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Oito séculos da presença franciscana em Portugal
Família franciscana vai ser condecorada “pelo trabalho ao longo dos séculos”
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O Presidente da República vai condecorar a família franciscana como membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique. Marcelo Rebelo de Sousa participou, no Convento do Varatojo, em Torres Vedras, no encerramento das comemorações dos 800 anos da presença franciscana em Portugal.


“O Presidente da República entendeu ser justo, em nome de todos os portugueses – seguindo uma orientação traçada em casos similares pelo seu antecessor, o presidente Jorge Sampaio, em 1991 –, atribuir à família franciscana uma condecoração: o título de membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique, assim significando não apenas o trabalho exercido ao longo dos séculos em solo português, mas também em todo o mundo. Por tudo isso estou, em nome de Portugal, muito grato”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na tarde do passado dia 28 de abril. O Presidente da República falava no encerramento das comemorações dos oito séculos da presença franciscana em Portugal, na Sala do Capítulo do Convento de Santo António do Varatojo, em Torres Vedras. Uma sessão que contou com a participação do Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim Mendes – em representação do Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, que se encontrava em Cabo Verde, no encontro dos Bispos Lusófonos –, que presidiu à oração de Vésperas, na capela do convento, com interpretação do coro ‘Camerata Vocal’, de Torres Vedras.


 

“Uma luz que brilhou sobre o mundo”

O Chefe de Estado começou a sua intervenção com “uma nota muito pessoal”, para lembrar que “boa parte daqueles anos de transição da adolescência para a idade adulta” foram vividos “sob a inspiração franciscana, num grupo que reunia, na Luz, e que integrava o atual secretário-geral das Nações Unidas”, António Guterres. “Foi sob a égide dessa inspiração que meditámos, orámos, refletimos e trabalhámos a pensar num Portugal diferente”, assumiu.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda o Papa Francisco que, sendo jesuíta, teve “uma escolha onomástica inédita e bastante reveladora”. “Percebemos que muitas pessoas, algumas das quais sem fé religiosa, se reveem nos ideais de humildade, simplicidade e de justiça, e numa relação integral com os outros, incluindo as outras espécies, a natureza, o cosmos”, definiu.

Sublinhando que a Ordem dos Frades Menores – “hoje, ampla família franciscana” – “excede grandemente as fronteiras do catolicismo”, o Presidente da República salientou que “a presença franciscana no mundo, seguindo o modelo de Francisco e de Clara, foi marcado pelo despojamento”. “Aos franciscanos, e em concreto aos franciscanos portugueses, são gratos os católicos em campos como a missionação ou os estudos bíblicos, são gratas as pessoas de todas as convicções, pela presença na cidade, à beira das cidades ou na periferia das cidades. Presença no ensino, na ação social, na escola e na paz. O Presidente da República, como representante dos portugueses, nunca poderia ser insensível a este percurso de oito séculos, um pouco menos do que a própria nacionalidade. Oito séculos em que os franciscanos simplesmente, fraternalmente, souberam estar à altura de um homem, Giovanni di Pietro di Bernardone, que escolheu chamar-se Francisco e que 800 anos depois ainda nos entusiasma como uma luz que brilhou sobre o mundo”, terminou Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido pelo guardião do convento, frei Nicolás de Almeida.

 

Cultivar espírito de família

Nesta sessão na Sala do Capítulo do Convento do Varatojo, o presidente da Família Franciscana Portuguesa, frei Fernando Cabecinhas, assegurou que a Ordem vai continuar ao serviço da paz e do bem. “Uma característica que distingue a nossa família franciscana é, desde Francisco de Assis até aos dias de hoje, esta proximidade com todas as pessoas, na simplicidade, na fraternidade e na alegria. Como família franciscana, queremos assegurar a nossa disponibilidade e vontade de continuar ao serviço da paz e do bem de todos os concidadãos, com quem vivemos e a quem servimos”, garantiu.

Este responsável, que é também provincial dos Capuchinhos, convidou ainda a família franciscana ao “fervor evangélico” dos primeiros franciscanos no nosso país. “Não deixemos de acolher e responder aos desafios que nos são colocados pela memória e testemunho destes oito séculos de presença franciscana em Portugal. Na verdade, é motivo de orgulho pertencer a uma família com uma história de tantos anos e contando com os irmãos e irmãs que seguiram os passos de Jesus ao jeito de Francisco e Clara de Assis, nas diferentes ordens, congregações e institutos que constituem a Família Franciscana Portuguesa. Mas, como nos avisa São Francisco, numa das exortações, não podemos ser daqueles que só de contar e pregar o que eles fizeram já daí queriam receber honra e glória. Por isso, a celebração desta efeméride constitui um grande desafio a cultivar ainda mais o espírito de família, comungando do espírito genuíno das origens e voltando ao fervor evangélico que caracterizou o testemunho dos primeiros franciscanos em terras de Portugal”, convidou o presidente da Família Franciscana Portuguesa, na sessão que encerrou as comemorações dos 800 anos da presença franciscana no nosso país.

