Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Vencer tentações

Estamos a iniciar o tempo da Quaresma, particularmente conotado como apelo à conversão, penitência e reconciliação, à mudança de vida na sua genuína relação a Deus e aos irmãos, ao perdão dos pecados, ao desafio para vencer as tentações. Um tempo que, em si mesmo já de libertação, nos indica o rumo para a Libertação Pascal em Jesus Cristo.

Os evangelhos apresentam-nos as bem conhecidas três tentações de Jesus no deserto e a forma como Ele as ultrapassou. A exemplo de Jesus Cristo, a Igreja é chamada a enfrentar as tentações para as vencer com a força do Espírito derramado no coração da Igreja e nas nossas vidas.

Vencer o flagelo dos abusos sexuais de menores na Igreja e na sociedade, vencer alguma indiferença que possa surgir face ao processo sinodal em curso, vencer as dificuldades e possíveis desânimos no caminho de preparação e celebração da Jornada Mundial da Juventude… são apenas alguns desafios que somos chamados a enfrentar nesta intensa caminhada quaresmal. Além das tentações inerentes à nossa existência quotidiana como discípulos de Jesus Cristo.

Neste desafio constante a vencer as tentações, gostaria de trazer aqui algumas palavras do Papa Francisco em Kinshasa, na sua recente viagem ao Congo, a 2 de fevereiro de 2023, Festa da Apresentação do Senhor e Dia da Vida Consagrada, quando se encontrou com sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas e seminaristas. Palavras que podem servir para qualquer um de nós, porque todos chamados a servir como testemunhas do amor de Deus. Nesse encontro, o Papa Francisco acenou a três desafios a enfrentar ou tentações a vencer: a mediocridade espiritual, a comodidade mundana, a superficialidade.

Em primeiro lugar, como vencer a mediocridade espiritual? Prioritariamente no encontro com o Senhor, na oração pessoal que fundamenta todo o nosso agir: «Não esqueçamos que o segredo de tudo é a oração, porque o ministério e o apostolado não são, primariamente, obra nossa nem dependem apenas dos meios humanos». Os conselhos indicados pelo Papa são os de sempre, mas importa reitera-los como prática de vida: a celebração diária da Eucaristia; o não descurar a Liturgia das Horas feita de forma regular; a Confissão; o tempo diário para a oração pessoal; a adoração eucarística; a meditação da Palavra; a oração mariana do Rosário; o recurso a breves jaculatórias durante as atividades. E insiste: «Sem oração, não se vai longe… Para superar a mediocridade espiritual, nunca nos cansemos de invocar Nossa Senhora – é nossa Mãe – e d’Ela aprender a contemplar e seguir Jesus».

Em segundo lugar, «vencer a tentação da comodidade mundana, duma vida cómoda na qual seja possível organizar mais ou menos todas as coisas e continuar em frente por inércia, procurando o nosso conforto e arrastando-nos sem entusiasmo... É triste, muito triste, quando nos fechamos em nós mesmos, tornando-nos frios burocratas do espírito». Um apelo a servir apenas o Evangelho como missão, com sobriedade e liberdade interior!

Em terceiro lugar, vencer a tentação da superficialidade. Para isso, é preciso boa formação espiritual e teológica. «As pessoas não precisam de funcionários do sagrado nem de doutores afastados do povo. Somos chamados a entrar no coração do mistério cristão, aprofundar a sua doutrina, estudar e meditar a Palavra de Deus; e, ao mesmo tempo, permanecer abertos às inquietações do nosso tempo, às questões cada vez mais complexas da nossa época, para poder compreender a vida e as exigências das pessoas, para compreender como tomá-las pela mão e acompanhá-las». Uma formação que é para todos e para sempre, ao longo de toda a vida!

Ao longo desta Quaresma que aponta o caminho da autêntica conversão pessoal e comunitária, tomemos como nossos estes desafios para vencer as tentações, estas e tantas outras que surgem nos andamentos da nossa vida.

 

P. Manuel Barbosa, scj