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Ameaça do terrorismo não atemoriza seminaristas de Moçambique
“A nossa fé é inabalável”
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São apenas 25, estão ainda no seminário propedêutico, mas já sabem o que é a ameaça do terrorismo. Ainda em Outubro, a região onde se encontram, em Montepuez, foi palco de um enorme ataque por homens armados que reivindicam pertencer ao grupo jihadista Estado Islâmico. Mas os jovens seminaristas dizem-se prontos para prosseguir o seu caminho. E agradecem a ajuda dos benfeitores da Fundação AIS. Sem isso, nada seria possível…

 

Quinta-feira, dia 20 de Outubro de 2022. Durante cerca de três horas, soldados moçambicanos combateram os terroristas que, nessa madrugada, atacaram o acampamento da Gemrock Ruby Mine, a empresa que explora as minas de rubi, consideradas das mais importantes em todo o mundo e situadas no distrito de Montepuez.  Foi uma verdadeira batalha. Os terroristas atacaram de madrugada e tiveram tempo para destruir praticamente tudo o que por ali se encontrava. Equipamentos, casas, veículos. Quase tudo foi queimado. Consequência imediata do ataque, a empresa foi forçada a suspender as operações. A pouco mais de vinte quilómetros de distância, muito próximo da vila de Montepuez, fica o seminário propedêutico de São Paulo. Pertence à Diocese de Pemba, em Cabo Delgado, a região que mais tem sido fustigada pelos ataques terroristas que desde Outubro de 2017 já provocaram mais de 4 mil mortos e cerca de um milhão de deslocados.

 

Servir os oprimidos

Este é um seminário muito especial. Junto ao velho e depauperado edifício que acolhe os jovens estudantes está a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. É um dos mais importantes santuários marianos de Moçambique. Para os vinte e cinco futuros sacerdotes que ali estudam, há um sentimento especial. A sombra protectora da Mãe de Deus afasta o medo, dilui as incertezas e funciona como uma vitamina espiritual. Guilherme Adriano é um destes jovens seminaristas. Ele fala com desenvoltura e assume que os tempos não estão fáceis. “Estamos a passar por momentos muito difíceis por causa do terrorismo na nossa província e é muito difícil estar aqui, mas a nossa fé é inabalável em querer servir a Igreja e o povo de Deus.” Adriano tem vinte anos e sabe, por experiência própria, o que o terrorismo tem causado de sofrimento. A sua própria família teve de fugir por causa dos ataques e hoje pais e irmãos fazem parte do gigantesco número dos deslocados, das vítimas do terrorismo. Mas isso não faz diminuir a sua vocação. Pelo contrário. “Quero cada vez mais me doar para poder servir os oprimidos, poder falar em nome daqueles que sofrem…” A fé, que o levou até ao seminário e que o levará, como sonha, até ao sacerdócio, não lhe dá descanso nem lhe permite a timidez ou a fraqueza. “Melhores dias estão para vir”, diz, sorrindo.

 

Chamamento de Deus

Guilherme sabe que os seus estudos só são possíveis porque há uma mão invisível, chamada solidariedade, que ajuda a financiar a igreja em Moçambique, os seminários e o trabalho dos sacerdotes e das religiosas. Ele sabe e agradece.  “Apesar dessas dificuldades, encontramos no fundo do túnel a esperança, pois sabemos que os nossos irmãos da Fundação AIS nos ajudam, sabemos que eles nos têm ajudado com materiais, com obras e com tudo o mais. Queremos endereçar os nossos agradecimentos a esses nossos irmãos que sem nos terem conhecido nos ajudam tanto. Muito obrigado!”  Pedro Mariano é mais velho. Já tem 21 anos e garante que também quer ser padre pois descobriu esse é o desejo que Deus tem para ele. “Mesmo nas situações difíceis que estamos a viver aqui, eu quero mesmo responder a esse chamamento de Deus”, diz. Não é uma vida fácil o que espera os seminaristas em Montepuez. Todos eles estão cientes das dificuldades e todos sabem também que a ajuda que chega de fora, de países bem longínquos como Portugal, é muito importante para que o sonho do sacerdócio ganhe asas. “Agradecemos aos benfeitores da Fundação AIS que, mesmo não nos conhecendo directamente, fazem todos os esforços para poderem nos ajudar parta que isso seja possível. Muito obrigado!”, diz Mariano.

 

Rezar pelos benfeitores

O actual reitor do Seminário, padre Dinis Alexandre Gabriel, tenta adocicar as dificuldades como se isso ajudasse a resolver os problemas. “O que nos apoquenta é termos infraestruturas não muito boas, que não acolhem muito bem os nossos jovens e também temos a dificuldade de viaturas para as questões pastorais, para as deslocações.” Ou seja, faltam veículos para o transporte de padres, irmãs e seminaristas, e o edifício precisa de obras. A diocese de Pemba é muito pobre, tal como Moçambique. Sem recursos para fazer face a todas estas urgências, é preciso contar com a solidariedade de benfeitores e amigos. E a Fundação AIS tem desempenhado um papel essencial no apoio à vida da Igreja nesta região tão fustigada pelo terrorismo.  “O nosso seminário subsiste graças aos apoios que recebemos dos benfeitores”, diz o padre Dinis. “Em todas as celebrações rezamos pelos nossos benfeitores e estamos conscientes de que são eles que nos têm ajudado a realizar a nossa missão”, acrescenta. Uma ajuda preciosa que seguramente não escapa ao olhar bondoso, ao amparo, da Mãe de Deus.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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