Beatificação de Madre Clara |
Beatificação de Madre Clara: um exemplo português de santidade
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No próximo sábado, dia 21 de Maio, vai ser beatificada em Lisboa a Irmã Maria Clara do Menino Jesus, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC). Quem foi Madre Clara? Que ensinamentos deixou? Na semana da beatificação da religiosa de Lisboa, a VOZ DA VERDADE dá a conhecer a vida da futura beata através da nota pastoral publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa.

Apontamento biográfico

A nova Beata nasceu em 25 de Junho de 1843 na Quinta do Bosque, propriedade de sua família, situada no termo da actual cidade da Amadora. Foi baptizada na igreja paroquial de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, a 2 de Setembro seguinte com o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque.

Como os apelidos indicam, Libânia veio ao mundo no seio da nobreza. Terceira de sete filhos, viveu uma infância feliz no ambiente cristão do seu lar. Mas logo na adolescência experimentou o sofrimento doloroso da orfandade. Sua mãe faleceu em 1856 e o pai um ano depois, ambos vitimados pela epidemia de cólera que então grassava em Lisboa.

Depois de ter permanecido cinco anos no Asilo Real da Ajuda e outros tantos em casa dos Marqueses de Valada, seus parentes e amigos, Libânia transferiu-se em 1867 para o Pensionato de S. Patrício, instalado no antigo convento do mesmo nome, junto à muralha do Castelo de S. Jorge. Dois anos mais tarde tomou hábito no Recolhimento de terceiras franciscanas seculares capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição, também sedeado em S. Patrício, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus, que haveria de usar até à morte.

A casa de S. Patrício era dirigida pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão, antigo membro da Ordem Terceira Regular de S. Francisco, que fora obrigado a abandonar o convento pelo decreto de supressão dos institutos religiosos de 1834. Depois de exclaustrado, dedicou-se à pregação e ao socorro dos órfãos e dos pobres. O seu encontro com Libânia, depois Irmã Maria Clara, foi providencial. Viu nela a mulher escolhida por Deus para, com ele, fundar uma Congregação que, imitando o bom samaritano do Evangelho, minorasse as graves carências da população portuguesa da época.

O projecto viria a realizar-se a partir de S. Patrício. Para beneficiar da experiência de outra Congregação franciscana já consolidada, em Fevereiro de 1870 o Padre Beirão enviou a Irmã Maria Clara mais três companheiras do Recolhimento a fazer o noviciado nas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Mestras de Calais, no norte da França, onde professou a 14 de Abril de 1871. Regressada de imediato a Portugal, o Padre Beirão, logo no dia 3 de Maio, empossou-a como superiora e mestra de noviças das recolhidas capuchinhas que aderiram à reforma da sua agremiação. Foi o momento fundacional da nova Congregação.

O instituto recém-criado foi aprovado pelo Governador Civil de Lisboa, por alvará de 22 de Maio de 1874, com a designação de Irmãs Hospitaleiras dos Pobres por Amor de Deus, mas somente como «associação de beneficência». Não era possível outra forma de reconhecimento pela autoridade civil pois as congregações religiosas estavam proibidas em Portugal desde 1834.

O passo seguinte foi a aprovação pontifícia da Congregação pelo Papa Pio IX a 27 de Março de 1876. O novo estatuto canónico garantia segurança institucional à jovem comunidade religiosa. Por iniciativa do Padre Beirão, a Irmã Maria Clara assumiu a responsabilidade da mesma como Superiora Geral em cerimónia familiar realizada a 3 de Maio de 1876, quinto aniversário da fundação. Tinha 33 anos. As irmãs começaram a chamar-lhe Fundadora e a dar-lhe, na intimidade, o nome de Mãe Clara.

Dois anos depois, a 13 de Julho de 1878, o Padre Beirão faleceu. A sua inspiração esteve sempre presente no modo como a Irmã Maria Clara dirigiu a Congregação até à morte, ocorrida a 1 de Dezembro de 1899.

 

Actividade caritativa da Congregação

A Congregação desenvolveu uma actividade marcante em Portugal no último terço do século XIX. Durante este período, as irmãs trabalharam em 45 hospitais, 26 colégios, 15 asilos de inválidos, 14 asilos de infância e 6 cozinhas económicas. Embora localizada maioritariamente na região de Entre Douro e Minho, esta centena de casas estava disseminada por todo o país incluindo pequenas cidades e vilas do interior. Parte significativa das instituições servidas pelas irmãs pertencia a Misericórdias.

A Congregação irradiou também para o Ultramar. Por vezes a pedido do próprio Governo, o qual, apesar do decreto de extinção dos institutos religiosos de 1834, aceitava a presença das congregações dedicadas à assistência, à educação e às missões ultramarinas. Neste contexto as irmãs prestaram serviço nos hospitais de Bolama (Guiné-Bissau), Goa, Luanda (Angola) e Santiago da Praia (Cabo Verde).

O aumento constante e extraordinário do número de irmãs permitia à Irmã Maria Clara atender as solicitações que lhe iam chegando das mais variadas procedências. A tabela estatística da Congregação nos primeiros trinta anos é reveladora. As religiosas professas passaram de 3 em 1871 para 150 em 1880, 355 em 1890 e 468 em 1900. Mesmo assim não foi possível atender favoravelmente todos os pedidos.

