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Isabel Figueiredo
Falar com o coração
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Comunicamos com tudo aquilo que somos. Com palavras ditas e escritas. Com gestos, com olhares, com pincéis e tintas, com barro e pedra. Comunicamos com harmonias de sons, com o olhar de uma lente. Até os silêncios se podem encher de palavras, de histórias, de memórias. O ato de comunicar é capaz de uma extraordinária diversidade que hoje nos pede as novas linguagens das redes sociais. Mas no fundo está sempre esta necessidade primitiva de comunicar com quem está perto ou longe. Com aqueles de quem gostamos ou quem trabalhamos. Com quem nos identificamos ou a quem nos opomos. Com quem reza, com quem é feliz ou quem sofre.

Em tudo e em todos, existe sempre esta necessidade de comunicar, de estabelecer contacto, de criar relação. É verdade que neste mundo em que vivemos, cada vez se comunica mais de uma forma isolada ou restringida a pequenos grupos, autênticas “bolhas” que se identificam com maior ou menor facilidade. Mas mesmo assim, podemos e devemos valorizar o ato de comunicar como aquele que mais nos aproxima de uma relação, elemento fundamental na nossa condição de mulheres, homens e crianças que coabitam em tempo e espaço, estejamos a falar do núcleo familiar, da família alargada, dos amigos e dos inimigos, dos colegas, dos vizinhos, dos que falam a mesma língua.

Para quem é crente, ao reler as últimas mensagens do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra todos os anos, no Domingo anterior à festa do Pentecostes, é muito interessante verificar que o Papa segue um raciocínio em que nos pede para sairmos do nosso conforto, para olhar à nossa volta, para escutar com o coração e, este ano, para falar com o coração. Ao realismo de sermos capazes de olhar à nossa volta com verdade, acrescenta-se a expressão «com o coração», como se fosse o elemento determinante de tudo o resto… Não nos é pedida uma linguagem “lamechas”, que em tudo encontra o colorido rosado. Nada disso. Mas sim que tenhamos a capacidade de nos interrogarmos, de nos deixarmos tocar pelas feridas dos homens e pela beleza do mundo. E só depois de nos deixarmos tocar pelos outros, só depois de nos interrogarmos sobre o que nos provoca, o que nos inquieta, o que nos enche de esperança, o que fala de justiças e de injustiças, só depois é que nos é possível falar, escrever, comunicar. Dá muito trabalho? É exigente em primeiro lugar para nós próprios? É desajustado à pressa com que vivemos os dias? Tudo pode ser verdade. Mas o que será de nós se não tivermos a consciência de que todos fomos criados para mais e melhor.

Este ano, a proposta é sermos capazes de falar com o coração. Só possível com uma escuta que cumpra esta mesma equação… que seja medida pelo bater do coração. O nosso, o meu. Muito do bem que acontece no mundo, parte precisamente deste deixar-se tocar no coração, deixar aquela fresta aberta que se enche de compaixão perante o sofrimento de alguém, perante a solidão, a pobreza, o abandono. E perante a beleza e a alegria, a esperança e a superação. Comunicar. O desafio de uma vida inteira.


Isabel Figueiredo

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