, refere o relatório que apresenta as conclusões das primeiras reuniões do ‘círculo menor’ lusófono.

No documento divulgado pela Santa Sé e apresentado na 5ª reunião geral do Sínodo, no dia 9 de outubro, foi também sublinhado “o papel fundamental da família na vida dos jovens e a crise de identidade das funções do pai e da mãe”, e enaltecido o “valor” das “jornadas mundiais, nacionais e diocesanas da juventude, que colocam o jovem no centro da ação eclesial”. Contudo, observou-se que “nem todas as propostas nacionais e diocesanas de trabalho com os jovens têm ressonância nas comunidades paroquiais”, existindo, por parte da Igreja, “em alguns contextos”, “dificuldade de transmitir corretamente aos jovens a visão antropológica cristã do corpo e da sexualidade”, apesar de já haverem “boas práticas de diálogo”. O grupo de trabalho apelou ainda a “um processo de iniciação cristã que conduza ao encontro pessoal com Jesus Cristo”, “consolide a identidade cristã, o sentido de pertença à Igreja e o compromisso missionário”.

As conclusões da primeira fase dos vários ‘círculos menores’ apontam a uma maior valorização do papel dos jovens na Igreja. “A sua participação ativa na vida eclesial deve ser promovida e relançada, o seu compromisso deve ser bem aproveitado numa perspetiva de verdadeira sinodalidade, para que sejam protagonistas, com responsabilidade, de processos e não de eventos individuais. Deste modo, eles serão evangelizadores dos seus contemporâneos”, referem os padres sinodais. Também o risco de uma “demência digital” e o desafio de existir uma pastoral familiar que valorize a transmissão da fé entre as várias gerações foram alguns dos pontos referidos pelos padres sinodais, nos vários grupos de trabalho.

 

Abertura

Os primeiros dias da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, mostrou, segundo os participantes, um ambiente franco, onde se falou abertamente, mesmo sobre os temas mais “incómodos”. “Uma Igreja que não tem medo de falar de temas incómodos”. Este foi, para o escritor italiano Thomas Leoncini, o ambiente que encontrou nos primeiros dias de participação no Sínodo dos Bispos. Num dos briefings diários à imprensa, o autor italiano, de 33 anos, afirmou que os trabalhos iniciados no passado dia 3 de outubro não se limitam a uma “simples tomada de consciência”, mas buscam “respostas radicais” para todos os jovens, sejam eles católicos, ateus ou agnósticos, desde que busquem “uma esperança e um futuro”.

Na mesma conferência de imprensa, no dia 8 de outubro, o arcebispo maltês D. Charles J. Scicluna, escolhido pelo Papa para liderar várias investigações a casos de abusos sexuais, referiu que este este escândalo – que é tratado também no ponto 66 do Instrumentum laboris do Sínodo – é uma “fonte de vergonha”, sobretudo porque “a maior parte das vítimas é constituída por jovens, com feridas infligidas por quem deveria curá-las”. É preciso, por isso, elevar o “nível de responsabilidade”, afirma este bispo, salientando que esta “grande humilhação vai-nos tornar mais humildes”. Na conversa com os jornalistas, D. Charles J. Scicluna afirmou que “o Papa sofre com a lentidão da nossa justiça”, sublinhou a importância do “silêncio” e das “lágrimas”, diante dos jovens que foram vítimas de abusos, nos quais existe uma “sede de verdade e de justiça” e pediu ainda “tempo” para que Francisco possa mudar a situação e “fazer da Igreja um lugar mais seguro”.