No governo da Congregação a Irmã Maria Clara não actuava como gestora de pessoas e serviços. O espírito que a animava era outro e ficou bem manifesto num episódio da sua vida. Um dia, ao ver grupos de adultos e crianças a mendigar, vestidos de andrajos e sob um frio rigoroso, disse às meninas que a acompanhavam: «Olhem, aquela é que é a minha gente!... Que pena tenho de não os poder socorrer!…»

Estimuladas pelo exemplo da Fundadora, as Irmãs Hospitaleiras souberam concretizar no quotidiano a divisa do seu brasão: Lucere et fovere. Alumiar e aquecer. Iluminaram o espírito de crianças e jovens a abrir para as grandes opções da vida. Aconchegaram a existência de doentes e idosos, tantas vezes fragilizada por circunstâncias adversas.

A gesta caritativa da Congregação documenta a vitalidade interna da Igreja Católica no período final do século XIX. Não é possível escrever a história da assistência e da educação em Portugal nessa época sem referir o contributo abnegado das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras.

 

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Conta D. Georgina, a miraculada

 

Embora acontecesse em 2003 e divulgado em 2004, os anos foram diluindo pormenores do milagre e, hoje, há quem deseje avivar o espantoso acontecimento.

Conta D. Georgina e está provado em documentos que, em 1969, lhe apareceu uma ferida no braço direito, depois diagnosticada, por especialistas de Vigo e de Madrid, como Pioderma gangrenoso. A úlcera foi alastrando por todo o braço, atingindo também o seio. Além de diversas pomadas aplicadas, foram feitos vários enxertos, sem resultado algum. Dado que a chaga também cobria parte do cotovelo, ficou sem flexibilidade e o braço imobilizado, preso ao peito. A ferida, de bordos violáceos, exalava odor desagradável e aparecia em carne viva, produzindo grande dor ao simples roçar ou leve toque. Às vezes, era tão intensa essa dor que a enferma pedia ao médico que lhe amputasse o braço, coisa que ele se negara sempre a fazer. Há sempre tempo para isso, dizia.

Todos os dias de manhã, tomando um táxi, D. Georgina ia de Baiona a Vigo, para o curativo e, bastantes vezes, voltava à tarde para o repetir, dado que a dor e o cheiro eram insuportáveis. Anos e anos…

Realizou o primeiro enxerto em 1971, a que se seguiram outros. Fazia-lhe os curativos o próprio cirurgião, Dr. Ignacio do Carmo, que acompanhou todo o processo da doença. Porém, no dia 21 de Junho de 2002, não imaginava que lhe faria o último. No dia seguinte, o médico foi internado num hospital, com diagnóstico de tumor cerebral. Veio a falecer, no dia 7 de Julho seguinte.

D. Georgina sentiu grande angústia e enorme desamparo. Assustava-a procurar outro médico que, como é óbvio, lhe pediria novos exames. Só o lembrar-se disso provocava-lhe enorme sofrimento.

Filiada na Liga Pró-Canonização e cheia de fé na intercessão da Madre Maria Clara, cujo túmulo havia visitado em 1998, D. Georgina decidiu escolhê-la como sua médica e confiar-lhe o tratamento. Resolveu ser ela própria a fazer os curativos, aplicando as mesmas pomadas que utilizava o Dr. Ignacio. Enquanto procedia a essa acção, ia pedindo à sua protectora que a melhorasse, para melhor poder ajudar sua irmã Olga, naquela ocasião imobilizada, consequência de uma intervenção cirúrgica de ortopedia. Como desde há anos costumava fazer, não deixava de meter uma estampa da Venerável Serva de Deus entre as ligaduras, certa do seu cuidado.

Por altura do Verão de 2003, mais uma vez se repetiram grandes flictenas sobre a ferida que, ao rebentarem, a deixavam em carne viva. Foram passando os meses de Agosto, Setembro e parte de Novembro, sem notar-se melhora alguma na chaga que continuava a cobrir o cotovelo.

O dia 11 de Novembro fora agitado e chegara à noite cansada e sofrida. Apesar da dor, de sentir e ver as ligaduras molhadas, não teve ânimo de tratar a ferida. No dia seguinte, a 12 de Novembro de 2003, pelas 10:00 horas, ao retirar as ligaduras, viu que a chaga estava completamente coberta de pele rósea, como de menino, e totalmente fechada. Chamou as suas irmãs e, mostrando o braço, exclamou: “Olhem, o braço está curado. Já não há que fazer o curativo”. Foi a Madre Clara!

Suas irmãs Olga e Teresa, bem como a empregada doméstica, foram as primeiras testemunhas. Os vizinhos e amigos reagiram com espanto. Espanto, também, foi a rápida flexibilidade do braço e todo o movimento retomado, perdido há 34 anos. Desde aquele dia, continua bem. A úlcera repentinamente desaparecida não teve recidiva. E já lá vão mais de sete anos…

Os médicos não encontraram explicação. Embora, em alguns casos, o Pioderma gangrenoso possa ter cura, é sempre um processo lento.

A grande fé de D. Georgina fez o milagre acontecer.

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