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Padre Henrique Scheepens, sscc (1933-2017)
Ao serviço dos outros com muita dedicação e paciência
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Foi um sacerdote que cumpriu a sua missão, em especial, ao serviço dos pobres. O padre Henrique Scheepens, da Congregação dos Sagrados Corações (sscc), faleceu no passado dia 14 de março, em Teteringen, na Holanda, aos 83 anos. Chegou ao Patriarcado em 1974 e foi responsável do setor das Missões, da Pastoral Vocacional e Formação, juntamente com a Pastoral de Evangelização e Meios de Comunicação Social. Foi capelão da comunidade cabo-verdiana e formador de sacerdotes na sua congregação, onde foi superior. O sacerdote holandês foi ainda, entre 1995 e 2008, pároco da Charneca e Galinheiras e, depois, pároco ‘in solidum’ de Unhos e Catujal.

O Jornal VOZ DA VERDADE publica o testemunho de dois sacerdotes.

 

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Obrigado, P. Henrique Scheepens

Há homens que marcam e o P. Henrique é um deles. Eu estudava Teologia em Lisboa no fim dos anos oitenta. Saiu-me na sorte fazer trabalho pastoral na Paróquia da Cruz Quebrada, cujo pároco era o P. António Colimão. A paróquia tinha duas grandes periferias: o vale do rio Jamor, junto ao Estádio Nacional, com refugiados timorenses, apoiados pelo P. Apolinário Guterres; e o Alto de Santa Catarina, com um enorme e problemático bairro de lata, habitado por uma maioria de cabo-verdianos, apoiados pelo P. Afonso Cunha. Foi no centro da paróquia e, sobretudo, no Alto de Santa Catarina que tentei dar o melhor de mim entre 1985 e 1988.

Não muito longe do bairro estava outro bairro de lata com fama mais arrasadora: a Pedreira do Húngaros. Ali viviam, numa barraca no meio do bairro, os Padres dos Sagrados Corações, holandeses. O responsável da Comunidade era o P. Henrique Scheepens, homem de uma enorme coragem e radical opção pelos mais pobres. Muitas vezes lá ia com os jovens do Alto, outras tantas apenas para me encontrar com os padres ou celebrar no bairro a convite deles.

Fui para Angola e, no regresso, soube da destruição do bairro e realojamento dos seus habitantes. Perguntei pelos padres, sobretudo pelo P. Henrique, e disseram-me que tinha mudado de bairro, mas não de compromisso. Assim, instalou-se na comunidade que animava as paróquias da Charneca e das Galinheiras, mudando-se mais tarde para Unhos e Catujal. Sempre do lado dos mais excluídos e pobres, sensível às periferias e margens da cidade de Lisboa.

A vida dá muitas voltas e, em 2012, vou reencontra-lo com frequência nas reuniões de Superiores Maiores, em Fátima. Já quebrado pela idade e doença, em nada mudava o discurso e a sua convicção missionária de testemunhar o amor de Deus junto dos mais pobres e abandonados das nossas sociedades. Era uma alegria partilhar dois dedos de conversa e recordar os velhos tempos dos bairros de lata, pobreza de que nem eu nem ele tínhamos saudades. Mas as pessoas, essas sim, ficaram e ficam nos nossos corações e são o melhor do mundo.

Soube pelo novo Superior do P. Henrique que ele, por doença grave, teve de regressar à Holanda para cuidados continuados. Foi uma enorme tristeza para mim. Fiquei agora mais chocado com a notícia da sua morte, na sua terra natal mas muito longe do povo por quem deu a vida.

Obrigado P. Henrique pela força e coragem do seu testemunho, pela pobreza com que viveu e pela fé que transmitiu com a sua escolha de opção clara pelos pobres. A sua ousadia de percorrer periferia e margens serão para mim, sempre, um ponto de referência obrigatório.

texto pelo P. Tony Neves, superior provincial dos Espiritanos 

 

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Em memória do padre Henrique Scheepens, SSCC.

No dia 14 de março transacto, recebemos a notícia de que o nosso Irmão padre Henrique Scheepens acabara de falecer, nessa mesma manhã, na casa dos Padres dos Sagrados Corações na Holanda. Viveu nela desde fevereiro de 2015.

O padre Henrique nasceu no dia 8 de junho de 1933 em Best – Holanda, numa família muito religiosa. Com 12 anos entrou no seminário menor da Congregação dos Sagrados Corações, seguindo os passos dum irmão, João, que se tornou mais tarde superior geral da Congregação. Ele teve mais dois irmãos sacerdotes, do clero diocesano. Um deles fora ordenado presbítero ao mesmo tempo do Henrique. Depois da ordenação, o Henrique ficou ainda um ano na Holanda, fazendo o ano pastoral, e, a seguir, recebeu a obediência de ir para Portugal, rumo aos Açores, para o seminário menor dos SSCC na ilha Terceira.

O seminário fechou em 1971, e o Henrique veio para o continente. Ele teve o carisma de lidar com jovens, por isso começou a formar uma comunidade, no Porto, com jovens ligados à Congregação. Mais tarde ele fez o mesmo na urbanização de Portela de Sacavém, junto do seminário dos Olivais.

Em 1985 houve uma mudança na sua vida quando começámos a viver no bairro Pedreira dos Húngaros, Algés, um bairro degradado com pessoas de Cabo Verde, A sua presença influenciou a vida do bairro. Ele soube acolher as pessoas, soube escutá-las, soube conviver com elas. Ele ensinou-me que nunca devíamos fechar a porta a ninguém. Por isso a porta da nossa barraca estava sempre aberta, com a consequência de que raras vezes estávamos sozinhos.

Quando o bairro foi demolido, ele procurou com outros padres da Congregação um sítio para viver e trabalhar, na periferia de Lisboa. O então cardeal D. José Policarpo falou em Charneca, onde havia muita carência. Lá começou ele de novo, mas fiel ao seu estilo de vida, estar ao serviço dos outros com muita dedicação e paciência.

Ele foi um líder, e quase sempre tinha um papel de “chefia”, mas viveu isto no espírito de estar ao serviço. Ele foi um pastor, e assim era conhecido nos sítios onde vivia. Em 2014 teve um AVC muito forte, tornou-se dependente, mas aceitou tudo com uma serenidade enorme. Nunca se queixou. Ficou na comunidade sscc de Camarate até fevereiro de 2015.

E no dia 14 de março de 2017, ele ouviu: “Servo bom e fiel, entra na alegria do Senhor!” Que ele, junto do Senhor, interceda por nós. Nós só podemos dizer: “Henrique, bem-haja por tudo”.

texto pelo Pe. Francisco Waalders, sscc

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