Ano da Fé |
Serva de Deus Madre Teresa de Saldanha
A caridade de Cristo empurra-nos para diante
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«Coração dinâmico, desprendida de todas as grandezas e vaidades mundanas, esta nobilíssima senhora, honra e lustre da fidalguia portuguesa, pôs os seus imensos haveres ao cumprimento dessa sublime missão, que se impôs, e onde quer que o seu valioso concurso pode ser útil à sociedade, ei-la derramando, com generosidade pasmosa, o benéfico influxo do seu imenso bem-fazer». Jornal Correio Nacional, “D. Teresa de Saldanha Oliveira e Sousa” 10.09.1900.

 

Perante uma figura como Teresa de Saldanha (Lisboa, 1837–1916) corremos sempre o risco de entender a santidade como uma espécie de prémio a uma vida de bem-fazer: pois não é o santo uma pessoa boa? Não será exactamente assim. Santas e santos são aqueles em quem a santidade de Deus se torna particularmente transparente através de uma correspondência heróica ao apelo de Deus, de uma colaboração diuturna com a Graça e a obra criadora do Espírito Santo. Sem isto, o item curricular das obras e das fundações, só por si, não é o sinal do trabalho de Deus na mulher, no homem que se escrutina. Assim acontece também com Teresa Rosa Fernanda de Saldanha Oliveira e Sousa, Madre Teresa de Saldanha, filha dos Terceiros Condes de Rio Maior, nascida em Lisboa, no Palácio da Anunciada, no dia 4 de Setembro de 1837 e falecida setenta e oito anos depois, nesta mesma cidade, numa modesta casa alugada, o n.º 147 da Rua Gomes Freire. Nascida e criada em ambiente da grande aristocracia e de figuras cimeiras da política liberal e única menina entre dois rapazes, Teresa poderia ter sido, no século XIX, o que “Alcipe” (Marquesa de Alorna) foi na sociedade do século anterior: musa social através dos seus dotes, educação e ascendência. Foi-lhe dado viver num ambiente aberto à cultura, à tertúlia política, um ambiente de onde, no entanto, as questões sociais não estavam arredadas. Sem a benéfica influência de sua mãe, que lhe transmitiu uma diversificada cultura e uma apurada consciência social, Teresa Rosa Fernanda de Saldanha poderia ter crescido na superlativa valorização da moda, das soirées e dos salões. Porém, a rectidão da sua índole, a sua abertura à graça de Deus, educadas pela influente acção materna, conduziram crescentemente Teresa a interessar-se pela situação dos “bastardos da sorte”, como gostava de repetir a opinião pública do seu tempo. O tempo em que Teresa nasceu e cresceu foi uma época de grande instabilidade política e social no país, no contexto da afirmação do liberalismo, com divisões políticas fratricidas, guerras civis, instabilidade social e consequente crise económica. Entretanto, Teresa não mergulha em discussões românticas sobre a miséria e a orfandade. Contemporânea dos maiores vultos do Romantismo nacional, que sublimou a desgraça, o abandono e o amor em obras literárias de grande fôlego, Teresa, na esteira dos grandes vultos místicos impelidos pela caridade de Cristo, opta pela acção: funda em 1849 a Associação de Nª. Senhora Consoladora dos Aflitos dedicada a famílias pobres e nela trabalha. Tinha estudado pintura com um dos grandes pintores paisagistas do romantismo, Tomás da Anunciação. Em 1855, quando pintava um Ecce Homo, foi sacudida por um impulso místico. Fez voto de castidade; pouco depois declarou por escrito a sua decisão clara de se dedicar exclusivamente a Deus e ao serviço dos pobres. Tinha então dezoito anos. Caritas Christi urget nos: a caridade de Cristo empurra-nos para diante. É assim a vida de todos os santos: a caridade e a fé, as obras de misericórdia; a oração interior e o amor de Deus posto em acto. Em 1859 fundou em Lisboa a Associação Protectora das Meninas Pobres, dedicada à educação e promoção de crianças pobres e raparigas operárias. Teresa pretendia “educar e formar o coração”, contribuir para a moralização dos costumes e da sociedade. Dirigiu também o Colégio de Santa Marta para Meninas Pobres, assistencialmente mantido pelas Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo. Vítimas do extremismo político, estas religiosas francesas foram expulsas de Portugal em 1862. Teresa lutou contra esta lacuna assistencial. Procurou preencher lacunas de ensino, assistência e formação cristã. Aproveitando o triste ensejo dos conventos devolutos conseguiu montar escolas da sua Associação nessas instalações. Desde os seus 18/20 anos que Teresa alimentava o desejo de se fazer religiosa dominicana, tendo chegado a ser aceite em Inglaterra. Circunstâncias várias convenceram-na a ficar em Portugal. A esta decisão não é alheia a vontade de renovação da vida religiosa no país, dizimada pela perseguição liberalista. «A vida religiosa neste País, infelizmente quase desapareceu; o que resta dos conventos está a morrer e quem sabe se isso não será, talvez, a Vontade de Deus que antes de o último convento fechar, uma simples, humilde, escondida Congregação poderá surgir em Portugal das ruínas duma vida religiosa decadente?» (Carta a Madre Imelda Magee, 1866). Dois anos depois, em 1868, fundava a Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, na qual professou em 1887. Dir-se-ia que a fundação das Dominicanas de Santa Catarina de Sena só esperava o gesto de Teresa de Saldanha, pois à data da sua morte (1916) eram já 27 as suas casas: 17 em Portugal, 6 no Brasil, 2 nos E.U.A., 1 na Bélgica 1 em Espanha. Importa referir que Madre Teresa de Saldanha foi a primeira mulher fundadora em Portugal após a extinção das ordens religiosas (1834). O advento republicano, em 1910, trouxe às Dominicanas de Madre Teresa o confisco de todos os bens, o encerramento das comunidades e a expulsão das 68 irmãs. Madre Teresa viu-se forçada a ocultar-se numa pensão; em Janeiro de 1911 alugou clandestinamente uma pequena casa na Rua Gomes Freire, em Lisboa. Ali permaneceu, com mais duas irmãs, até à morte, no dia 8 de Janeiro de 1916. Desde a sua fundação, a Congregação abriu 88 casas em Portugal Continental e Insular, Albânia, Angola, Brasil, Moçambique, Espanha e E.U.A. e Timor Leste. O Processo de Canonização de Madre Teresa de Saldanha foi entregue em Roma no dia 14 de Fevereiro de 2004.

texto de Alberto Júlio Silva
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