Catequese |
Diretório para a catequese
A catequese diante dos cenários culturais contemporâneos I
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O capítulo X do Diretório para a catequese, intitulado «A catequese diante dos cenários culturais contemporâneos», constitui uma das partes mais inovadoras deste documento, visto que procura destacar alguns aspetos da cultura contemporânea com os quais a catequese é chamada a interagir.

Esta é, de facto, uma das razões que justificam a aparição de um novo documento sobre a catequese dado que uma mudança de época como aquela que vivenciamos exige que se repense a ação evangelizadora, adaptando-a a novas circunstâncias. «A tarefa de ler os sinais dos tempos está sempre viva, sobretudo nesta época, que é sentida como uma viragem no tempo e marcada por contradições.» (DC, n. 319) Se por um lado, se evidenciam estes lugares culturais como influenciadores da ação catequética, por outro desafiam-na a rever as suas metodologias e linguagens de modo a que a catequese possa dar o seu contributo à tarefa da inculturação da fé ajudando a promover uma vida plena para todos. (cf. DC, n. 319)

A análise à cultura contemporânea faz-se sob o prisma da complexidade e do pluralismo. Por complexidade entende-se o modo como o aumento das conexões e interdependências do mundo atual, motivado em grande medida pelo fenómeno da globalização, alterou os processos de acesso ao conhecimento, formatou os estilos de vida e originou novos posicionamentos, cada vez mais flutuantes e diversos face às questões da vida pessoal e social. Do ponto de vista religioso constata-se, também, uma série de formas muito diversificadas que acentuam um crescente pluralismo cultural e religioso dificilmente catalogável e difícil de inscrever nos códigos religiosos tradicionais. (cf. DC, n. 320)

O convite a ler a realidade complexa e plural do nosso mundo retoma a metáfora do «poliedro» com a qual o Papa Francisco formula a relação entre a parte e o todo, a localização e a globalização, permitindo que os diferentes fenómenos sejam colocados em relação mútua e fecunda. Um dos aspetos a valorizar no que diz respeito ao modo como se acede à fé diz respeito à valorização cultural da liberdade. Poder escolher, em liberdade, tornar-se discípulo de Jesus Cristo «pode ser compreendido como uma preciosa oportunidade para que a adesão ao Senhor seja um ato profundamente pessoal e gratuito, maduro e consciente.» (DC, nº 322)

Se é certo que os desafios colocados pela cultura contemporânea podem provocar uma certa desorientação e confusão, conduzindo as comunidades cristãs a uma certa incapacidade de avaliar as situações e a uma sensação de derrota no que diz respeito à sua ação evangelizadora, o documento desafia-nos a «olhar com espírito de fé» para o mundo em que vivemos. Isto implica um posicionamento espiritual capaz de descobrir que no mais fundo de cada forma cultural existe uma procura de Deus. Simultaneamente, requer uma interpretação criativa e ousada dos significados das «alterações culturais em curso para lhes levar o Evangelho da alegria que tudo renova e vivifica». (DC, nº 324).

O Diretório desafia as comunidades cristãs a entrar nos «nós existenciais, âmbitos antropológicos e areópagos modernos onde se criam as tendências culturais e são modeladas novas mentalidades: a escola, a investigação científica e o ambiente de trabalho; a área das redes sociais e da comunicação; o âmbito dos esforços pela paz, pelo desenvolvimento, pela salvaguarda da criação, pela defesa dos direitos dos mais fracos; o mundo do tempo livre, do turismo, do bem estar; o espaço da literatura, da música e das várias expressões artísticas.» (DC, nº 324) Este desafio implica não apenas que os cristãos estejam presentes e estabeleçam pontes de diálogo com os diversos âmbitos de formação das mentalidades e problemáticas existenciais, mas sejam criadores de novas tendências culturais.

Estas considerações trazem-nos à memória a sugestão do Papa Bento XVI que, em 2009, no discurso de felicitações natalícias à cúria romana, sugeriu a criação de um «átrio dos gentios» como possibilidade de diálogo entre crentes e não crentes. Também o Papa Francisco tem encorajado a Igreja a desenvolver plataformas de diálogo com os buscadores de humanidade: «Recomendo-vos, de modo particular, a capacidade de diálogo e de encontro. Dialogar é buscar o bem comum para todos. E o Papa acrescenta que a melhor forma de dialogar «é fazer algo juntos, construir juntos, fazer projetos; não só entre os católicos, mas com todos os que têm boa vontade». (Discurso aos participantes no Vº Congresso da Igreja Italiana, Florença, 10 de novembro de 2015).

O convite ao diálogo autêntico com as pessoas de boa vontade requer uma capacidade de escuta e de anúncio que favoreça o exercício mútuo de falar-escutar sem a perda da própria identidade. A catequese contribui, a este título, para formar uma «identidade clara e segura, serenamente capaz de, em diálogo com o mundo, dar razão da esperança cristã» (DC, nº 323). O diálogo requer, assim, testemunhas coerentes da fé que saibam propor a novidade da vida nova e boa do Evangelho. A catequese constitui, portanto, um lugar propício para este exercício de escuta e diálogo no qual a compreensão e formulação do querigma podem acontecer de modo verdadeiramente inculturado e o Evangelho seja apresentado como uma luz que não só ilumina as diversas situações existenciais, como cria novas mentalidades e visões sobre a vida. (cf. DC, nº 325)

texto pelo P. Tiago Neto, diretor do Setor da Catequese de Lisboa
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