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Padres de Lisboa participam na Missa exequial do Papa Emérito Bento XVI
“Um Papa que marcou uma geração”
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Os padres Diogo Correia e Pedro Tavares são dois sacerdotes do Patriarcado de Lisboa que foram a Roma “agradecer o pontificado” e a “importância” de Bento XVI na “história e vocação” de cada um. A participação na Missa exequial do Papa Emérito foi marcante. “Rezava-se em todas as línguas pelo Papa falecido”, garantem.

 

“Uma peregrinação de gratidão”. Foi desta forma que o padre Diogo Correia viveu os dias passados em Roma, para participar na Missa exequial do Papa Emérito. “Fui a Roma muito com o sentido de agradecer o pontificado de Bento XVI, agradecer o dom para a minha vida, para a minha vida de fé católica e, muito particularmente, para a minha vocação, para os anos no seminário e para o meu sacerdócio. Foi um Papa que me acompanhou muito, no meu percurso”, explica o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Ordenado em 2013, o padre Diogo sublinha que se quis “despedir de Bento XVI em Roma” e, da celebração exequial na Praça de São Pedro, destaca “a presença massiva de padres jovens”. “Isso demonstra que Bento XVI foi um Papa que marcou verdadeiramente uma geração. E continua a marcar, pelo seu testemunho, pela limpidez e pela clareza da sua doutrina. Estavam também muitos seminaristas, pelo que se percebe que é alguém que marca essas novas gerações”, assegura, reforçando que “a grande lição de Ratzinger, e depois de Bento XVI”, foi “a clareza do seu pensamento, a limpidez da sua doutrina e a maneira como ensinava a amar a teologia”. “Isso foi muito importante, foi muito determinante no meu percurso”, observa.

 

Fundamental

Hoje com 53 anos, este sacerdote diz que cresceu “com o Papa João Paulo II”, mas também “com o cardeal Ratzinger”. “Claro que João Paulo II me fez olhar para Cristo, seguir Cristo, amar Cristo, com toda a minha vida, mas esse foi também o tempo do cardeal Ratzinger e recordo um livro seu tão marcante, ‘Diálogos sobre a fé’, que me ajudou a olhar o mundo e a Igreja daquele tempo de uma forma nova”, conta.

Outro aspeto “fundamental” na sua “caminhada vocacional e no seminário” foi “o empenho do Papa Bento na restauração doutrinal e litúrgica”. “Foi muito importante para consolidar a minha caminhada entre a lex orandi e a lex credendi [em latim, «a norma da oração é a norma da fé»]. Foi uma descoberta muito bela. Portanto, este olhar a Igreja e a missão da Igreja na fidelidade à sua herança, sem roturas, sem revoluções, mas na continuidade da grande tradição da Igreja Latina”, garante.

Pároco de Peniche, o padre Diogo diz também ter sido tocado pela “dimensão da comunhão” do pontificado de Bento XVI. “Foi um Papa que procurou muito unir a Igreja. Esse sentido de buscar, com todas as forças, a unidade da Igreja, a comunhão e a paz eclesial foi algo que me marcou muito. Aliás, é um tema decisivo e atual porque hoje falamos muito da importância de caminhar em conjunto e claro que só quando se procura e vive esta comunhão é que é possível caminhar em conjunto”, alerta.

Em setembro de 2014, Bento XVI, já Papa Emérito, recebeu no Mosteiro ‘Mater Ecclesiae’ um grupo de padres de Lisboa e de outras dioceses, onde se incluía o padre Diogo Correia, que queria “agradecer pessoalmente” a importância do Papa alemão na “caminhada vocacional e sacerdotal” de cada um. “Foi um momento muito belo, de comunhão, de gratidão”, recorda.

 

Agradecer presencialmente

Ordenado em 2017, o padre Pedro Tavares participou também na Missa exequial do Papa Emérito devido “à importância” que a figura de Bento XVI teve na sua “história vocacional”. “Era muito claro que tinha de ir a Roma agradecer, presencialmente, diante dos restos mortais do Papa, pelo facto de ele ter sido instrumento de Deus para mim e para a minha vocação”, conta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o agora pároco do Bombarral e da Roliça, recordando “o impacto” da visita de Bento XVI a Portugal, em maio de 2010. “Eu era um rapaz de 18 anos, que estava a concluir o 12.º Ano, e lembro-me que foi profundamente transformador o último parágrafo da homilia do Papa Bento na Missa no Terreiro do Paço, em que convida os jovens a seguir Jesus, porque só seguindo Jesus se encontra o verdadeiro sentido da vida, a alegria verdadeira e duradoura. Senti que estas palavras eram especialmente para mim, porque eu precisava de as ouvir e precisava de as absorver”, frisa o padre Pedro, lembrando que, nessa altura, “estava em discernimento vocacional” há meio ano.

Este jovem sacerdote, de 30 anos, destaca, por isso, a “ligação afetiva e vocacional” que tinha a Bento XVI. “Foi o primeiro Papa que eu tive a oportunidade de ver, de escutar, assim presencialmente; foi o primeiro Papa com quem eu participei numa Jornada Mundial da Juventude, em Madrid 2011; e foi o Papa que me acompanhou nos inícios do seminário. Portanto, era impossível não estar em Roma nesse dia”, explica.

