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A eclesialidade da Vida Religiosa
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Evocar este tema pode parecer à primeira vista surpreendente ou mesmo paradoxal, porque facilmente seríamos levados a pensar e a crer que a «eclesialidade da Vida Religiosa» é problemática, como se para os «religiosos» não houvesse lugar na Igreja, como se a Igreja se reduzisse à diocese e toda a autoridade na Igreja se circunscrevesse à do Bispo.

 

Tendo em conta esta problemática, a Santa Sé sentiu a necessidade de regulamentar as relações entre os superiores maiores das Congregações e Ordens religiosas e os bispos diocesanos, no documento «Mutuae Relationes» (1978), que testemunha como de facto, em termos concretos, o «lugar da Vida Religiosa na Igreja» não seja assim tão fácil de determinar, tanto mais que, do ponto de vista canónico, os «Religiosos» não são um estado intermédio, entre os «leigos» e os «clérigos», mas, de certo modo, um espaço de convergência e de cruzamento, pois «religiosos» tanto podem ser os «leigos» como os «clérigos».

Entretanto pensar a Vida Religiosa no campo mais amplo da eclesiologia significa compreendê-la naquilo que ela é em si mesma, e assim o lugar no qual a Vida Religiosa se situa entra diretamente na sua mesma definição. Mas nesta compreensão não basta considerar o lugar ou o espaço, mas é preciso também considerar a intensidade vivencial na qual Vida Religiosa interioriza em cada um a experiência que qualifica o seu estado de pessoas que contemplam Deus sumamente amado, antecipando já no tempo o que será a eternidade beatífica.

Santo Agostinho poderia ajudar-nos neste entendimento, quando, na sua compreensão do tempo, já não o divide em passado, presente e futuro, mas vê-o essencialmente como presente: presente das coisas passadas, presente das coisas presentes e presente das coisas futuras. Para a compreensão da Vida Religiosa e do seu lugar na Igreja, isto significa que a Vida Consagrada vive no presente a riqueza carismática das suas origens (fundador) e abre o presente, na dinâmica de uma comunidade em missão, em saída como gosta de dizer o Papa Francisco, para um futuro que está para inventar, do qual já são, no presente, uma antecipação escatológica.

Esta localização da Vida Religiosa no coração da Igreja e a sua relação direta com as virtudes teologais, que inscrevem a Vida Consagrada na dinâmica vivencial do mistério da Santíssima Trindade, imprime, como reconhece o Concílio Vaticano II (cf. LG 43) uma dimensão essencialmente escatológica à Vida Consagrada, que é na Igreja o memorial presente dos valores que não passam, da leitura e da hermenêutica do presente a partir da eternidade. Os conselhos evangélicos presentificam e concretizam aquela vida futura: em que a vontade da pessoa coincide com a vontade de Deus (obediência); em que só Deus basta (pobreza); em que não se casam nem se dão em casamento, mas são como os anjos de Deus (castidade). É nesta lógica que podemos compreender o que São João Paulo II afirmava quando dizia que os conselhos evangélicos foram a primeira realidade a ser vivenciada pelos cristãos, de forma particular, partindo-se destas primeiras experiências para formas reconhecidas pela Igreja, estáveis e comunitárias.

Falar da eclesialidadeda Vida Religiosa, portanto, é colocá-la no âmbito mais alargado, no lugar que lhe é próprio. Por isso, o caminho que deve seguir a Vida Religiosa na sua reforma passa pelo alargamento dos horizontes, antes de mais, de todos os crentes. Por outro lado, uma renovada refontalização na fidelidade ao espírito e à letra dos fundadores. Finalmente, uma maior extensão da vivência do amor no hoje comunitário, quer no nível mais restrito (a nível local), quer a nível mais alargado (aos governos gerais e ao próprio Papa).

Surpreendentemente, hoje, se assistimos por um lado ao esmorecimento da Vida Religiosa na sua expressão corporizada nas modernas Congregações apostólicas surgidas nos séculos XIX e XX, assistimos, por outro, ao surgimento de movimentos de renovação segundo a lógica radical dos conselhos evangélicos, que envolve não apenas as pessoas individuais, no cultivo clássico dos votos religiosos, mas também casais inteiros e famílias, o que mostra a circularidade dos conselhos na vivência da comum vocação baptismal: que a virgindade por causa do reino dos céus deve ser fecunda; e que a fecundidade do amor conjugal deve ser casta. E aqui já temos os sinais que nos indicam o caminho do futuro, no hoje de Deus que nunca falta.

texto por José Jacinto Ferreira de Farias, sacerdote dehoniano
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