Ano da Fé |
Acreditar com o Concílio
Cristo e a Igreja
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Esta unidade de toda a humanidade em Cristo é conhecida, na fé, pela Igreja.

1.Identidade entre Cristo e a Igreja

|Lumen Gentium, nº 11|

“O Filho de Deus, encarnado na natureza humana, redimiu o homem e, superando a morte com a Sua própria morte e ressurreição, transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2Cor. 5,17). E, pela comunicação do Seu Espírito, constitui os Seus irmãos, convocados de entre todas as gentes, como que em Seu Corpo místico.

Neste corpo, a vida de Cristo comunica-se aos crentes que, através dos sacramentos, se unem de modo misterioso e real a Cristo, que sofreu e foi glorificado. Pelo Baptismo configuramo-nos com Cristo: «De facto, num só Espírito fomos todos baptizados para formar um só corpo» (1Cor. 12,13). Este rito sagrado significa e efectua a nossa união com a morte e ressurreição de Cristo: «pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, e se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição» (Rom. 6,4-5). Participando nós realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos levados à comunhão com Ele e entre nós mesmos. «Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo (1Cor. 10,17). Assim nos tornamos, todos, membros desse corpo (cfr. 1Cor. 12,27): individualmente somos membros que pertencem uns aos outros» (Rom. 12,5).

Assim como os membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam um corpo único, assim também os fiéis em Cristo (cfr. 1Cor. 12,12). Também na edificação do Corpo de Cristo há diversidade de membros e de funções. Único é o Espírito que, para bem da Igreja (cfr. 1Cor. 12,1-11), distribui os seus vários dons, conforme a sua riqueza e a necessidade de cada ministério. De entre esses dons sobressai a graça própria dos Apóstolos, a cuja autoridade o mesmo Espírito sujeitou até mesmo os carismáticos (cfr 1Cor. 14). O mesmo Espírito, unificando o corpo por Si e operando, com a sua virtude, a coesão interna dos membros, produz e estimula a caridade entre os fiéis. Daí que, se algum membro sofre, sofrem com ele os demais; se um membro recebe glória, todos os outros se regozijam com ele (cfr. 1Cor. 12,26).

Cristo é a cabeça deste corpo. Ele é a imagem de Deus invisível, e n 'Ele foram criadas todas as coisas. Ele existe antes de todas, e tudo subsiste n’Ele. Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja. Ele é o princípio, o primogénito de entre os mortos, de modo que tem em tudo a primazia (cfr. Col. 1,15-18). Com a grandeza do Seu poder, domina o Céu e a Terra, e, com a Sua supereminente perfeição e acção, enche todo o corpo com as riquezas da Sua glória (cfr. Ef. 1,18-23).

Todos os membros devem conformar-se com Ele, até que neles se forme Cristo (cfr. Gál. 4,19). Por isso, somos encorporados nos mistérios da Sua vida, com Ele configurados, mortos e ressuscitados, até chegarmos a reinar com Ele (cfr. Fil. 3,21; 2Tim. 2,11; Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.). Na nossa peregrinação terrena, seguimos as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos à Sua paixão como corpo à cabeça, e sofremos com Ele, para com Ele sermos depois glorificados (cfr. Rom. 8,17).

D’Ele «todo o corpo, abastecido e mantido pelas junturas e articulações, recebe o seu crescimento de Deus» (Col. 2,19). Ele distribui continuamente ao Seu corpo, que é a Igreja, os dons dos ministérios, pelos quais, graças ainda ao Seu poder, nos ajudamos mutuamente no caminho da salvação, para que, professando a verdade na caridade, cresçamos de todos os modos para Ele, que é a nossa cabeça (cfr. Ef. 4,11-16 gr.).

