Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Imitar Maria
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A peregrinação do Papa Francisco a Fátima trouxe, ao de cima, uma visão mais ‘purificada’ e esclarecida sobre o lugar de Maria na Igreja e na vida de fé, tantas vezes popular, dos cristãos. Na saudação a anteceder a Bênção das Velas, na Capelinha das Aparições, na noite do dia 12 de maio, Francisco caracteriza, desde logo, Maria como “Mãe doce e solícita de todos os necessitados”, recordando o lado maternal desta Mulher que cuida de todos aqueles que vivem o sofrimento, mas sublinhando que, por Ela, é obtida “a bênção do Senhor”. Bênção sobre “cada um dos deserdados e infelizes a quem roubaram o presente, dos excluídos e abandonados a quem negam o futuro, dos órfãos e injustiçados a quem não se permite ter um passado”. Que sobre todos estes, “desça a bênção de Deus encarnada em Jesus Cristo”, referiu o Papa, em Fátima.

Salientando que esta bênção “cumpriu-se cabalmente na Virgem Maria”, o Papa Francisco lembrou que é por Maria que é dado “um rosto humano ao Filho do eterno Pai e que nós podemos contemplá-Lo nos sucessivos momentos gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos da sua vida, que repassamos na recitação do Rosário”. “Com Cristo e Maria permaneçamos em Deus”, apelou o Papa Francisco acentuando uma citação do Papa Paulo VI: “Se queremos ser cristãos, devemos ser marianos; isto é, devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial que une Nossa Senhora a Jesus e que nos abre o caminho que leva a Ele”. Este é um aspeto essencial a ter em conta, para que não se caia na tentação de dar um lugar primordial à figura de Nossa Senhora, seja em que invocação for, colocando de lado o seu próprio Filho e a sua entrega em sacrifício por nós.

Diante disto, o Papa Francisco interpela-nos sobre a forma como devemos olhar para Maria: como “uma mestra de vida espiritual, a primeira que seguiu Cristo pelo caminho estreito da cruz dando-nos o exemplo ou então uma Senhora inantigível e consequentemente inimitável?”. E vai ainda mais longe: ou então como “uma Santinha a quem se recorre para obter favores a baixo preço?”. A interpelação nasce porque, por um lado, muitas vezes olhamos para Deus como o castigador, vemos Jesus como um Juiz impiedoso, e numa fé pouco esclarecida julgamos Maria como mais misericordiosa do que o próprio Cordeiro imolado por nós. Francisco deixa as interrogações que nos interpelam, sobretudo quando verificamos que podemos correr o risco de fazer comércio com o que pode ser a nossa vida espiritual, sem que daí advenha o que é essencial na relação com Deus e que passa pela verdadeira conversão.

Neste sentido, o Papa Francisco lembra-nos, a todos, que fazemos uma “grande injustiça a Deus e à sua graça quando se afirma, em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor que são perdoados pela sua misericórdia”. “Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia”, acentua o Santo Padre.

Por isso, esclarece-nos o Sucessor de Pedro, lembrando o que escreveu na Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’: “Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes (...). Possamos com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo”.

Assim, vemos que Maria não se impõe. Pelo contrário, coloca-se em atitude de escuta, humildade, como serva, para nos ensinar o lugar que nós próprios devemos ocupar.

 

Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

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