 

O silêncio

O padre Pedro Tavares chegou à cidade eterna na terça-feira à noite, dia 3 de janeiro. Na quarta-feira, visitou os restos mortais do Papa Emérito, na Basílica de São Pedro, e na quinta-feira, 5 de janeiro, participou na celebração exequial. “Foi incrível”, manifesta. “Em outras celebrações papais, há sempre um frenesim, em que se grita pelo Papa… ali, não. Foi tudo muito mais sereno, muito mais orante, muito mais silencioso”, testemunha. “Aquilo que senti foi que se rezava em todas as línguas pelo Papa falecido. Foi uma experiência eclesial tão bonita, com este sentido de uma grande gratidão ao Papa. Foi uma experiência que me comoveu bastante, porque era a Igreja ali, na sua manifestação mais profunda e mais genuína, grata por aquilo que foi a vida e o pontificado de Bento XVI”, conta.

Sobre os quase oito anos de papado, entre 2005 e 2013, o padre Pedro Tavares considera que “veio entrelaçar, de forma fantástica e única, a razão e a fé”. “Vem colocar estas duas realidades de mãos dadas, atrevia-me eu a dizer como se calhar nunca nenhum Papa mais próximo de nós teve oportunidade de o fazer. Bento XVI, para mim, fica marcado pela forma maravilhosa como escreveu, como pensou a fé, como dialogou nestas duas vertentes e como, de facto, foi, para a Igreja de hoje, um sustento, um alicerce profundo para aquilo que é a Verdade da fé, na qual a Igreja tem que viver, tem que acreditar e tem que se mexer”, resume o sacerdote de Lisboa que participou, no Vaticano, na Missa exequial do Papa Emérito Bento XVI.

 

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Marcado pela “atenção ao pormenor”

O padre Ricardo Figueiredo terá sido dos últimos padres do Patriarcado de Lisboa a estar fisicamente com Bento XVI. Foi no verão de 2015. “A Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra, da qual sou irmão, pediu uma audiência ao Papa Emérito e fui acompanhar. Sendo eu o único padre do grupo, e tão novo – tinha sido ordenado uns meses antes –, Bento XVI teve uma grande proximidade para comigo, quis saber quando tinha sido ordenado…”, partilha, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Na época, então com 25 anos, o sacerdote era vigário paroquial de Peniche. “Lembro-me de ele dizer, com grande proximidade e ternura, que enviava uma saudação muito especial para as pessoas de Peniche, para os meus paroquianos. Foi o principal sinal que ficou do Papa Bento, esta preocupação, esta atenção ao pormenor, este carinho especial a cada pessoa. Bento XVI era um homem tímido diante das massas, mas pude experimentar como era muito atento à pessoa no particular, no concreto”, testemunha.

João Paulo II era “uma grande figura” e foi o Papa da sua “juventude”, mas o caminho de discernimento e formação vocacional foi feito durante o pontificado do Papa alemão. “O Papa Bento acompanhou-me dos meus 15 aos 23 anos. Foi um percurso bonito e desafiante conhecer outro Papa que não João Paulo II”, refere, sublinhando que Bento XVI foi um homem que, “profundamente, conduziu a Cristo”. “Conduziu a Cristo através da intelectualidade, através da cultura, através da teologia – aliás, este gosto pela teologia que eu vivo hoje foi muito provocado por ele”, garante. “Ele conseguia fazer com que a teologia não fosse algo abstrato, mas muito concreto para a nossa vida, sempre nesta busca de descoberta da Verdade”, acrescenta.

Hoje pároco de Óbidos, Gaeiras e A-dos-Negros, o padre Ricardo Figueiredo considera que Portugal tem “uma dívida imensa” para com o Papa Ratzinger – “que foi quem fez a interpretação teológica da Mensagem de Fátima” –, e convida “toda a sociedade” a ler, ou reler, os textos de Bento XVI. “O Papa Bento deixa um património à sociedade inestimável, de uma riqueza inestimável para aquilo que é a construção de uma sociedade, e, para os cristãos, nesta descoberta de Cristo, descoberta da Verdade e sobretudo esta sua tríade ‘fé, esperança e caridade’, que foi um grande apontar para o essencial”, considera. 

 

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‘Encontros sobre Bento XVI’, em Santa Joana, Princesa

A paróquia de Santa Joana, Princesa, em Lisboa, vai promover os ‘Encontros sobre Bento XVI’, que vão decorrer entre janeiro e março, sempre às 21h15. O primeiro, nesta terça-feira, 17 de janeiro, tem como orador o padre Ricardo Figueiredo e será apresentada ‘A Biografia de Bento XVI’. A 7 de fevereiro, o padre Duarte da Cunha vai explicar ‘Algumas notas da teologia de Bento XVI’ e, no dia 28 do mesmo mês, o economista João César das Neves aborda ‘O Pontificado de Bento XVI’. Esta iniciativa termina no dia 21 de março, com a jornalista Aura Miguel a falar sobre ‘Fátima e Bento XVI’.

Os ‘Encontros sobre Bento XVI’ vão ter lugar no auditório desta paróquia da cidade e têm transmissão no YouTube (www.youtube.com/@paroquiadesantajoanaprince3040).

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Vatican Media e DR
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