
São Francisco de Assis fez da itinerância uma das marcas da sua espiritualidade. Avesso ao estudo, pois considerava que este desviava os frades da oração, do amor a Deus e ao próximo, privilegiava o ir ao encontro dos mais pequeninos, dos pobres, dos que viviam, devido à doença, como por exemplo a lepra, no desalento e na solidão triste e sem horizonte. Esse ir ao encontro significa sair do Convento, pôr-se a caminho, daí a itinerância, que visa encontrar o outro para se poder “caminhar juntos”, partilhando alegrias e tristezas. São Francisco promovia, constantemente, a alegria inerente a ser filho de Deus e reconhecer essa pertença, vivendo na simplicidade e na pobreza evangélicas.
Santo António de Lisboa, antes de ser franciscano foi Cónego Regrante de Santo Agostinho em São Vicente de Fora e Santa Cruz de Coimbra, aí dedicou-se à oração e ao estudo da Sagrada Escritura. Era um monge que privilegiava o saber. Ao contactar com os franciscanos simples e alegres que batiam à porta do Convento a pedir esmola, António, que nessa altura se chamava Fernando, maravilhou-se com este modo de estar no mundo, simples e despreocupado, em que os frades se dedicavam ao cuidado para com o próximo, partilhando com os mais pobres o pão nosso de cada dia. Maravilhou-se e, numa decisão pouco comum na Idade Média do início do século XIII, solicitou deixar de ser Cónego Regrante de Santo Agostinho para ingressar como franciscano. Tornou-se mendicante e itinerante. Partiu com os confrades, em missão, para o Norte de África, a fim de cristianizar os mouros. Adoece e ao voltar para Portugal o barco, devido a uma tempestade, é arrastado para as costas da Sicília e dirige-se a Assis onde assiste ao Capítulo das Esteiras, onde Francisco de Assis também se encontrava. Vai, em seguida, para o norte de Itália e aí faz a experiência de ser franciscano, ou seja, na simplicidade, na partilha do pão quotidiano com os pobres, pois os franciscanos não guardavam nada para o dia seguinte, dedica-se a tarefas simples, como o cuidar dos doentes, bem como consolar e amparar espiritual e materialmente os mais pobres, indo ao seu encontro. Na oração vivia intensamente o amor a Deus, mas este amor absoluto e totalizante necessitava da mediação do amor ao próximo. Na verdade, tal como São Francisco, desejava imitar Jesus Cristo na humildade, simplicidade e capacidade de entrega, não fazendo aceção de pessoas. Nesse sentido, foi ao encontro dos ladrões, dos presos, bem como de todos aqueles que dele se abeiravam, ávidos de ouvir a sua palavra de pregador, atento à condição de cada um. Esta atenção aos mais desvalidos está patente, por exemplo, naquilo a que podemos chamar preocupação social, nomeadamente na defesa da estabilidade da família. Na época em que viveu era o homem que, pelo seu trabalho, assegurava o sustento e o bem-estar da família. Ora, quando o homem era preso por dívidas, a família via-se privada desse sustento. A prisão de um marido e pai acarretava a miséria social e económica da família. Santo António deparava-se, concretamente, com esta situação degradante de famílias que assim se viam na necessidade de, tantas vezes, mendigar, sendo lançadas para as margens da sociedade. Mas, este Santo foi um homem de ação e, nesse sentido, propôs ao município de Pádua que, aqueles homens presos devido a dívidas, desde que se comprometessem, efetivamente, a pagar essas dívidas de um modo honesto, fossem libertados ou nem chegassem a ser presos, pois assim, pelo trabalho recompunham a sua vida, saldando a pouco e pouco a dívida e preservando a família. Pádua aceitou e, deste modo, aquelas famílias que estavam condenadas a uma pobreza certa e degradante tinham a possibilidade de viver de um modo digno. Esta é, claramente, uma preocupação social de Santo António. Com o Papa Francisco podemos afirmar que estas situações concretas apontam para os que vivem nas periferias e aos quais é necessário dar a mão e com eles “caminhar juntos”. Esta é, sem dúvida, a lógica do encontro, que assinala uma abertura e disponibilidade para com o outro. São Francisco e os seus confrades, pela mendicância, iam naturalmente ao encontro dos desvalidos em geral, cuja voz não era ouvida. Santo António de Lisboa, como pregador franciscano, nunca descurou esta atitude de acolhimento, que foi tão importante na sua época, mas que hoje ainda é matricial numa sociedade que, tantas vezes, esquece aqueles que mais sofrem. São Francisco de Assis, Santo António de Lisboa, são Santos que privilegiaram esta forma de “caminhar juntos”, indo ao encontro das periferias, mas para as trazer para o centro, com Jesus Cristo no coração.
Maria de Lourdes Sirgado Ganho
Instituto Diocesano de Formação Cristã
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