 

Escuta

Na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos dedicado às novas gerações, o Papa Francisco começou por pedir aos padres sinodais uma “escuta sincera, orante e, o mais possível, livre de preconceitos e condições”, definindo assim a atitude essencial que deve acompanhar o trabalho dos 267 Padres Sinodais, 23 especialistas e 34 auditores jovens, de 18 a 29 anos, que, desde o dia 3, e até ao dia 28 de outubro, vão participar nesta reunião. Na Praça de São Pedro, Francisco pediu novamente que a Igreja não se conforme com o “sempre se fez assim” e procure concentrar-se “no rosto dos jovens e ver as situações em que se encontram”. “A mesma esperança pede que trabalhemos por derrubar as situações de precariedade, exclusão e violência, a que está exposta a nossa juventude”, apontou o Papa, desejando que a “riqueza e beleza do Evangelho seja fonte de constante alegria e novidade”. “Sabemos que os nossos jovens serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos, formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças que trazemos no coração”, referiu, perante milhares de fiéis.

 

Dinâmica conciliar

Durante 25 dias, os Padres Sinodais, juntamente com outros participantes, vão continuar a trabalhar os 214 pontos do Instrumentum Laboris, apresentado no passado mês de junho e que reúne as contribuições de um questionário online e de uma reunião pré-sinodal, com jovens de várias confissões religiosas, em março de 2018, acompanhada nas redes sociais por 15 mil pessoas. Numa conferência de imprensa, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, D. Lorenzo Baldisseri, explicou que os trabalhos vão dividir-se em três fases, semana a semana, que correspondem ao Documento de Trabalho: “Reconhecer”, a Igreja em escuta da realidade; “Interpretar”, a fé e o discernimento vocacional; e “Escolher”, caminhos de conversão pastoral e missionária.

A XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos é também a primeira que decorre com o novo enquadramento jurídico, após a publicação da constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’ (‘Comunhão Episcopal’), que reforça o papel do Sínodo dos Bispos, sublinhando a importância de continuar a dinâmica do Concílio Vaticano II, e também conta com uma novidade estabelecida, logo no primeiro dia, pelo Papa Francisco. “Estabeleço que, durante os trabalhos tanto na assembleia plenária como nos grupos, depois de cada cinco intervenções se observe um tempo de silêncio – cerca de três minutos – para permitir que cada um preste atenção às ressonâncias que as coisas ouvidas suscitam no seu coração, para aprofundar e apreender o que mais o impressiona”, anunciou Francisco, no discurso na primeira reunião geral da assembleia sinodal.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelos presidentes das Comissões que acompanham a Pastoral Juvenil e as Vocações: D. Joaquim Mendes – Bispo Auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família – e D. António Augusto Azevedo, Bispo Auxiliar do Porto e presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios.

 

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D. Joaquim Mendes foi eleito relator do grupo de língua portuguesa

O Bispo Auxiliar de Lisboa foi eleito o primeiro relator de um grupo de trabalho de língua portuguesa num Sínodo dos Bispos. O grupo ‘Circulus Lusitanus’ tem assim como relator um dos dois representantes da Conferência Episcopal Portuguesa no Sínodo dos Bispos sobre ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’. O moderador é o cardeal D. João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Segundo avançou a Agência Ecclesia, o grupo é composto por Padres Sinodais, peritos, auditores e assistentes de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola e Moçambique.

O relatório, em português, apresentado na conclusão da primeira fase dos trabalhos, conclui com um agradecimento pelo facto de o português – língua falada por cerca de 350 milhões de pessoas – ter sido incluído como língua oficial do Sínodo. “Solicitamos que, daqui para frente, este bom costume permaneça”, refere o grupo.

 

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Bispos da China continental presentes no Sínodo

A assembleia sinodal conta, pela primeira vez, com a presença de dois bispos católicos da China. Este acontecimento é um dos primeiros frutos do acordo provisório entre a Santa Sé e Pequim, divulgado no passado dia 22 de setembro, com vista à regularização da situação da comunidade eclesial naquele país.

Na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos, o Papa emocionou-se quando referiu, na homilia, a presença de “dois irmãos Bispos da China continental”. “Graças à sua presença, é ainda mais visível a comunhão de todo o Episcopado com o Sucessor de Pedro”, disse Francisco, num momento correspondido por todos os presentes com uma salva de palmas.

texto por Filipe Teixeira; fotos D.R.
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