 

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“Cunho franciscano cedo impregnou muito do Cristianismo português”

A Conferência Episcopal Portuguesa associou-se “com júbilo, gratidão e esperança” à celebração dos 800 anos de presença franciscana no nosso País, “com a sua mensagem fraterna de Paz e Bem. Na Nota Pastoral ‘Oito séculos de presença franciscana em Portugal’, publicada recentemente, os bispos portugueses lembram que “o cunho franciscano cedo impregnou muito do Cristianismo português na vivência da piedade cristológica e mariana, sobretudo na celebração do Natal (presépio), na devoção à Paixão de Cristo (via sacra) e no culto da Imaculada Conceição”. “Desejamos que esta celebração jubilar seja ocasião para uma tomada de consciência das sementes franciscanas que ao longo do tempo foram germinando e crescendo na alma portuguesa”, deseja o documento.

Dividida em cinco partes (1. Árvore frondosa de numerosos ramos; 2. Ação missionária; 3. Obra cultural; 4. Intervenção social; 5. Interpelações à Família Franciscana e à Sociedade), a Nota Pastoral considera que “o jubileu dos oitocentos anos de presença franciscana em terras lusitanas constitui oportuno momento de interpelação para a vasta Família Franciscana e para a Sociedade”. Neste sentido, acrescentam os bispos portugueses, “os membros da Família Franciscana devem ser também, sempre e cada vez melhor, anúncio vivo e transparente de Jesus em palavras e obras”. “Se assim for, o Franciscanismo tem futuro nos tempos de hoje apesar dos obstáculos da caminhada”, salienta o texto, destacando igualmente que São Francisco tem “uma palavra forte a dizer à Sociedade atual”. “O seu amor à simplicidade e à pobreza é convite a um estilo de vida sóbrio e respeitador da “casa comum” da Criação. A sua mensagem de Paz e Bem é estímulo à promoção da fraternidade universal, fundada não em vago humanitarismo social, mas na consciência agradecida de que Deus é Pai comum de toda a humanidade”, termina a Nota Pastoral ‘Oito séculos de presença franciscana em Portugal’.

 

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Família Franciscana Portuguesa

Os franciscanos realçam, na sua vida, a pobreza evangélica, a simplicidade, a fraternidade, a menoridade, a alegria e a comunhão de louvor com toda a Criação. São Francisco de Assis (1181-1226), considerado um dos mais profundos imitadores de Jesus Cristo, atraiu à sua maneira de viver muitos irmãos e irmãs, leigos, religiosos, religiosas e sacerdotes, acabando por fundar três Ordens novas na Igreja: Ordem dos Frades Menores, Ordem das Senhoras Pobres ou Ordem de Santa Clara (Clarissas) e Ordem Franciscana Secular.

 

Primeira Ordem Franciscana:

- Ordem dos Frades Menores, Franciscanos (OFM)

Carisma: Viver em Fraternidade, testemunhar e anunciar o Evangelho ao mundo inteiro e pregar por obras a reconciliação, a paz e a justiça.

- Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap)

Carisma: Viver e anunciar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo em fraternidade, ao jeito de São Francisco de Assis à luz dos sinais dos tempos.

- Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMConv)

Carisma: Viver e testemunhar o Evangelho, segundo o espírito de São Francisco, seguindo a Cristo pobre e humilde, numa vida comunitária e fraterna, simples e aberta a qualquer missão.

 

Segunda Ordem Franciscana

- Ordem de Santa Clara - Clarissas (OSC)

- Ordem da Imaculada Conceição (OIC)

 

Terceira Ordem Franciscana

- Ordem Franciscana Secular (OFS)

- Terceira Ordem Regular: Franciscanas Missionárias da Mãe do Divino Pastor, Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, Congregação das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Irmãs Franciscanas da Imaculada, Franciscanas Missionárias de Maria, Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho, Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, Fraternidade Franciscana da Divina Providência, Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, Concecionistas ao Serviço dos Pobres, Servas Franciscanas de Nossa Senhora das Graças, Pequena Família Franciscana, Irmãs Franciscanas Evangelizadoras de Nossa Senhora da Esperança, Grupos de Jovens Franciscanos e Fraternidade dos Irmãozinhos de São Francisco de Assis

- Grupos de Jovens Franciscanos: Jufra de Portugal

 

Informações: www.familiafranciscana.pt ou www.ofm.org.pt

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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