Para que possamos renovar-nos constantemente n'Ele (cfr. Ef. 4,23), repartiu connosco o Seu Espírito, o qual, sendo um só e o mesmo na cabeça e nos membros, vivifica, unifica e dirige de tal modo o corpo inteiro, que a Sua função pôde ser comparada pelos Santos Padres àquela que a alma, princípio da vida, exerce no corpo humano.

Cristo ama a Igreja como Sua esposa, tornando-Se modelo do marido que ama a esposa como ao seu próprio corpo (cfr. Ef. 5,25-28); e a Igreja, por sua vez, está sujeita à sua cabeça (ib. 23-24). «Porque é nele que habita realmente toda a plenitude da divindade» (Col. 2,9), Ele enche dos Seus dons divinos a Igreja, que é o Seu corpo e a Sua plenitude, (cfr. Ef. 1,22-23), para que ela procure e alcance toda a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19)”.

 

|Comentário de D. Nuno Brás|

Nestes pequenos apontamentos sobre o Concílio, deixemo-nos hoje confrontar com um texto da Constituição sobre a Igreja, Lumen gentium, que H. De Lubac, um dos maiores teólogos que participaram nos trabalhos do Vaticano II, definiu como “a coluna vertebral” de todo o edifício conciliar.

Olhemos o seu n. 11, um texto longo, é certo, mas denso e com muitos pontos a serem meditados. Tomemos apenas alguns.

1. A Igreja nasce de Cristo. Para o Concílio é claro: a Igreja não é uma empresa humana, uma organização de bem-fazer. A sua origem é apenas uma: a redenção de Cristo que, por meio do Espírito Santo faz de nós Seus irmãos e membros do Seu corpo.

2. A vida de Cristo ressuscitado não é algo que o Senhor Jesus guarde ciosamente para Si. Pelo contrário: quer comunica-la, oferecê-la a todos. A Igreja, corpo de Cristo, é o lugar onde esta vida nova se encontra ao alcance de todos os homens, de todos os tempos e culturas. Essa comunicação acontece particularmente nos sacramentos. O Concílio sublinha especialmente dois: o batismo, por meio do qual somos configurados com Cristo, e a Eucaristia, que nos une mais estreitamente ao Senhor, nos alimenta e estreita os laços entre os cristãos.

3. No seio deste corpo de Cristo, cada um dos membros encontra a sua função. Não se trata de um acaso, nem de uma escolha pessoal, mas de uma vocação: é o Espírito Santo quem distribui os seus dons, sempre para o bem de todos. Em particular, o Concílio chama a nossa atenção para o serviço, para o ministério dos Sucessores dos Apóstolos, os bispos, e sobretudo para a sua função de trabalhar e de fazer a unidade entre os batizados.

4. Ser cristão é deixar que Cristo se forme em nós, e assim, cada um assuma a forma de Cristo. Cada cristão é o modo de Cristo estar presente no nosso meio, no nosso tempo, com aqueles que vivem connosco. Mas esta é uma tarefa para toda a vida. Ela traz consigo um desejo de “peregrinar”, de aprofundarmos a nossa vida cristã, tendo Jesus como companheiro. Traz consigo a vontade de deixar que Ele nos transforme, nos converta em cada dia que passa. Esse não é apenas o nosso desejo, o desejo de sermos melhores. É igualmente a vontade do Senhor, que não hesitou em “repartir connosco” o Seu Espírito, não devido às nossas grandes qualidades mas porque ama a Igreja, como um esposo ama a sua esposa, porque nos ama.

 

Para refletir:

1.Temos consciência de que a Igreja depende de Cristo em cada momento que passa, ou olhamo-la apenas como uma instituição de bem-fazer, igual a tantas outras?

2.Como vemos hoje a comunicação da vida de Cristo? E como vemos os sacramentos?

3.Estamos atentos aos pedidos do Espírito Santo e à Sua ação na Igreja?

4.Estamos disponíveis para a conversão, de modo a assumirmos, em cada dia que passa, a “forma de Cristo”?

texto por D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa
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